30. Choro tão silencioso quanto sua dor.

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Em questão de segundos, todos estavam na sala esperando para sair de casa. Jack e Alice haviam concordado de ir conosco dar um passeio e ajudar no piquinique.

— Bom, pegaram tudo? — Alice começou a dizer colocando algumas coisas em sua bolsa.

Assim que ela nos viu assentir, Jack abriu a porta da sala e as crianças correram em direção ao carro da mulher.

— Eu dirijo. — O homem mais velho arrancou a chave da mão de sua esposa, com um sorriso no rosto. — Para chegarmos vivos.

— Está dizendo que eu dirijo mal? — Ela arqueou a sobrancelha, colocando a sua mão na cintura.

— Eu? Jamais meu amor. — Beijou a testa da mulher e correu em direção ao carro, juntamente com as crianças.

Eu e Luke apenas nos encaramos e começamos a rir com a situação. Luke pegou uma cesta de piquinique que estava ao lado do sofá e seu braço passou pelos meus ombros com o lindo sorriso de canto.

— Vamos? — Perguntou me fazendo assentir.

Era incrível que depois de uma enorme tempestade, eu aprendi que o mundo não é sempre mal. Aprendi que nossas histórias nem sempre serão ruins a todo tempo. As vezes, são necessárias coisas ruins em nossas vidas, para que possamos dar valor as pequenas coisas boas.

Eu estava começando a dar valor a vida. Porque o fato de vivermos, já é uma coisa boa. Por mais que o seu dia naquele momento não esteja sendo bom, é necessário lembrar que sempre temos a oportunidade de tentar de novo, de fazer diferente, de escolher outros planos...

Quando desistimos de viver e escolhemos não tentar mais mudar as coisas, significa que estamos aceitando e decidindo não lutar pela vida. Mas se não estar nos fazendo bem, precisamos enfrentar até que pare de doer, e não, desistir e aceitar que irá sentir aquilo pelo resto da sua existência.

Porque só vencemos os desafios quando decidimos ser fortes.

E as vezes, não conseguimos ser fortes sozinhos. E não é vergonha alguma admitir isso! Se precisamos de ajudar, não temos que hesitar em pedir. Porque existem pessoas ao nosso redor só esperando o momento em que vamos chama-las e gritar por ajuda, e então, elas irão ajudar sem problema algum.

Eu finalmente posso dizer que estava feliz por encontrar alguém que despertasse a minha força interior. Era lindo saber que se eu gritasse por ajudar, ele não pensaria nem duas vezes para me socorrer.

E eu o amava por isso.

O amava porque Luke demonstrava em pequenos gestos, o quanto ele me amava! Eu o amo pois ele é a única pessoa desse mundo, que desde criança, era capaz de afastar as vozes da minha cabeça com apenas um sorriso. Ele foi, ele é e ele sempre será o único capaz de despertar a minha força interior.

— O que tanto você pensa? — O garoto perguntou enquanto comparava os preços dos biscoitos da prateleira do mercado. — Está tudo bem?

— Estou sim. Só estava pensando um pouco sobre as coisas que estão acontecendo ultimamente. — Estendi a minha mão e peguei um pote de geleia de morango e uma outra de amendoim.

— Entendo... Acredito que ainda esteja digerindo todo ocorrido de ontem, não é? — Ele veio em direção ao carrinho de mercado e jogou um monte de pacotes de biscoito dentro.

— Acredita que não? Pela primeira vez me sinto leve em relembrar de um assunto que envolve o passado. — Suspirei. Era muito aliviador.

— Eu estou muito feliz por você, minha louca por bis. — Ele sorriu, estendendo um pacote de bis para mim. O mesmo continuou a andar pelo corredor sem poder contemplar o sorriso enorme que eu exibia no rosto.

Percebi Luke tirar seu celular do bolso após o mesmo começar a tocar descontroladamente. Ele analisou a tela e em seguida desligou mudando completamente o seu semblante. Me aproximei preocupada e toquei o seu ombro o fazendo se virar para mim.

— Está tudo bem? — Ignorando o fato de que ele se virou contra mim, coloquei-me em sua frente, o obrigando.

— Está sim. — Seu sorriso era fraco e bem triste. Não costumava ser aquele o sorriso que me fazia sorrir.

— Eu te conheço o suficiente para saber que esse não é o seu melhor sorriso. — Ele soltou uma risada baixinha e olhou ao redor parecendo procurar o que dizer.

— Não quero te preocupar com os meus problemas. Gosto mais de te ver sorrindo. — Pegou um pão de forma das prateleiras, lutando para não focar em meus olhos.

— Luke? — Chamei sua atenção, mas o mesmo não olhou. — Dá pra você olhar para mim? — Luke aos poucos foi virando o seu rosto e encarando meus olhos. Era nítido a angústia e choro aprisionado em seu olhar. Luke era o tipo de pessoa que era ótimo em te ajudar nos momentos difíceis, mas em seus momentos difíceis, ele não era capaz de confiar nas pessoas para ajudá-lo.

— Estou olhando. — Me aproximei dele e lancei meus braços envolta do seu pescoço na esperança de fazer o que ele fazia comigo. Eu tinha esperança de afastar a sua dor, assim como ele afastava a minha. Luke por um momento, não correspondeu ao abraço, mas logo enterrou seu rosto em meu pescoço e agarrou a minha cintura.

Senti meus ombros molhados quando um leve vento soprou dentro do mercado. Luke estava chorando em meus braços! Assim como eu fazia com ele nas horas difíceis.

Por mais que aquilo não fosse motivo para comemorar, era bom saber que talvez eu passasse uma certa confiança para ele. Ainda mais para uma pessoa que não conseguia se abrir para ninguém. Era muito bom saber que ele confiava em mim o suficiente para mostrar seu lado frágil e chorar sem se importar. Pois quem está vendo, é alguém que ele sabe que pode contar.

— Estamos ajudando um ao outro desde que éramos pequenos... — Comecei a dizer sentindo alguns soluços do garoto. Seu choro era tão silencioso quanto sua dor. — Por que agora não pode ser igual? Se não sente confiança em mim ainda para contar as coisas, eu entendo. Mas saiba que eu estou aqui para você. Assim como você sempre está aqui para mim.

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