Maya
Minha garganta fechou ainda mais e meus olhos embaçaram com lágrimas. Limpei a garganta e pisquei várias vezes até minha visão voltar mais ou menos ao normal. Comecei a caminhar para além da placa, procurando a porta certa.
Fazia mais de 7 anos desde que eu tinha estado aqui pela última vez e minha memória havia sido apagada em algum momento no meio disso, mas à medida que eu percorria o túnel sentia a familiaridade me tomar.
- Abrigo de cranks? - ouvi a voz de Aris ecoar alguns metros atrás de mim - Não devia ser o último lugar para usarmos como esconderijo?
- Isso aqui era um abrigo de cranks, hermano - Jorge respondeu - Era onde os outros jogavam os infectados quando eles ficavam doentes. Mas o pessoal que ainda resta na cidade perto daqui vivia com medo deles, de que eles se tornassem numerosos demais. E aí começaram a matá-los aos poucos, antes que eles os matassem. Depois disso, os próprios infectados não vinham mais pra cá quando descobriam que tinham Fulgor. Fugiam para outro lugar um pouco longe. Hoje chamam de Palácio dos Cranks. Vez por outra ainda aparece um monstro por aqui, mas a maioria deles está nos túneis subterrâneos ou no Palácio.
Eu ouvia a conversa só com metade da atenção. Passava pelo túnel encarando as portas improvisadas, me perguntando se ainda reconheceria a da minha casa. Até que a encontrei. Parei em frente a ela e ouvi os demais se aproximando devagar.
Newt chegou mais perto, segurando minha mão novamente, leve e discretamente.
- Maya - ele sussurrou.
- Era aqui - respondi. Não precisei explicar o que era “aqui”; todos entenderam.
- Podemos ir para outro lugar - o loiro continuou.
- Não - falei rapidamente - Tudo bem.
Empurrei a porta, mas ela não se moveu; estava emperrada. Minho se ofereceu para ajudar, mas neguei com um aceno de mão. Utilizei mais força e depois de algumas tentativas ela cedeu, quase quebrando. Entrei devagar, sendo seguida pelos meus amigos. Olhei ao redor e respirei fundo. O local era abafado pela falta de janelas e o ar tinha cheiro de mofo, poeira e morte.
Eu não tinha memórias do lugar propriamente dito, mas lembrava muito bem tudo o que tinha acontecido aqui anos atrás.
O cômodo não era muito grande. Não havia móveis. Lembro de termos poucas coisas na época, mas deviam ter levado depois que nos fomos. Caminhei pelo espaço que era a sala do lugar que um dia eu chamei de casa.
Ao lado da sala, havia um cômodo ainda menor, onde eu e minha mãe improvisamos uma cozinha. Um pequeno corredor levava a duas portas: uma era o banheiro e a outra direcionava ao quarto onde tudo havia acontecido.
- É melhor passar a noite aqui. Não é seguro lá fora por essas horas. Saímos assim que amanhecer para procurar os outros - comandou Jorge. Ninguém se opôs.
- Nos sentamos espalhados pela sala e apanhamos algumas latinhas de comida nas mochilas que Jorge havia nos devolvido, comendo em silêncio. Eu sentia em mim os olhares de Minho, Caçarola, Aris, Tereza e Jorge - apesar de que esse último olhava por não ter muito ideia do que estava acontecendo, já que não estava lá quando contei minha história.
Percebendo isso, Minho começou a contar resumidamente a história do nosso grupo e fez algumas perguntas a Jorge sobre ele e Brenda. Eles falavam baixo e eu não fiz questão de tentar ouvir. Dentro de mim, alguns sentimentos se digladiavam entre si.
Aquele lugar era, ao mesmo tempo, o último onde eu queria estar, mas também de onde eu não queria mais sair. Aquela pequena moradia havia sido o último canto que eu havia chamado de lar. Era a última morada de uma das pessoas que eu mais amei na vida. Foi o último lugar onde me senti segura.
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The Maze Runner: Love Trials [1]
Teen Fiction"Estou no mesmo corredor de sempre. A garota está lá. Longe demais para que eu consiga tocá-la, mas perto o suficiente para que eu veja a manchinha azul em seu olho. - Você devia ter corrido. Por que não correu? - ela sussurra - Eu não consigo ir...