Maya
Abri os olhos lentamente, sentindo imediatamente uma dor lancinante por todo o meu o corpo, especialmente na cabeça. Levei alguns segundos para me lembrar do que havia acontecido. Minha cabeça parecia que ia explodir depois de todas as pancadas que levei na briga com os capangas de Jorge.
E, em seguida, percebi que a posição em que estava não ajudava em nada: estava pendurada pelos pés, de cabeça para baixo. A alguns metros, nos circulando, havia chão, mas estava longe. Abaixo de nós, a descida se estendia por alguns andares até o chão. A queda não parecia agradável.
O sangue desceu todo para minha cabeça e isso fazia a dor aumentar de uma maneira que eu não conseguia nem raciocinar. Olhei ao redor e percebi que todos os meus amigos estavam exatamente na mesma situação ao meu redor.
- Gente... - sussurrei, me arrependendo no mesmo instante. Até falar doía.
- Maya! - Maddie falou esperançosa - Eu tava preocupada. Você não acordava de jeito nenhum.
- O que tá acontecendo? Por que estamos aqui?
- Ah, estamos provando em primeira mão o quão bom diplomata Thomas é - Minho comentou irônico.
Nesse momento, ouvimos alguém se aproximar
- Acho que é o Jorge - Thomas disse em algum lugar atrás de mim - Vou tentar falar com ele de novo.
- Porque isso deu tão certo da última vez - Caçarola falou irritado.
- Estão gostando da vista? - Jorge perguntou sarcástico, enquanto se aproximava da borda perto de nós.
- O que você quer? - Thomas perguntou com raiva.
- É essa a questão. Os meus homens querem vendê-los de volta ao CRUEL. A vida os ensinou a pensar pequeno, receio. Mas eu não sou assim. E algo me dizem que você também não - ele falava diretamente com Thomas.
- É o sangue se acumulando na minha cabeça ou esse trolho não fala coisa com coisa? - Minho resmungou.
Eu ri baixinho, parando logo em seguida quando minha cabeça doeu.
- Me digam o que sabem sobre o Braço Direito - Jorge continuou como se não tivesse sido interrompido.
- Você não disse que eles eram apenas uma lenda? - Newt perguntou.
- Mas eu acredito em fantasmas - o homem respondeu dando um meio sorriso - Especialmente quando os escuto tagarelando nas ondas de rádio.
Então era isso que eu havia ouvido quando encontramos Jorge pela primeira vez. As vozes misturadas com a estática.
- Contem-me o que sabem e talvez façamos um trato - ele disse com um tom levemente ameaçador, aproximando-se de uma alavanca.
A princípio eu não entendi o que aquilo fazia. Mas quando vi que a corda que se ligava à alavanca também parecia se ligar aos nossos pés amarrados, senti um frio na barriga.
- Nós não sabemos de muita coisa - respondi alarmada.
Tentei não soar sarcástica ou inconsequente; estava falando a verdade. Mas isso não pareceu adiantar. Jorge nos olhou com raiva e empurrou a alavanca por alguns segundos. Começamos a despencar e um grito me escapou pela garganta, assim como os demais. Tão rápido quanto tinha começado, a descida parou.
- Está bem! - Thomas gritou, tentando acalmar Jorge - Eles se escondem nas montanhas. Eles atacaram o CRUEL e estão com vários adolescentes sob custódia. Só sabemos isso.
A expressão de Jorge mudou. De repente, ele parecia acreditar na gente, ou pelo menos parecia querer. Ele se aproximou um pouco mais da borda, a boca se abrindo para falar alguma coisa, mas uma voz o interrompeu.
- Jorge - era um dos capangas que haviam nos pegado - O que está acontecendo?
- Nada - Jorge desconversou - Só estou conhecendo meus novos amigos um pouco melhor. Mas já acabamos.
Dizendo isso, ele lançou um olhar sugestivo a Thomas. Era impressão minha ou ele planejava mudar de lado? Era óbvio que, se fosse o caso, Jorge estaria fazendo isso pelos próprios interesses - ele havia deixado bem claro que sempre buscava ganhar algo com tudo desde o momento que nos conhecemos. Mas se sua mudança de atitude significasse nos tirar dali e nos permitir seguir até o Braço Direito, eu não me importava muito com suas motivações.
Jorge fez menção de se afastar, mas Thomas o chamou:
- Espera! Não vai nos ajudar?
- Não se preocupe, hermano - o homem respondeu tranquilamente - Levaremos vocês para o local de onde vieram.
E lançou um olhar ao capanga que o aguardava. O homem parecia alarmado com a pergunta de Thomas, mas logo pareceu mais tranquilo com a resposta de seu chefe.
Jorge se afastou primeiro, desaparecendo da minha visão alguns segundos depois. Seu capanga nos olhou pela última vez, ainda um pouco desconfiado, e por fim nos deixou sozinhos novamente.
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Depois que Jorge se foi, ficamos mais algumas horas pendurados. Eu apagava e acordava ocasionalmente, perdendo completamente a noção do tempo. Quando meus olhos estavam fechados, alguns flashs apareciam. Eu e Newt nos armários. A garotinha. Eu e Newt no refeitório, distantes. A mulher. Eu e Newt em um corredor, chorando. Janson. A caixa. E por fim, a Clareira destruída.
Depois de um tempo, os apagões pararam. Eu estava perdida em pensamentos, imaginando se um dia recuperaria minha memória completamente. Também me perguntei se queria recuperá-la por inteiro. O que eu havia descoberto há alguns dias me provou que nem sempre saber de onde vem é algo positivo.
Durante o tempo que se passou, não havia muito o que fazer, então basicamente ficamos pendurados, de vez em quando virando o suficiente para ver uns aos outros.
Até que, em dado momento, Minho resolveu que era hora de começar a falar.
- Olha, já que nossas opções no momento são limitadas, eu vou perguntar o que todo mundo quer saber, mas ninguém tem coragem de perguntar. - ele então se moveu de maneira a ficar mais ou menos de frente pra mim - Maya... o que é toda essa história com o Janson?
- Minho - Newt falou em tom de alerta.
- Não, cara! Todos nós odiamos o trolho, mas tem algo a mais nessa história. Tereza podia estar meio louca naquela discussão - ouvi a garota bufar baixinho em resposta em algum lugar à minha direita - mas ela tava certa numa coisa: nós precisamos saber. Especialmente se isso afetar o nosso plano de ir para o mais longe possível daquele desgraçado.
- Isso não é da sua conta - Newt continuou, um pouco mais irritado - Ela não tem que...
- Newt - falei o interrompendo - ele tem razão. Talvez vocês devam saber.
Eu não queria falar. A razão por trás do meu ódio contra Janson era a ferida mais dolorosa que eu carregava. Há pouco mais de uma semana, eu não sabia porque o odiava ou sequer quem ele era. Mas no momento que as memórias voltaram, o antigo ódio me atingiu com toda a força e já não parecia mais que um dia eu havia esquecido que queria matá-lo.
Eu não queria falar, mas sabia que precisava. Por mais que eu não confiasse em todos ali presentes, eu sabia que não podia esconder isso por muito mais tempo; pelo menos não se queria continuar seguindo com eles. Então, mesmo a contragosto, me preparei para revirar a parte do meu passado que me assombrava.
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E aí?? O que acham que vem por aí?
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The Maze Runner: Love Trials [1]
Teen Fiction"Estou no mesmo corredor de sempre. A garota está lá. Longe demais para que eu consiga tocá-la, mas perto o suficiente para que eu veja a manchinha azul em seu olho. - Você devia ter corrido. Por que não correu? - ela sussurra - Eu não consigo ir...