36. Uma carta de perdão.

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— Ai! Eu tô muito feliz por estarmos fazendo nossa primeira festa do pijama. — Ela dizia com um litro de cerveja no sangue já. — Mas estou triste porque o gato do garçom ainda não me mandou mensagem. — Fez um bico e eu bufei tentando abrir a porta e segurar ela ao mesmo tempo.

— Você definitivamente não vai mais beber quando estivermos juntas. — Ela fez uma careta.

— Você é tão chata! Não bebe e agora quer me proibir?!

— Exatamente. — Abri a porta e entrei com uma certa dificuldade junto com a menina.

— Tá bem então. — Ela simplesmente falou quando eu a joguei no sofá e fui em direção a cozinha preparar dois chás.

Ela precisava tomar muita água e um chá.

Peguei uma garrafa de água da geladeira e coloquei em um copo para dar a menina. Logo em seguida, coloquei uma panela de água no fogo para o chá.

Levei o copo para sala e estendi para ela, que o pegou sem discutir.

— Será que ele vai me ligar? — Perguntou em meio aos goles.

— O garçom?

— É.

— Não sei, talvez. — Peguei o meu celular da bolsa e enviei uma mensagem para Luke.

Amor, cheguei.
Manda um beijo para as crianças. Fica bem. Te amo.

O menino não demorou muito para responder. Ele apenas enviou um emoji com um coração e "eu te amo".

Quando olhei para o lado para me certificar de que Jennie estava viva, notei a menina dormindo toda encolhida no sofá.

Nossa festa do pijama não deu tão certo quando eu imaginei.

Como eu não queria acorda-la, apenas peguei uma coberta e a cobri no sofá. Meu sofá era muito aconchegante, ela não acordaria cheia de dores por conta disso.

Fui em direção ao meu quarto e separei uma roupa para tomar banho. Eu estava exausta não porque o dia foi ruim e cansativo, e sim porque foi bem produtivo.

Estava quase entrando no banheiro quando lembrei da panela de água que eu havia deixado no fogo. Imediatamente corri em direção a cozinha, vendo que ela ainda estava inteira. Apaguei o fogo, desistindo de tomar chá.

Depois de longos minutos na água quente, saí do chuveiro sentindo um frio enorme. Me enrolei rapidamente na coberta, e dormi.

(...)

Naquela manhã acordei mais cedo que o costume. Ajeitei minhas coisas da faculdade e do serviço. Aproveitei para dar uma arrumada na casa e fazer algo que estava me incomodando esse dias.

Escrever uma carta.

Uma carta de perdão.

Uma carta de reconciliação.

Eu estava sentada em frente à minha escrivania nesse momento, com uma caneta nas mãos e papéis na mesa. Estava a exatos 10 minutos pensando em o que exatamente eu queria escrever para a minha tia.

A mulher que tanto cuidou e prejudiu a minha vida e a do meu irmão.

Eu não a culpava por tudo aquilo. Pelo contrário, era grata por ela não ter nos deixado em um momento tão difícil de nossas vidas. Era claro que tínhamos uma pequena mágoa no coração por todas as vezes que ela gritava que eles morreram por nossa culpa. Ou então que odiava cuidar de nós.

Mas mesmo assim, eu agradeço.

Se não fosse ela, talvez fôssemos para em um orfanato. Se não fosse ela, eu não teria sido tão dedicada na escola afim de conseguir um futuro melhor para mim, e para meu irmão. Se não fosse ela, eu jamais seria quem sou hoje.

E além disso, acho que todos merecem perdão. Pois quando passamos uma situação complicada, algumas pessoas acabam descontando seus problemas nas outras, como uma forma de aliviar a dor.

Ela não tinha tanta culpa assim. Só estava tentando lidar com o fato de que sua irmã morreu e agora ela precisava cuidar dos sobrinhos.

"Oi tia. É sua sobrinha. Sua única sobrinha.
Bom, demorei muito tempo para entender e superar tudo que aconteceu com os meus pais. Por mais que a senhora não tivesse culpa alguma, eu a odiava por não nos acolher da maneira que uma criança precisava após perder seus pais. Por muitas noites, eu precisei de um único abraço, e mesmo a senhora vendo isso, não me concedeu. Por muitas noites eu chorei, e a senhora ouvindo, mandou eu calar a boca...
Sabe, essas memórias não machucam tanto quanto antes, e a prova viva é o fato de que te perdoo e estou disposta a seguir em frente. Mas eu também preciso me desculpar. Me desculpa por não entender o seu lado. Eu sei o quão difícil deve ter sido cuidar de crianças traumatizadas que nem eram suas. Sou eternamente grata.
Se estiver disposta a seguir em frente também, deixarei no final da carta o meu número de telefone.
~Hannah"

Quando percebi, já havia colocado a carta no bolsa para entregar no correio.

Eu estava disposta a me livrar de tudo aquilo que me causasse mágoas. Eu já passei tempo de mais acumulando mágoas e a única coisa que isso fez por mim, foi me transformar em uma pessoa completamente rancorosa.

Isso não podia continuar.

Juntei todos os papéis e canetas guardando tudo no seu devido lugar. Demorei um pouco para me arrumar pois estava tentando decidir o que iria vestir.

Eu não costumo demorar para escolher uma roupa. Acontece, que naquele dia eu queria meio que me arrumar para o meu namorado.

O motivo? Não tinha nenhum.

Está bem, na verdade tinha.

Era a primeira vez que passávamos, depois de juntos, um dia inteiro sem nos ver. E também porque queria ouvir o quanto eu era bonita da sua boca.

Depois de passar horas escolhendo a roupa, tomei um banho e lavei o cabelo.

Demorei mais ou menos 30 minutos desembaraçando meu cabelo. Por esse ser enorme, era difícil ter força na mão por muito tempo.

coloquei uma saia preta colada, um pouco acima do meio da coxa. Um moletom estilo cropped, com a tonalidade verde em um tom escuro, e um all star preto.

Eu sei, estava muito simples para quem queria impressionar o namorado. Mas o problema era que eu também estava indo para a faculdade. Não podia ir igual a uma modelo.

Acordei Jennie que tomou um susto. A menina não tinha noção do que estava acontecendo e parecia sentir uma baita dor de cabeça. Mas logo depois, sorriu ao pegar seu celular e notar uma mensagem do garçom do restaurante.

Depois perguntam o porquê não bebo.

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