Fenômenos Paranormais - Byler

XXIV - Humano?

Mike estava mancando e mal conseguia abrir os olhos, Will correu até ele e o ajudou a se manter em pé, levou ele até a cama de ferro e o sentou ali.

- Mike! O que houve? - ele perguntou enquanto checava o demônio, seu rosto estava cheio de arranhões, seus olhos não abriam direito.

- E... Eles - Michael gaguejou.

- Merda, você está bem? - o menor perguntou e quase se bateu, merda Will, claro que ele não está bem seu acéfala.

- Dor - Wheeler gemeu e encostou as costas na parede.

- Onde dói, babe? - Byers colocou a mão na testa do demônio para verificar se a sua temperatura fria de sempre tinha mudado, ele estava pegando fogo.

- Tu... Tudo, prin... Principalmente aqui - Mike choramingou e apontou para o seu peito.

- Eu vou dar uma olhada, okay? - Will se ajoelhou na frente do garoto e ele assentiu.

Então Byerd desabotoou a blusa que Mike usava e arregalou os olhos, deixou um suspiro assustado escapar.

O tronco de Mike sangrava, arranhões estavam em todo lugar, o peito de Wheeler estava tão ruim que Will jurou que vomitaria se isso não fosse piorar tudo.

- Aí porra - ele murmurou quando viu os arranhões negros espalhados pelo peito do garoto, diferente dos arranhões com sangue no resto do corpo de Michael, aqueles eram negros e profundos, azuis puxando para o roxo.

O menor se lembrou do estojo que tinha embaixo da cama e tirou de lá os estojos de primeiros socorros que tinham sobrado nos quartos depois do abandono do hospício. Serviriam para alguma coisa afinal.

- Eu vou cuidar de você, ok? - perguntou e Mike assentiu.

Então Will tirou soro e gaze dali, ele sabia que aquilo nunca envelheceria, porque como Michael tinha dito, nada era como na realidade quando se troca de dimensão.

O soro ardeu na pele fragilizada de Wheeler, ele soltou um gemido falhado, Will suspirou e deu toques mais leves nos arranhões, quando ele chegou nos arranhões do peito, resolveu não mexer ali, então ele apenas enfaixou o garoto e lhe entregou um comprimido para a dor, que ele não tinha certeza se fazia efeito em demônios.

- Melhor? - perguntou.

- Um pouco - Mike sorriu fraco.

- Agora deita aí, você tem que repousar - Will mandou e ajudou ele a se deitar.

- Eu estou sentindo uma coisa diferente - o maior confessou.

- O quê?

- Minha boca está seca - o garoto de cabelos cacheados falou.

- Você deve estar com sede - Will murmurou e pegou uma garrafa de água.

- Você vai enfiar uma garrafa na minha boca? - Mike arqueou uma sobrancelha.

- Chama-se beber água - revirou os olhos e colocou a garrafa com cuidado nos lábios do garoto, que bebeu a água curiosamente.

- Isso me deixou melhor... - comentou.

- Claro que deixou, água mata a sede - Will fechou a tampa da garrafa.

- Mas por que eu sentiria isso? Eu não sou nem sequer humano.

De repente os olhos de Mike ficaram brancos.

Você vai ser humano pelo tempo que nós determinarmos, vai desfrutar da fraqueza e das necessidades humanas, depois nos diga o quanto se arrependeu, estaremos prontos para rir de você e lhe transformar num demônio 100% sem alma.

Apenas Mike ouviu aquilo, Will se assustou com seus olhos totalmente brancos, mas não teve tempo de fazer ou falar nada já que os olhos do garoto logo voltaram ao normal.

- Wi...Will - Mike gaguejou com os olhos arregalados.

- Oi...?

- Eu vou ser humano por tempo indeterminado - o garoto cacheado estremeceu.

- O QUE? - Will deu um pulo.

- Eu não sei nem o que um ser humano sente, eu vou morrer, ou implorar de joelhos para voltar a ser um demônio, é o que eles querem - Mike arregalou os olhos e tentou se levantar, gemeu alto de dor e voltou a se deitar.

- Pode aquietar! Eu sou humano e sei o que um ser humano sente, eu vou te ajudar - Byers disse.

- Merda, isso não pode estar acontecendo - Michael suspirou.

- Sim, isso está, Mike - O menor respondeu - Agora você precisa descansar - Byers fala.

- Ugh, tá bom - Wheeler grunhiu.

- Will - chamou antes de fechar os olhos.

- Diga.

- Eu não quero fechar os olhos, e se eu morrer? - o maior perguntou.

- Morrer não se trata só de fechar os olhos, Michael - Byers sorriu com a inocência de Mike.

- Você pode deitar comigo? - perguntou.

- Claro - o menor disse docemente e se deitou com cuidado ao lado de Mike.

- Will, eu acho que consigo sentir emoções agora - Wheeler comentou enquanto fechava os olhos.

- Por que você acha isso? - Byers perguntou distraídamente.

- Porque minha barriga está gelada, eu consigo sentir o meu coração acelerar pela primeira vez em anos, e eu estou com muita vontade de sorrir, qual é o nome dessa emoção mesmo? - o garoto de olhos castanhos perguntou.

- Você não vai querer saber, Mike - ele riu e pegou a mão do demônio que agora não era um demônio.

- Boa noite, Will - Mike sussurrou.

- Boa noite, Mike.

[...]

Byers acordou com uma respiração quente no seu pescoço, do jeito que aquele hospício era, seus instintos fariam ele estapear o que quer que estivesse ali, mas aí Will se lembrou da noite passada. Ele se virou e deu de cara com Mike dormindo tranquilamente.

Ele teve que sorrir, Mike estava grudado e abraçado nele como se ele fosse um urso de pelúcia, o corpo embrulhado em bandagens praticamente se fundia com o seu. O Michael-humano era uma coisa extremamente fofa e abraçável, diferente do intimidade Michael-demônio.

Os dedos de Will passearam até o rosto de Mike e acariciaram a pele macia com leveza, Wheeler torceu o nariz e acordou com um olhar confuso que se acalmou quando ele viu Will ali.

- Hey! Você não morreu - o menor riu.

- Acho que eu estou realmente humano - Mike concordou, sua voz estava rouca por causa do sono.

- Como você se sente? - Byers perguntou.

- Dolorido, um merda, frustrado, cansado...

- Wow, isso é bem específico - arqueou uma sobrancelha.

- Eu posso passar o dia nessa cama? - o maior fez bico.

- Claro que pode, estamos presos aqui mesmo - Byers riu.

- Que animador. Eu estou preso aqui e estou humano - Michael revirou os olhos.

- Eu posso te mostrar uma coisa do século 21... - Will deu de ombros.

- Me parece interessante.