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Nunca havia andado tão depressa com o meu carro. Inclusive, quase causei um acidente terrível avançando o sinal.

Estava hiper-nervosa e me xingando muito mentalmente por ter esquecido a prova do vestido. A voz da minha mãe reclamando sem parar já estava na minha cabeça, seria um sermão de uma semana ou mais. Porém, nada seria pior do que dar razão ao senhor das razões: Gustavo.

O barulho do meu salto batia no chão conforme eu corria, eu havia encontrado uma vaga a dois quarteirões do ateliê que atenderia a mim e as madrinhas.

O dia estava tão quente, como o fogo que queima em uma lareira e eu ainda havia trago uma bolsa cheia de documentos, além da minha bolsa pessoal, porque ainda, nesse dia de hoje, enfrentaria duas reuniões.

Na pressa para sair de casa, havia colocado um vestido colado, de manga preta. Meu corpo estava todo abafado, eu parecia uma pimenta e transpirava mais do que tampa de quentinha.

Santo Deus, que castigo!

Olhei para os dois lados da rua antes de atravessar e lembrei que meu óculos-solar estava dentro da bolsa. Eu precisava proteger meus olhos que já ardiam feito brasa com tanto calor. Meti a mão dentro da bolsa e fui atravessando devagar. Minhas mãos não encontraram de jeito nenhum e eu estava a um passo de soltar alguns gritos de raiva.

Desviei meu olhar para a bolsa, já no meio da rua e fuxiquei ali. Achei meu óculos no cantinho e quando peguei-o nas mãos, uma buzina alta invadiu meus ouvidos.

Um homem, montado em uma moto de pequeno porte, veio em minha direção com tudo.

— Aí meu Deus!

Gritei, paralisando.

Ele desviou a moto com tanta força que perdeu o controle, a moto saiu de minha direção e foi direto ao chão, junto a ele.

Corri até ele, assustada e me abaixei perto de seu corpo.

— Moço, pelo amor de Deus. Jesus, Maria, José! Você tá bem? Aí senhor, uma ambulância!!!!

Gritei, para ele e as pessoas que se formaram ao redor.

— Já estive melhor... Nossa, como o chão tá quente.

Ele respondeu e abriu os olhos. Meu coração, que parecia que ia sair pela boca, se acalmou.

Pelo menos não havia morrido!

O senhor se machucou? Não se mexe. A ambulância já vai chegar.

Falei, jogando minhas coisas de lado e pegando o telefone. Disquei, rapidamente e alguém cutucou meu ombro, era uma moça, dizendo que já haviam acionado a ambulância. Assenti para ela, agradecendo e coloquei o celular dentro da bolsa novamente.

Voltei minha atenção para o homem. Eu estava inquieta, era sempre assim quando ficava nervosa e não sabia o que fazer.

— Água! Uma água! Vou buscar uma água. Santo Deus. O senhor quer que eu ligue para alguém?

Perguntei, enquanto me levantava. O homem se mexeu e logo, foi se levantando também.

— Não precisa. Estou bem, obrigado.

— Moço, meu Deus, não pode se mexer!

Falei, novamente. Ele se sentou e tirou o capacete, devagar e respirando. Algumas pessoas foram conversando com ele, tentando convence-lo de ficar parado. As roupas dele estavam intactas, apenas com alguns arranhões. Olhei em direção a moto e ela também estava sem muitos danos.

— Eu estou bem, só um pouco... tonto. Mas estou bem.

Ele informou, devagar e calmamente. Me abaixei novamente, inquieta.

— O senhor quer que eu ligue pra alguém?

Insisti. Eu queria muito ajuda-lo mas sinceramente precisava resolver isso rapidamente e sair correndo, ainda tinha a prova do vestido me esperando e ele parecia estar ótimo.

Ou talvez seu egoísmo estivesse gritando e você não quisesse dar o braço a torcer pro senhor razão.

Meu subconsciente rebateu, duramente.

Ok! Era isso...

— Olha, eu já falei que estou bem, não precisa ligar para ninguém. Só tenta, da próxima vez, olhar quando estiver atravessando a rua com atenção, evitaria isso.

Ele pestanejou, agora, se levantando por completo. As pessoas se entre-olharam com a grosseria e cochicharam entre si. O homem recolheu seus pertences do chão, me dando as costas e logo, caminhou até a sua moto. Torci o nariz, encarando-o raivosa.

— E o senhor tenta andar com menos velocidade em uma rua tão pequena. Evitaria isso!

Respondi, imitando seu tom e gesticulando com o dedo indicador. As pessoas foram se distanciando ao ver que tudo não passou de um susto mas eu me mantive parada, de nariz torcido e mãos nas cadeiras.

Abusado!

Com a moto levantada, ele montou nela e me encarou.

— Certeza que o menor problema disso tudo foi a minha velocidade.

— Pois eu, tenho certeza que não!

Gritei a última parte, segurando firme a minha bolsa. Ele colocou o capacete e acelerou fortemente a moto em minha direção. Nessa hora, fiquei com medo, um sentimento ruim me invadiu, alguns calafrios percorreram meu corpo. Ele me encarava de uma forma negativa, uma áurea carregada. Respirei fundo, tentando me manter firme e parada enquanto ele vinha chegando perto, eu precisava ter razão uma vez na vida, mesmo que, para um desconhecido.

La puta llOnde histórias criam vida. Descubra agora