56. A decisão.

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O que você costuma fazer quando algo te machuca? Você costuma lutar contra o sentimento? Costuma fingir que ele não te abala? Ou simplesmente ignorar a existência dele?

Você costuma resolver antes que se afunde completamente nele? Acredito que não, não é?

A maioria das pessoas se afundam no sentimento com a ideia de que um dia irá passar. Mas a verdade é: Se você não fizer nada para que passe, ele não vai passar.

As vezes são assuntos inacabados que prendem esse sentimento dentro de nós. Como por exemplo, um fim de um relacionamento, onde o problema poderia ter sido resolvido com uma conversar. Ou então uma briga com um amigo, onde houve um mal entendido que poderia ter sido esclarecido.

E por conta de mal entendido como esses, um sentimento de angústia, dor e saudade acaba se instalando no peito.

Mas o que fazer quando esse sentimento não é causado por um mal entendido? Quando na verdade, o sentimento é causado por um erro muito grave do passado?

O que fazer quando estamos dispostos a se livrar desse sentimento, mas não consegue tirar o passado da mente?

— Hannah me contou como você saiu do quarto de hospital e a afastou, vindo sozinho para casa. — Minha mãe passou pela porta do quarto, despertando novamente o sentimento de raiva em mim.

— Me deixa sozinho mãe. Não estou muito afim de falar.

— Está afim de ouvir? Pelo menos? — A mulher se aproximou da janela aonde eu estava sentando, e debruçou-se sobre ela.

— Mãe, não quero conversar... — Virei o meu rosto para o outro lado, esperando que ela entendesse.

— O céu está estrelado hoje, não é? — Ela comentou, ignorando minha resposta. — Me lembra de quando sentavamos na praia para ver as estrelas. Tem tempo que não fazemos isso, né?

Eu não respondi. Apenas foquei meu olhar no céu, me lembrando desses dias tão cinzas. Os dias em que íamos para a praia na esperança de esquecer que meu pai chegaria bêbado e começaria mais um briga sem motivo.

— A senhora se esqueceu o real motivo de irmos a praia assistir as estrelas? — A encarei, vendo ela desviar o olhar. — Porque eu não me esqueci.

— Luke. Eu entendo o seu ódio por ele. Você tem todos os motivos do mundo para sentir isso. — Ela começou a dizer um pouco mais irritada que o costume. — Foi você que me viu sofrer, me viu chorar e até mesmo passar mal com tudo que aquele homem me causava. — Ela deu uma pausa conforme a voz travou. — Foi você que sofreu com rejeição e humilhação. Foi você que sofreu trancado a maior parte do tempo em seu quarto. Foi você que sofreu evitando ficar em casa e indo para rua brincar com Hannah. Poxa filho... você sofreu muito! — Ela me encarava, com o rosto repleto de lágrimas. — Você acha mesmo que vale a pena ficar guardando esses sentimentos ainda dentro de si? Acha que vale a pena ainda guardar toda essa dor? — Ela tocou o meu rosto, me fazendo encará-la. — Filho, essa dor que você ainda não superou, está prejudicando o seu presente. Não vê que isso está prejudicando o seus relacionamentos com as pessoas? Poxa! Você mandou a Hannah ir embora! Quando você mandaria a Hannah ir embora em sã consciência? — Me olhava indignada.

— Você e Hannah defenderam ele! Não entendo como a senhora consegue amá-lo ainda! — Levantei da janela, tirando sua mão de meu rosto. — Como pode sorrir para esse homem que te machucou tanto!

— E quem falou para você que eu o amo Luke?! — Ela gritou. O que me fez virar e encontrar seu rosto. Ela estava muito ferida, era nítido. Só que dessa vez, era eu que a estava ferindo. — Você acha que eu sou idiota, não é? Você acha que é muito mais maduro e forte do que eu, não é Luke?! — Me repreendeu. — Você precisa aprender a ouvir mais! Porque se você ouvisse saberia que eu e Hannah queremos apenas que você fique bem! Que se livre desse peso que se apossou do seu coração! Se você ouvisse, saberia que eu não o amo! E que eu estou tentando ser forte e passar por cima dos sentimentos negativos que também se apossaram do meu coração. Não quero que o perdoe. Não queremos que o aceite como pai! Queremos que você fique bem! — E assim, ela passou por mim, e saiu do quarto me deixando sozinho.

(...)

Passei o resto da noite trancado em meu quarto. Não almocei, lanchei ou sequer jantei. Não sentia fome. Apenas uma dor muito grande que me fez chorar a noite inteira.

Eu realmente estava fazendo tudo errado...

Deixei isso me tomar e acabei afastando quem estava se importando comigo. Gritei com a minha mãe, briguei com a minha namorada e tratei todo mundo mal o dia inteiro.

Tudo por conta da minha raiva.

Se eu não colocasse um ponto final em tudo isso, as coisas poderiam ficar mais complicadas ainda.

Eu precisava ser forte como minha mãe foi. Aguentou tanto tempo ao lado de um homem que só a tratou mal, mas quando ele levantou um dedo sequer para ela, resolveu abandoná-lo, mesmo o amando. E depois de tudo isso, a mulher tem forças o suficiente para voltar à amar outra pessoa e perdoar aquele que a feriu.

Talvez perdoar não seja trazer o que te magoou de volta. E sim, te libertar de sentimento negativos.

Eu queria me libertar desses sentimento negativos. Esses sentimentos que por muito tempo me fizeram mal, me feriram e mostraram o meu pior.

Eu precisava disso.

Meu eu mais novo ficaria muito feliz em saber da decisão que eu tomei quando saí de casa e entrei no carro indo em direção ao hospital.

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