03. Primeiro dia de aula.

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Sabe o desespero que eu senti pela manhã? Ele desapareceu de repente trazendo de volta a paz que eu precisava.

Andei a universidade inteira na esperança de tentar conhecer tudo antes do horário anunciando a entrada.

O último lugar que eu precisava visitar era o campo de futebol e as arquibancadas. Não era tão difícil de achá-los.

No enorme campo verde, alguns meninos discutiam entre si algo que eu não consegui compreender, e do outro lado, algumas líderes de torcida remexiam seus corpos de maneira engraçada.

— Esse lugar é incrível. — Sem perceber, deixei escapar um pequeno sorriso. Meu primeiro sorriso verdadeiro, depois de anos.

— Você é nova por aqui? — Tomei um susto ao sentir alguém falar bem perto do meu ouvido, e por falta de atenção, acabei tropeçando em um dos bancos da arquibancada e caindo com tudo no chão.

— Você está maluco? — Levantei sentindo meu sangue ferver. — Como pôde me assustar dessa maneira? — Comecei a debater com o menino quando seus olhos encontraram os meus, me trazendo mais recordações.

Aquele olhar era familiar, aquele nariz me lembrava alguém, aquele sorriso... era inconfundível.
Luke...

Sete anos atrás...

— Luke, por favor... me ajuda a esquecer tudo isso... — Eu implova para o menino em minha frente. — Por favor afasta de mim essa dor.

Eu não sei se sou capaz de fazer isso... — O garoto me abraçou fortemente enquanto lágrimas ainda caíam de meus olhos. — Mas eu vou te ajudar a ficar bem. Você vai melhorar! Estou aqui para te ajudar a afastar essa dor. — Luke beijou minha cabeça e acariciou meus cabelos na tentativa de dizer que estava comigo.

...

— Hannah? — O garoto pareceu tão surpreso quanto eu. — É você?

— Quem é Hannah? — Por impulso, acabei fingindo que não reconheci o garoto. Tudo que eu menos precisava nesse momento, era ter o passado de volta em minha vida.

Por muito tempo, fugi do passado e tentei com todas as forças esquecê-lo. Mas em um único dia, que nem havia começado direito, milhões de lembranças atingiram minha cabeça como lanças impossíveis de desviar.

— Sou eu Hannah, o Luke! — Ele sorriu. O sorriso mais lindo que eu já vi. O sorriso que por muito tempo, confortou meu coração, mas agora era o motivo da minha destruição.

— Eu não te conheço. Provavelmente você está me confundindo com alguém. — Declarei, e quando eu passei pelo garoto para ir embora, ele agarrou meu braço, me fazendo virar.

Por uns instantes, ele apenas me encarou provavelmente tentando descobrir se o que eu dizia era verdade.

Falhou. Eu era ótima mentindo.

— Ah sim... Desculpe. Achei que você era uma amiga do passado... — O sorriso alegre que antes tinha em seu rosto, deu lugar a frustração. — Vocês são bem parecidas. Os cabelos longos e ondulados, os olhos castanhos bem claros, o nariz de batata. — Apertou o meu nariz com seu sorriso de volta no rosto. — Os lábios rosados... — O menino olhou para os meus lábios por um longo tempo me deixando extremamente constrangida. Até que desviou o olhar para o campo de futebol onde viu os meninos começando uma partida. — Se parecem muito. — Declarou depois de um suspiro. — Por um momento achei que tivesse encontrado ela novamente. Mas é claro que essa história de destino não existe. — Riu. — Que bobagem a minha.

Era nítida a decepção em sua voz. Cheguei a pensar na hipótese de dizer a ele quem eu era. Mas é claro que eu não faria isso. Não precisava mais de amigos do meu lado.

Me lembro de quando ele foi embora no momento mais difícil de minha vida.
No momento em que eu estava chorando, e o único amigo que eu tinha, não estava lá para secar as minhas lágrimas.

— Queria poder ter a chance de me desculpar com ela. — Começou a dizer novamente. — Cometi um grande erro no passado.

— Você acha que pedir desculpas seria suficiente? — Perguntei sentindo meu coração apertar.

— Desculpas vazias não seriam suficientes. Mas desculpas sinceras, seriam mais que suficientes. — Ele me encarou com uma expressão neutra. — As minhas desculpas são as mais sinceras. — Sorriu de lado, se virando logo depois para o campo. — Talvez eu jamais seja capaz de apagar a dor que a fiz passar. Mas talvez, eu seja capaz de fazer ela viver grandes alegrias que a faria esquecer que um dia, machuquei seu coração. Podíamos recomeçar... — Suspirou, e começou a descer as arquibancadas com um sorriso triste no rosto. — Ah, quase me esqueci! Bem vinda a universidade, sua louca por Bis. — Se virou mais uma vez para mim, e abriu um imenso sorriso apontando para o pacote de Bis em minhas mãos.

E uma memória surgiu em minha cabeça como um meteoro caindo do céu.

— Hannah! Comprei Bis para você. — Luke veio até mim com cinco pacotes de Bis nas mãos. — Comprei um de cada sabor.

— Sério?! Muito obrigada! — O Abracei fazendo ele deixar todos os pacotes caírem no chão.

— Não precisa agradecer. — Sorriu. — Sua louca por Bis.

...

— Memórias... como eu odeio vocês! — Falei, me sentando em um dos bancos da arquibancada. — Como eu odeio vocês! — Passei minhas mãos na testa, tentando afastar todos os pensamentos de minha cabeça.

Luke não é bom!

Eu repetia para mim mesma enquanto desembalava mais um Bis.

Lembro o quanto ele me machucou com a sua partida. Era como se metade de mim fosse embora para um lugar totalmente desconhecido. A única pessoa que eu acreditava fielmente que jamais me deixaria, me deixou...

O meu alarme do celular tocou anunciando que a aula estava prestes a começar. Então, peguei minha mochila que estava ao meu lado, e guardei todas as embalagens de Bis.

Corri rapidamente pelos corredores até a minha sala de aula. Eu estava cursando psicologia e me perguntava como seria uma grande psicóloga com o coração totalmente destruído e com o psicológico abalado.

Ajudar os outros com os problemas e não conseguir resolver nem metade dos seus...

Aquela foi uma manhã bem diferenciada para mim. Como era meu primeiro ano em uma universidade, foi interessante saber como tudo funcionava.

Os professores foram bem legais, os alunos foram bem recepcionistas e a sala de aula era um ambiente bem agradável.

Era estranho saber que você não precisava pedir para beber água ou ir ao banheiro, mas isso até que era interessante.

Tudo estava indo muito bem até eu resolver correr pelos corredores por notar um mural imenso com diversos papéis pendurados e esbarrar em uma pessoa.

— Segunda vez no dia? Acho que estou começando a acreditar em destino. — O menino mais uma vez estava em minha frente com o seu sorriso encantador.

Ele esticou suas mãos na esperança de eu pegá-las para me levantar, mas, acabei me levantando por conta própria.

Sem dizer mais nada, continuei o meu caminho tentando acreditar que isso não aconteceu.

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