40. As partes que se complementam.

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— Eu sinto muito Luke. — Ela se afastou de mim e pude notar os seus olhos vermelhos e inchados. — Eu não entendo. Por que nunca me disse isso? Você falava apenas que tinha alguns problemas com o seu pai por ele ser muito rígido com você.

— Eu tinha medo das pessoas descobrirem que eu tinha um monstro como pai e acharem que eu era igual a ele. — Abracei meus joelhos como eu costumava fazer na infância. — Eu tinha tanto medo de ser como ele...

— Você nunca vai ser igual a ele! Você é tão incrível e amável...

— Ele também era incrível e amável com a minha mãe. Até eu nascer. — Encarei a menina. — Sabe... me pergunto porque também não tinha direito de ter um pai igual o da Luna. Jack é uma pessoa incrível. Tão dedicado ao trabalho e a família... Quando eu era menor, me perguntava com mais frequência o porquê minha família não era como as outras. Mas agora não dói como costumava doer... As vezes acho que por minha culpa, estraguei o relacionamento dos meus pais. — Um silêncio se estabeleceu no local até Hannah resolver falar.

— A culpa não é sua. Nunca vai ser sua. Você era só uma criança que precisava de amor como qualquer outra. Foi uma criança que precisou viver sem o amor do pai por ele ser um completo idiota. Foi uma criança que passou por diversas coisas sozinha! Que precisou ser forte em um momento delicado. A culpa nunca, jamais, de maneira nenhuma, será sua. Se o seu pai não foi capaz de perceber o quão incrível você é, a culpa é dele. — Eu sorri de canto para a menina enquanto analisava sua expressão irritada e entristecida.

Ela era tão linda.

— Se eu soubesse antes o quão horrível seu pai era... eu... — Ela gaguejou. — Eu não teria te pressionado a ficar. Estava tão desesperada e com medo de ficar sozinha, que nem percebi os problemas das pessoas a minha volta. Eu era tão egoísta. — Rspirou fundo. — Eu sinto muito.

Meu sorriso se desfez ao ver que aquilo machucou ela. Passei meu braço por trás de sua cabeça e a abracei.

— Acho que somos duas partes quebradas que se completam. — Declarei quando o silêncio se instalou no recinto.

— Sim... e essas partes foram quebradas cedo demais, não acha? — Ela falou se referindo ao fato de que amadurecemos muito cedo por contados problemas que tivemos que enfrentar sozinhos.

— Infelimente.

— Sim... Infelizmente. — Senti meu peito molhado pois a menina ainda chorava em minha camisa.

— Acho que eu nunca te contei também pois prefiro mil vezes ver você sorrindo, do que chorando dessa maneira por conta dos meus problemas. — Ela se afastou e me encarou com um sorriso fraco.

— Lindo ver o jeito que você cuida de mim. — Eu sorri ao ver ela abrir seu sorriso. — Sabe Luke... — Chamou minha atenção. — Somos muito fortes pois a vida nos fez assim desde cedo. Adquirimos maturidade desde cedo para cuidar de si mesmo sozinhos. E é bom ver que conseguimos. Que estamos conseguindo superar tudo. E melhor ainda é ver que estamos superando juntos. — Ela sorriu ainda mais. — E vamos lutar para que Luna e Henry não tenham que adquirir essa maturidade tão cedo quanto nós. Já que não tivemos a infância tão sonhada, que possamos fazer da deles a mais incrível possível.

Concordando com tudo aquilo que ela disse, a puxei para o meu peito e deitei com ela na cama, sentindo o seu calor.

— Que bom que eu a encontrei. — Declarei em meio ao silêncio que se instalou no quarto. — Um vazio muito grande foi preenchido ao encontrá-la.

— Que bom que eu te encontrei. — Ela falou com uma risadinha. — Você curou o meu ser. Agradeço por isso.

— É... realmente somos a cura um do outro. — Beijei sua bochecha, vendo-a sorrir e recuar os beijos.

(...)

— A sua está dando errado porque você não está fazendo certo! — Luna debatia com Henry na sala, por conta de uma questão de matemática.

— Ah! Você jura? — O menino dizia de maneira irônica. — Por que eu nasci tão burro?! — Ele batia na cabeça, na intenção de fazer a matéria entrar.

— Calma, eu te ajudo. — Ela puxou o caderno do menino e começou a explicar o que ele estava fazendo de errado.

Me virei para Hannah, vendo a menina fritando dois hambúrgueres em uma frigideira.

Estava apenas eu, ela, Luna e Henry acordados por conta de duas coisas: trabalhos de casa e insônia. Minha mãe e Jack resolveram ir para cama um pouco mais cedo que o costume, acredito que seja por conta do dia agitado.

— Esse dois parecem muito com a gente. — Eu ri me aproximando da menina. — Até o jeito que eu surtava por conta das questões de matemática e você ria tentando me ajudar.

— Sim. — Ela riu balançando a cabeça para os lados. — Eu lembro que tinha horas que eu me irritava com você e desistia de explicar.

— E eu lembro que depois que eu chorava por você me chamar de burro, você vinha e dizia que não era nada daquilo. — Ela gargalhou enquanto cortava uma calabresa em rodelas.

— Claro, eu me sentia mal por você ser tão lerdo. — Eu ri.

Passei minhas mãos ao redor da sua cintura e enterrei meu rosto em seu pescoço, sentindo o cheiro doce e forte do perfume da menina.

— MEU DEUS HENRY! COMO VOCÊ É BURRO! — Ouvimos Luna gritar da sala e automaticamente fomos até eles. — Não sabe dividir? É sério isso? — Ela voltou a se sentar no tapete indignada. — Acho melhor você sair da escola!

— Eu não pedi a sua ajuda! — Henry se levantou do tapete e juntou o seu material que estava sobre a mesinha da sala. — Ignorante! Não preciso da sua ajuda também. — Ele caminhou até o sofá e se sentou com um bico formado nos lábios.

Minha reação foi olhar para Hannah e gargalhar da situação.

Certeza que aquela seria a primeira de muitas brigas que eles ainda teriam.

Hannah voltou a cozinha ainda rindo do ocorrido e eu apenas sentei no banco em frente ao balcão, e analisei o cenário.

Certeza que em menos de cinco minutos ele já estariam se falando novamente.

— Para de graça vai Henry. — Luna falou, respirando fundo. — Me desculpa vai! Eu só estou cansada de te explicar mil vezes a mesma coisa!

Henry virou sua cabeça para o outro lado com seu bico ainda no rosto e os braços cruzados.

— Sua ignorante. — Ele falou, fazendo Luna ri.

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