25. Dizer uma última vez...

116 30 8
                                    

Assim que Henry entrou pela porta do carro, começou a falar como a tia apareceu.

— Eu estava jogando no vídeo game em chamada com a Luna, foi quando alguém tocou a campainha e eu levantei irritado porque pensei que era você, pois você tem a chave e fica me obrigando a levantar e abrir a porta.

— Tá tá, mas o que aconteceu depois? — Perguntei.

— Acalme-se eu sou um cara muito detalhista. — Ele arqueou uma sobrancelha, o que me fez revirar os olhos. — Eu abri a porta e notei a minha tia ali, parada. Ela no início ficou parada me encarando, mas depois ela sorriu e começou a chorar. Não entendi muito bem aquilo. — O menino apoiou sua cabeça no vidro da janela e suspirou. — Fiquei com medo dela me levar por pensar que você não estava cuidando de mim direto. Pois assim que ela notou que eu estava sozinho, logo perguntou que tipo de irmã você era.

— Ela não pode fazer isso. Eu lutei muito para conseguir a sua guarda, ela não pode tirar tão fácil assim. — Declarei me lembrando o quanto foi difícil conseguir a guarda de Henry. Porque segundo o estatuto da criança e do adolescente, irmãos não podem adotar irmãos. Eu precisei requerer a concessão da guarda e também precisei de um bom advogado. Foi muita burocracia, mas no final, saiu tudo como planejado.

Assim que eu estacionei em frente à casa de Luke, todos nós saímos, em direção a porta de entrada. Henry mudou sua expressão assim que notou Luna acenar para ele da sua janela. Luke sorriu ao ver sua mãe abrir a porta para o menino.

— Vieram me visitar, é? — Ela perguntou, animada.

— Na verdade só viemos pegar o tocador de DVD. — Luke entrou indo em direção a sala. Isso fez o sorriso animado de sua mãe, murchar.

— Estou feliz em te ver. — Antes de passar pela porta, abracei a mulher depositando um rápido beijo em sua bochecha.

Isso a fez voltar a sorrir.

Luke começou a retirar um monte de cabos quando eu toquei em sua mão e neguei com a cabeça. Seja lá o que estivesse nesses DVDs, eu tinha que assistir o mais rápido possível. Ou eu acabava logo com aquilo, ou aquilo acabava comigo.

— Vamos assistir aqui. — Tomei a frente do menino, e liguei o aparelho colocando um dos CDs. — Pode chamar todos, por favor? Acho que será menos dolorido assistir com todos.

Luke sorriu, dando um pequeno beijo na minha testa, um gesto que me fez sorrir involuntariamente.

Um a um se sentou no sofá olhando para tela da televisão. Alice me olhou assim que eu sentei ao seu lado. Ela olhava de um jeito piedoso, já sabia o que se tratava quando leu um dos DVDs em minhas mãos. Era como se eu pudesse ouvir suas palavras dizendo "Você não precisa fazer isso".

Mas eu preciso, eu preciso enfrentar tudo isso. Eu não sei se sou capaz de enfrentar tudo isso, mas eu necessito.

— Que filme vamos assistir? — Henry perguntou se sentando ao meu lado com suas pernas cruzadas. — Eu espero que não seja triste. — Meu olhar focou no menino ao meu lado. Ele não tinha a mínima noção do que estava prestes a ver. Não tinha noção nem de como os pais haviam morrido. Porque eu nunca tive a coragem de conversar sobre esse assunto. E agora, ali naquele exato momento, todas as informações chegariam aos seus ouvidos.

— Henry, antes de assistir... — Me virei para ele, vendo a expressão de despreocupado em seus olhos. — Eu queria dizer que você vai descobrir um pouco sobre o seu passado. — Percebi a sua expressão mudar a partir do momento que eu toquei no passado. O menino rapidamente ajeitou sua coluna, e seu olhar voltaram para a tela da televisão sem dizer uma palavra.

Luke despausou o vídeo fazendo uma mulher de longos cabelos negros surgir com um sorriso na tela.

Oii meus filhos!! Imagino que estejam enormes quando assistirem esse vídeo! Bom, resolvi começar a gravar para guardar de recordação o quanto você são bagunceiros! — A câmera virou ao contrário dando a visão para a minha tia que segurava um bebê, e a mim... o velho eu... — Sua tia não aguenta mais vocês! — A mulher soltou uma risada alta que provocou um grande tremor em meu corpo. — um Oi para os seus sobrinhos do futuro! — Minha tia acenou com um sorriso largo e alegre nos lábios. Minha mãe parecia tão feliz... — Hoje Henry está completando um mês de vida! Puxa como o tempo passa rápido... Quando eu menos perceber, já estarei levando o meu filho para a faculdade. — Observei Henry atentamente. O menino estava com a expressão neutra, ele não parecia querer demonstrar qualquer emoção e eu não tinha a mínima noção do que se passava em sua cabeça. Eu não sabia se naquele momento ele me odiava por nunca ter falado nada, ou se sentia triste por saber que jamais conheceria a mulher. Talvez ele estivesse sentindo tudo ao mesmo tempo, assim como eu...

O que doeu mais daquela frase, foi o fato de que a mãe não chegou nem a ver o filho entrar para a escola...

Filhinha estou tão orgulhosa de você! Sabia que você é uma das alunas mais inteligentes da sua sala?? — A mulher mostrou o eu criança. Mostrou a menina de 7 anos que não tinha ideia das coisas que ainda passaria. — Tenho certeza que se tornou uma grande médica! Ou então uma advogada bem sucedida, ou até mesmo uma empresária! Tenho tanta sorte de ter tido uma menina tão talentosa e amável. — Eu senti uma lágrima descer dos meus olhos no exato momento em que a mulher passou a mão nos longos fios da criança.

Mãe eu queria tanto você de volta.

Eu queria tanto que passasse as mãos em meus cabelos negros assim como os seus. Queria tanto que beijasse a minha testa e cuidasse de mim. Queria que me deixasse deitar em seu colo e contar como foi o meu dia, assim como costumávamos fazer depois das minhas aulas.

Queria tanto, pelo menos uma última vez, dizer a você o quanto sinto a sua falta.

O Amor Pode CurarOnde histórias criam vida. Descubra agora