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A tarde caiu e Gustavo teve que voltar para o trabalho, aproveitando o gancho, também voltei para o meu.

Uma dor de cabeça enorme me atormentava e meu corpo foi sendo tomado pela sonolência, enquanto a noite caía.

— Amiga, vamos indo? Prometi buscar o Miguel hoje na escola e acabei nem conseguindo ir. Preciso, ao menos, cumprir a promessa de maratonar alguns filmes na tv ou vou me sentir a pior mãe do mundo.

Paloma chamou, enquanto fazia uma careta e segurava a maçaneta da porta da minha sala. Sorri de volta, achando engraçado.

— Vai sim, amiga, eu fecho tudo aqui.

— O pessoal do rh já foi e aqui encima só tem a Renatinha. Amanhã você termina tudo aí, vamos descer juntas... Você tá com carinha de cansada.

Ela insistiu, me analisando com o olhar.

Eu realmente estava cansada e o dia havia sido cheio. Olhei para a tela do computador e faltavam algumas páginas para editar, encarei Paloma de volta e contorci o rosto.

— Falta só um pouquinho, assim que eu terminar essa matéria, eu vou. Vai ser rápido.

— Quer que eu te espere?

— Não, amiga, vai aproveitar o filhote.

— Tudo bem, então. Eu te amo, se cuida, até amanhã.

— Te amo, amiga. Até amanhã.

Assim que terminei de falar, ela saiu, encostando minha porta. Bocejei, cansada e voltei a minha atenção a tela do computador.

[....]

Acabei me empolgando com as ideias que tive para a capa da matéria, estendi o horário e quando me dei conta, o relógio marcava oito e meia. Me espantei assim que vi e finalizei tudo, salvando em meus arquivos o que não havia sido resolvido.

Fui arrumando minha mesa e guardando meus pertences, estava concentrada em minha bolsa, quando meu celular apitou para uma notificação. Era uma mensagem no WhatsApp.

• 20:32h •
Gustavo: Amor, já tá em casa? Saí da agência agora. Quer jantar em algum lugar?

•20:33h•
Gabriela: Perdi a hora trabalhando, também vou sair agora. Me espera em casa e vamos?

• 20:33h•
Gustavo: Que isso, minha mulher vai ficar rica com tanto trabalho. To te esperando, beijo.

Ouvi um barulho estranho vindo do corredor e desviei minha atenção das mensagens. Ergui a cabeça e analisei a porta, desconfiada.

— Renata?

Chamei, curiosa.

Ninguém me respondeu e eu andei até a porta, abrindo. Passei meu olhar pelo andar, não havia ninguém em nenhuma mesa, pude perceber o quão era tarde ali, Renata sempre era a última a sair.

Esbocei um leve sorriso com aquilo, lembrando o que Gustavo havia falado na mensagem e me distraindo.

Eu estava me tornando o que mais temia, a louca do trabalho.

Voltei a minha mesa e peguei minha bolsa, juntamente com minhas pastas, fechei minha gaveta e tirei minhas chaves do potinho que eu a colocava.

Saí da sala, ainda com a cabeça no mundo da lua, eu estava com uma mistura de cansaço e sonolência. Minha cabeça doía um pouco também, meu corpo e minha mente repetiam, em voz alta e sem parar: cama. Eu nem ligaria de não sair para jantar, para ser bem sincera, tinha matado minha fome de "dez dias" no almoço. Chamei o elevador, que chegou bem rápido e entrei nele.

Já no primeiro andar, avistei seu Antônio assim que a porta do elevador abriu. Passei por ele, ô cumprimentando e me despedindo, ele acenou e abriu a porta da empresa para que eu passasse.

Tive a ideia de ligar para Gustavo, avisando para que ele parasse em algum lugar sozinho e comesse, havia decidido nesses poucos instantes que, quando eu pisasse em casa, tomaria um bom banho e não ia querer sair nem com reza braba.

Fui caminhando lentamente pela calçada que dava no estacionamento e me virei devagar para pegar meu celular na bolsa. Após isso, disquei o número e coloquei o celular na orelha.

Ouvi um barulho vindo do começo da rua e levantei o olhar naquele direção. Uma van, toda preta, vinha em uma velocidade exacerbada e descontrolada, o barulho dos pneus se rasgavam no asfalto, fazendo com que um estrondo no motor rosnasse.

"Oi, amor?"

Pude ouvir a voz de Gustavo do outro lado da linha.

Fiquei assustada e arregalei meus olhos quando a van parou ao meu lado. Um homem surgiu, abrindo a porta e para minha surpresa, era ele, o homem do estacionamento, de mais cedo, eu reconheceria esses olhos horrorosos e medonhos em qualquer lugar.

Corre, caceta!!  - Meu subconsciente gritou.

Não consegui me mexer e ele puxou meus braços, meu celular caiu no chão na mesma hora.

— Me solta! Socorro!

Gritei, me debatendo. Ele colocou um pano sobre meu nariz e não demorou muito, o cheiro forte que eu respirei, foi me fazendo perder os sentidos.

"Gabriela??!! Me responde, Gabriela????!!!"

Ouvi a voz de Gustavo ficando cada vez baixa, até que nada mais foi ouvido por mim.

La puta llOnde histórias criam vida. Descubra agora