15. O que você faz?

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Estávamos no caminho do meu trabalho. Havia 15 ligações perdidas no meu telefone, e as 15 eram de Oliver.

Eu tinha absoluta certeza de que ele estava me ligando para saber onde eu me encontrava. Ele realmente achava que era meu marido?

— É... — Luke chamou a minha atenção. Desde sua última palavra no elevador, não conseguimos mais conversar olhando diretamente nos olhos um do outro.

Eu ainda buscavam entender o que ele queria dizer com aquelas palavras. Será que ele disse aquilo tudo de uma forma amigável? Ou romanticamente?

— Sim? — Para evitar olhar em seus olhos, eu cutucava minhas unhas fingindo estar muito interessada nelas.

— Tem bis dentro do porta luvas. — Assim que ele falou, eu olhei em seus olhos com um sorriso imenso. Quebrando totalmente a regra de evitar contato visual.

Abri o porta luvas vendo o pacote de bis logo em cima. Meus olhos brilharam.

— Quando foi que você comprou? — Perguntei já abrindo a embalagem.

— Foi ontem. — Ele falou encostando o carro na calçada. — Bom, venho para te pegar mais tarde. — Ele encostou sua cabeça no banco como se estivesse exausto. Seus olhos se fecharam e eu me permiti admira-lo.

Era lindo. Uma das pessoas mais lindas que eu já vi. Seus olhos fechados davam volume para os cílios; suas bochechas rosadas me estimulavam a aperta-las; seus lábios eram tão alinhados e vermelhos que eu tinha uma vontade imensa de toca-los.

Sem pensar muito em minhas ações, toquei os fios rebeldes de seu cabelo. Eram tão macios e sedosos.

— Isso tudo porque eu te dei uma caixa de bis? Pelo jeito vou comprar sempre então. — Luke abriu um dos olhos com o seu sorriso de canto.

— Só estou surpresa porque seu cabelo é tão sedoso e hidratado. — Ele não falou nada. Apenas sorria e se levantou  para ficar na mesma altura que o meu rosto. Vendo esse ato, senti minha barriga revirar, minhas mãos e pernas tremerem, meu rosto aquecer e meu coração acelerar. Era nítido o impacto que a presença do garoto, causava dentro de mim. — O-o que você faz? — Tentei fazer a minha voz ficar firme, mas foi uma tentativa nula.

— O que eu faço sobre o quê? — Ele dizia com uma voz arrastada. Era como se sentisse as mesma coisas que eu.

Uma de suas mãos afastou os cabelos que estavam na frente dos meus olhos, a outra foi em direção a minha cintura causando um arrepio no local. Seus olhos estavam ficados em meus lábios. Aquele belos olhos azuis que eu sentia vontade de mergulhar. Ele se aproximava mais e mais quando de repente eu virei o rosto recolhendo as minhas coisas para sair do carro.

— O que você faz no cabelo, né! Para ele ser tão sedoso assim. — Falei soltando uma risada bem falsa. Luke não tinha um sorriso nos lábios. Na verdade, parecia incomodado e arrependido. — É Luke... não vem me buscar mais tarde não, tá? eu vou de uber. — Fechei a porta do carro como se estivesse fechando o meu coração.

Ver a expressão de Luke me fez ter a certeza de que eu não tinha a mínima ideia do que estava fazendo. Por que eu recuei de uma forma tão grosseira? Por que me senti tão nervosa naquele momento?

Eu me sentia confusa. Muito confusa.

Éramos apenas amigos, amigos não podem ter relações com amigos.

— Ah! Quer dizer então que a bela desaparecida, apareceu? — Oliver falou assim que me viu entrando pelas portas da empresa. — Onde você estava? Tem noção que eu tive que aturar o chefe o dia inteiro enquanto você estava por aí?

— Não interessa aonde eu estava.

— Mas é claro que interessa. Porque eu precisei fazer o trabalho enquanto você estava por aí com o seu namoradinho. — Me virei com uma fúria muito grande. Ele acha mesmo que eu era o tipo de pessoa que faltava serviço para ficar de namorinho? Que tipo de mulher ele achava que eu era?

— Escuta aqui Oliver, quem você acha que é para ficar falando da minha vida? Coisas que nem são verídicas. Coisas que você criou nessa sua cabeça. Agora vai terminar o seu serviço porque se você não lembra, eu tenho um cargo maior que você, portanto, EU QUE MANDO AQUI. — Gritei a última frase para ver se ele entendia o recado. O menino me olhou com surpresa nos olhos, ele parecia tão chocado quanto qualquer um ao nosso redor.

Ajeitei meu terno e apertei o botão do elevador preparada para ir a sala do chefe. Precisava dar uma explicação pelos 50 minutos de atraso.

Assim que o elevador abriu, entrei encostando a minha cabeça no metal frio. Uma lágrima escorreu dos meus olhos desencadeando muitas outras que estavam presas. Eu não podia chorar. Não ali.

Limpei cada uma delas que ameaçavam cair. Limpei até sentir minha pele arder. Limpei até sentir meus olhos doerem.

Saí do elevador, me olhando no espelho para ver se parecia que eu havia chorado. Tendo a certeza que não, bati na sala do chefe esperando o sinal para entrar.

— Bom tarde. — Falei assim que entrei na sala.

— Então é você que manda? — O homem mais velho falou com um sorriso irônico no rosto, o que me fez congelar. Será que ele viu tudo pelas câmeras?

— Não foi bem isso que eu quis dizer...

— Gostei disso. Você precisa realmente colocar as pessoas no lugar delas. — Ergui uma das sobrancelhas, surpresa. — Nunca gostei muito desse Oliver e é por isso que te dou a maior parte dos trabalho. — Ele dizia enquanto conferia uma papelada. — Agora pode me dizer o motivo do seu atraso? Você me disse que não passaria das três.

— Me desculpa. A sessão acabou durando mais tempo do que eu pensava. — Entreguei o atestado que eu havia recebido. — Posso ficar aqui mais uma hora para recuperar o tempo perdido.

— Acho uma boa ideia. — Ele pegou o papel e assinou. — Prepare os últimos detalhes da decoração do desfile por favor.

— Pode deixar. — Peguei alguns papéis e saí da sala.

Lembro quando entrei na empresa. Era um dia nublado e com bastante chuva. Lembro que o Senhor Monroe, meu chefe, ficou impressionado com o meu currículo.

Eu me lembro que nem estava tão confiante assim nesse emprego, e hoje, não me imagino fora dele.

Nunca me importei tanto com a quantidade de serviços que colocavam em minhas mãos. Na verdade, sempre considerei isso tudo uma terapia.

Todo trabalho aqui, me fazia esquecer do passado.

E agora a melhor forma que encontrei para esquecer o passado, é trazendo alguém do passado para o meu presente.

"O que você faz?"

O que você faz para afastar todos os problemas de mim?

O que faz para me deixar tão nervosa assim?

O que você está fazendo para me deixar tão... apaixonada?

O Amor Pode CurarOnde histórias criam vida. Descubra agora