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A noite caiu, fiquei todo o tempo agoniada com tanto silêncio. Não sabia o que ia acontecer e ninguém mais entrou naquele cômodo para falar comigo. A dor de cabeça ia e voltava e eu havia colocado todo o almoço para fora. Eu não estava mais com sensação de medo, e isso soava meio que estranho para mim.

Meu mal-estar era o que mais me preocupava, tive receio de que a comida servida a mim estivesse estragada, ou até mesmo envenenada, todas as vezes que ia no banheiro do cômodo, analisava mil e uma possibilidade.

Me sentei na cama, tentando me recompor. Meus pensamentos voaram, eu tentava encontrar um jeito de resolver tudo aquilo.

— Ele me envenenaria? Mas, a troco de que?

Pensei, em voz alta.

— Não ganharia nada com isso.

A voz de Lucas soou de trás da porta. Me assustei e soltei um mini-grito.

— Credo! Parece assombração!

Resmunguei, levando às mãos ao peito.

— Eu não quero te matar, só quero o Gustavo. Por tanto, acalme-se.

— Pode ter certeza que eu to bem mais tranquila com essa informação, muito obrigada, Lucas, você é ótimo.

Debochei, gesticulando. Ele sorriu, cinicamente, de volta.

— Venha comigo.

— Onde?

— Vem logo.

Mandou, abrindo a porta. Me levantei, curiosa e saí em disparada.

Passamos para uma sala, que por final era bem arejada. O vento fazia balançar todas as cortinas penduradas nas janelas enormes e transparentes. Dava para ver, ao lado de fora, o mar. Parecia lugar para tirar férias, literalmente. Lucas ia andando sem se preocupar comigo, achei, no mínimo, estranho mas continuei a caminhar por onde ele me guiava. No fundo, eu estava mais curiosa para descobrir sobre a motivação disso tudo, do que de fugir. A essa altura da minha vida, eu não sabia se tinha alto gosto para investigações, ou se era completamente louca e masoquista.

No fundo, você sabe que precisa de uma boa terapia. Mas vamos deixar isso em silêncio.

Meu subconsciente cismava em se intrometer em minhas especulações.

Lucas parou e abriu uma porta alta, amadeirada, ele abriu a porta e deu espaço para que eu passasse para o lado de fora. Na mesma hora, quando coloquei os pés na varanda, puder ver, em minha frente e não muito distante, o mar se chocando contra a areia.

A maresia bateu em meu rosto e eu fechei os olhos. Por um segundo, nada disso parecia ser um sequestro, senti o perfume de Gustavo em meu nariz e seu rosto ficou nítido em meus pensamentos.

— Só não tenta fugir, eu vou te achar, lembra que você tá na minha área.

Lucas estragou meus pensamentos com aquela voz irritante. Abri os olhos e ele me encarava, enquanto colocava seus pés na areia. Torci o nariz, sem responde-lo.

— Venha, vamos caminhar, precisamos, hm, conversar.

Chamou, pulando da varanda para a areia, que basicamente, era o "quintal" da casa. Repeti seus passos e coloquei os pés na areia também.

— Você vai responder as perguntas que te fiz?

Cutuquei, tentando arrancar algo dele.

— Não, você irá responder as minhas.

— Assim não tem graça, você já sabe tudo. Você podia começar me dizendo como conheceu a Júlia? Como ela entrou no seu plano?

Insisti.

— O que você viu no Gustavo? O que te fez querer ele?

Ele retrucou, surpreendendo-me completamente.

Arqueei a sobrancelha, pensativa. Aquela pergunta havia me colocado para pensar mais do que o esperado. Por um minuto, percebi que eu nunca havia parado para pensar em uma resposta para aquilo.

— Olha, Lucas, eu não sei.

Respondi, sincera.

— Não sabe?

— Não, eu não sei. Eu poderia te contar toda nossa história, de trás para frente, de frente para trás. Poderia descrever todos os trejeitos, manias, física e mental do seu irmão. Eu poderia numerar coisas que amo nele e coisas que detesto também. Poderia descrever as sensações que senti e, ainda sinto, quando ele me encara com aqueles olhos de amendoim. São muitas coisas que eu posso te dizer sobre ele, mas não sei, sinceramente, qual, onde e como foi nosso ponto de partida. É clichê mas, aconteceu. Simplesmente, quero dizer, nada simples, mas, aconteceu.

Brinquei com o final, dando uma risada. Meu olhar, que se encontrava distante, voltou para Lucas. Pude perceber que ele é quem havia ficado distante com a minha explicação. Ele parou de caminhar e virou-se para o mar, cruzando os braços. Estava sério e parecia absorver minhas palavras ainda.

— É assim que se sente com Júlia? Por isso a pergunta?

Eu tinha que arrancar algo sobre como aquela louca havia entrado nisso tudo.

— Não. Eu queria saber porque meu pai escolheu ele.

Engoli em seco sua resposta, ficando totalmente sem graça.

É, acho que eu não deveria ter perguntado nada.

O clima pesou, a conversa leve sumiu. Lucas descruzou os braços e respirou fundo, me dando as costas. Continuei parada, assistindo ele caminhar.

Ia me deixar sozinha? Eu poderia fugir?

Ele parou, um pouco distante e me encarou.

— Não seja burra e não tente fugir. Aproveite o ar fresco.

Disse, balançando a cabeça em direção as minhas costas. Virei-me e tinha três ou mais homens, vestidos de terno preto e com escutas no ouvido. Estavam bem longe mas todos me encaravam.

Bem filme! Eu mereço.

Sorri, debochadamente.

— Que nada! Amando essa vida aqui.

Ele não sorriu e virou-se, andando novamente. Decidi encarar o mar, respirando fundo.

— A propósito, Gabriela. Parabéns.

Lucas gritou, já chegando perto da casa. O vento trouxe a voz dele, bem falhada. Encarei-o de novo, gesticulando com as mãos.

— Parabéns?

Gritei de volta, espremendo os olhos para conseguir enxerga-lo.

— Você tá grávida.

La puta llOnde histórias criam vida. Descubra agora