Capítulo 21: O acidente

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Newt

Estávamos caminhando havia horas. Logo depois que Tereza nos chamou no quarto, nos juntamos aos demais e, após uma rápida refeição com as latas de comida velha que ainda tínhamos, pegamos nossas coisas e saímos da antiga casa de Maya.

Antes de sairmos, ela se demorou alguns segundos olhando os cômodos empoeirados, como se fizesse uma última tentativa de decorar os seus detalhes. Em seguida, ela atravessou a porta e não olhou mais pra trás.

Depois de dias caminhando em meio ao deserto, a mudança de cenário foi bem-vinda. Andamos por algum tempo ainda pelo complexo que um dia havia abrigado tantos cranks, até encontrarmos uma saída para o campo aberto. Agora, estávamos em meio às ruínas de uma cidade. Algo muito parecido com o que encontramos dias atrás, ao deixar o shopping onde havíamos encontrado as garotas.

E, falando em garotas, a que vinha ocupando meus pensamentos andava resignadamente à minha frente, como se só fosse parar de andar quando encontrássemos Thomas, Brenda e Maddie.

Eu queria andar ao seu lado; mais do que tudo, queria fazer isso segurando sua mão. Mas ela parecia querer espaço para estar só com os seus pensamentos - que eu sabia que se voltavam unicamente para Madeline - e respeitei isso. Enquanto andava e olhava para ela de trás, pensei em tudo o que havia acontecido de ontem pra hoje, desde o momento que Maya começou a revelar seus segredos quando ainda éramos prisioneiros de Jorge, o que parecia infinitamente distante agora.

Nas últimas 24h, eu havia descoberto um mundo de coisas sobre aquela garota que tanto me fascinava, tanto coisas boas quanto coisas terríveis. Em poucos anos, a vida dela havia ido do céu ao inferno: ela perdera as duas pessoas mais importantes de sua vida de maneiras brutais e o maior culpado disso era o seu próprio pai, quem deveria protegê-la de todo o mal do mundo. Ainda por cima, seu pai era o nosso maior inimigo, que nos caçava incansavelmente e se aproximava a cada segundo.

Mas nada disso importava. Não quando eu olhava pra ela. Não quando a manchinha azul em sua íris me convidava a me perder dentro da profundidade dos seus olhos. Não quando um simples beijo dela me fazia perder a cabeça.

Eu me lembrava de conhecer Maya há apenas alguns dias, mas tudo indicava que já havíamos vivido muito mais do que a minha memória me permitia saber.

Suspirei frustrado. A perda das minhas memórias era algo que há muito me incomodava. Às vezes pode ser muito difícil saber quem se é sem lembranças para te indicar algo. Desde que eu aparecera no labirinto, havia criado muitas recordações, algumas muito boas até, mas nem isso apagava o fato de que o CRUEL roubou toda uma vida de mim quando mexeu no meu cérebro.

Toda uma vida com os meus amigos - tanto os que estavam comigo na clareira quanto outros até, talvez. Uma vida com uma família, se é que eu tinha alguma antes de tudo isso. Uma vida com Maya, ao que tudo indicava.

Eu tinha certeza que no meio de tudo que foi apagado, muita coisa ruim também desvaneceu. Em alguns momentos, eu pensava que era uma coisa boa não me lembrar de todo o mal que havia me ocorrido. E se eu me lembrasse de tudo somente para descobrir que minha vida tinha sido cheia de miséria e perdas, como a da garota à minha frente? E se eu tivesse sido mais triste do que feliz?

Sacudi levemente a cabeça diante desse pensamento. Não. Por mais dor que minha história anterior me trouxesse, saber era melhor do que ficar no escuro.

E eu duvidava que um dia tivesse sido mais triste do que feliz. Era impossível pensar nisso quando eu imaginava o quanto deveria ter vivido com a garota que caminhava à minha frente. Era impossível pensar nisso quando eu pensava que poderia tê-la amado.

The Maze Runner: Love Trials [1]Onde histórias criam vida. Descubra agora