09. Alívio.

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— Não importa o quanto você cresça. —  Ele começou a dizer ao perceber o quanto eu estava constrangida. — Você sempre vai amar Bis.

— É muito bom. — Foquei na estrada lutando contra a vontade de comer mais um.

Ele pegou mais uma vez o pacote, e desembalou mais um Bis.

— Aqui. — Estendeu, parecendo ler a minha mente.

Abri mais uma vez a boca e mastiguei o Bis, me esforçando para não corar e levar aquela situação como se fosse normal

Me pergunto o porquê daquilo estar acontecendo. Eu não devia corar pela pessoa que me magoou.

— Temos alguns assuntos inacabados para resolver, não é? — Ele puxou um assunto depois de alguns segundos em silêncio. — Mas se você ficar fugindo de mim, acho meio difícil conseguir resolver. — Abriu um Bis e comeu.

— Você está comendo o meu Bis? — Ignorei o que ele disse e o encarei vendo ele parar de mastigar.

— Não pode? — Perguntou surpreso.

— Óbvio que não! É meu! — Peguei o pacote de sua mão, vendo ele rir logo depois.

— Mas enfim, você quer conversar sobre isso?

Eu não queria conversar sobre isso.  Era algo que ainda me machucava profundamente. E além do mais, ninguém gosta de expor seus sentimentos

— Não acho uma boa ideia. — Declarei, vendo seu sorriso desmanchar.

— Achei que podíamos... — O interrompi.

— Não fala! — Eu piscava tentando afastar os pensamentos da minha mente. — Por favor. Eu estou dirigindo e não quero chorar. — Suspirei, sendo totalmente sincera.

— Tudo bem. — Ele respondeu depois de longos segundos.

O resto do caminho foi em silêncio absoluto. Nenhum dos dois ousou dizer uma palavra.

Assim que chegamos na universidade, eu estacionei e entrei sem esperar o menino.

Infelizmente, ele segurou meu braço me fazendo virar para trás.

— Podemos conversar agora? — Perguntou e subiu no mesmo degrau que eu.

Era impressionante o quanto o menino era mais alto que eu. Isso me faz lembrar da época em que eu era maior.

— Vamos nos atrasar Luke. — Falei, vendo ele conferir as horas.

— Faltam quinze minutos para entrarmos, dá tempo para conversar. — Suspirei passando as mãos no rosto. — Por favor Hannah.

Em um impulso, eu segurei sua mão e o puxei para o estacionamento novamente. Abri a porta do meu carro e indiquei com a cabeça para que ele entrasse.

— Pode falar. — Cruzei os braços olhando para os alunos que entravam na universidade.

— Eu quero começar pedindo desculpas. — Falou, encarando o meu rosto. — Eu sei que errei ao te deixar, eu podia ter feito diferente. Eu podia ter escolhido estar ao seu lado e...

— A culpa não é sua. — Suspirei, vendo que eu estava indo contra tudo que acreditava. — Eu te culpei por muito tempo, mas não é culpa sua. Você não teve culpa do que aconteceu. — Ele me encarava surpreso. — Seus pais se separaram e eu nem te consolei pois estava preocupada comigo mesma. Ao invés de te ajudar, eu apenas briguei com você. — Suspirei vendo que meu ódio era tanto, que era difícil aceitar aquilo.

— Então porquê você me odeia? — Perguntou, me encarando.

— Porque eu sou egoísta. — Olhei em seus olhos sentindo uma lágrima cair. — Eu sou egoísta pois queria você perto de mim. — Sequei a lágrima sentindo meu coração bater mais forte. -— Eu sou tão egoísta que queria obrigar você a fazer algo que não podia. —  Voltei meu olhar para a rua sentindo mais lágrimas descerem. — Eu sou tão egoísta, que te culpei por algo que você não podia fazer...

— Você não é egoísta. — Ele se aproximou de mim com lágrimas nos olhos. — Você só queria que eu não fosse embora. É normal Hannah. — Uma de suas mãos foram até a minha bochecha e eu recuei. — Eu só fiquei chateado pelo fato de você não falar comigo! Por que mentiu dizendo que não era você? Por mais que tenha passado sete anos, eu conheço minha melhor amiga.

— Eu não sei. Eu só estava com muito medo de viver todos os sentimentos que não superei no passado. — Olhei para o menino vendo sua expressão magoada. — Mesmo que você não tenha culpa, me magoou muito.

— Eu sei disso. — Falou em um sussurro. — Mas eu estou aqui. — Acariciou minha bochecha e dessa vez não tentei impedir o toque. — Estou aqui para consertar todos os erros do passado.

Isso não era bom, eu não podia manter coisas do passado em minha vida presente. Coisas que um dia me fizeram mal, e agora estariam de volta em minha vida.

Parte de mim estava aliviada por ouvir aquilo, outra parte, estava preocupada e com medo dos sentimentos.

— Eu fico feliz em ouvir isso. — Declarei com um pequeno sorriso, e pude ver o garoto se aproximar de mim, e depositar um beijo em minha testa.

— Eu que fico feliz. — Sorriu, abrindo a porta do carro logo em seguida. — Agora vamos para a aula antes que dê o horário. — Ele deu a volta e abriu a porta do motorista para mim. — Vem  louquinha por Bis. —  Ele estendeu sua mão para eu pegar. — Você está com carinha de choro, acho melhor lavar o rosto.

Não debati, apenas entreguei a chave do carro para ele, e fui em direção ao banheiro lavar o rosto.

Eu não sei bem o que estava sentindo naquele momento. Sabe a sensação de ter tirado um peso enorme das costas? Era exatamente isso que eu estava sentindo.

Estava me sentindo livre.

Fui até a sala de aula depois de lavar o rosto, e consegui me concentrar nas aulas sem nenhum problema.

O único problema, era o trabalho avaliativo que teríamos para a próxima semana. Eu teria que ler seis livros sobre psicologia e fazer um resumo.

Segundo o professor, eles eram ótimos para nos fazer entender melhor sobre a próxima matéria que ele passaria.

Misericórdia, me ajuda Deus.

Como as aulas haviam acabado, peguei minhas coisas e me dirigi em direção a biblioteca, onde eu pegaria os benditos livros.

— Olá, boa tarde. Poderia me dizer onde ficam esses livros? — Dei um papelzinho em suas mãos, e esperei ela me dizer. A garota era jovem e parecia uma representante.

— Nesse carrinho atrás de você. — Me virei dando de cara com os livros. — Seu professor pediu que eu separasse para os alunos. — Ela sorriu conferindo algo no computador. — Qual é o seu nome?

— Me chamo Hannah Brown e estou no primeiro semestre de psicologia. — Suspirei ao ver o tamanho de cada livro.

— Obrigada Hannha. Pode levar os livros. — Ela sorriu amigável e eu assenti.

Não me senti muito animada para lê-los, mas o que eu não faço para me formar, não é mesmo?

— Demorou muito! — Luke reclamou ao me ver carregando os livros até o carro.

— Por que você não foi embora? Euhein! — Murmurei jogando os livros no banco detrás.

— Meu amor, você deixou a chave do seu carro comigo! — Ele colocou a mão na cintura, indignado.

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