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— Eles querem me levar para Barbadis. O Leon veio me buscar.

— Que? Te buscar? Do nada?

— Sim, existem regras até para o crime. O Lucas e o Leon, juntos, não tiveram poder de força total no tráfico em Lagos. O motivo, pelo conselho, era que meu pai não tinha só um filho, eram dois. E eu era o mais novo, porém..

— O legítimo e assumido.

Interrompi, entendendo toda aquela merda. Minha garganta formigou, a frase quase não saiu. Eram mil coisas para processar e mais mil novas mágoas para a conta da ''nossa história''. Gustavo me encarava enquanto eu, de pé, caminhava lentamente de um lado para o outro. Tinha perdido o senso de raciocínio.

— Fala alguma coisa, seu silêncio tá me matando.

Gustavo sussurrou.

— Falar alguma coisa..

Respondi, em tom irônico. Ele levantou da cadeira e deu alguns passos até a mim. Parei de andar e encarei seu rosto.

— Não chega perto, Gustavo!

Ameacei, gesticulando com as mãos. Ele parou em minha frente.

— Não faz isso.

Pediu, contorcendo o rosto.

— Não faz isso? Você não quer que eu não faça exatamente o que? Ficar extremamente puta com todas as suas mentiras? Ou com o fato de estar jogando todo seu processo de ter uma vida honesta no lixo?

— Gabriela..

— Não, Gustavo, já sei! Você quer apoio, quer que eu saía por aí, gritando: Uhul! Você mentiu muito e vai embora! Vai ser desonesto de novo! Irado!

Gritei, debochando, nessa hora eu já estava tomada pela raiva. Ele me encarava
atentamente ainda.

— Eu não tenho escolha.

Respondeu ele, em tom baixo e firme.

Era demais, tudo aquilo já havia ultrapassado o meu limite. Eu estava com raiva do meu sogro morto, da minha sogra morta, de Gustavo, graças a Deus vivo mas nem tanto graças a Deus assim, porque eu mesma queria mata-lo, eu nem sabia se isso contava como pecado, ter raiva assim de tantos mortos. Eu sabia que a história era complicada quando me enfiei nela mas assim, feito um filme de terror, jamais pensei.

Dei de ombros, assentindo e tragando a saliva. Me afastei dele, caminhando até a grande janela. O sol e a luz bateu em meu rosto, esquentando-o. Lá fora, dava para visualizar bem os carros e as pessoas transitando.

— O que foi verdadeiro? Entre nós.. O que era verdade sobre você querer e lutar pra ficar comigo, no final?

Perguntei, tentando manter a calma. Em seguida, cruzei meus braços, me arrepiando ao falar aquilo.

— Tudo. Meu amor, olha aqui pra mim. Tudo foi verdadeiro, o que o Lucas fez foi me ''livrar'' de uma coisa que eu não queria, de qualquer forma isso iria acontecer. Não existe nada entre nós que não seja verdadeiro. Você é a coisa mais real que eu tenho na minha vida.

Gustavo explicou, agarrando meu rosto e fazendo com que eu olhasse em seus olhos. Engoli em seco e tirei meu rosto devagar das suas mãos.

— Não to conseguindo acreditar em nada disso agora.

Eu estava magoada demais para essa conversa.

— Tudo bem você estar chateada, puta e brava comigo mas, só te peço pra nunca desconfiar do meu amor por você. Eu te amo, Gabriela, você é a mulher da minha vida.

Gustavo continuou falando, pareciam facadas em meu peito. Ele afastou seu corpo, me dando espaço. Eu não conseguia encara-lo. Coloquei as mãos sobre o rosto, alisando e ouvi meu telefone tocar dentro da bolsa. Fui até ele, era Paloma. Visualizei as mensagens por cima, assim que a chamada se perdeu e falavam sobre os afazeres na editora.

— Eu preciso ir pra editora. Já deixei Paloma tempo demais sozinha.

— Tudo bem.

— Precisamos conversar mas preciso de um tempo.

— Eu, queria poder te dar ele, mas..

Gustavo pausou a fala, parecia pensar. Ele desviou o olhar e coçou a cabeça.

— O que?

Insisti.

— Eu não sei se vai dar.

— Por que?

— Eu vou amanhã.

Por alguns segundos, um mundo inteiro pareceu desabar sobre a minha cabeça.

La puta llOnde histórias criam vida. Descubra agora