Entrei na editora e já no primeiro andar, pude comprovar que Thomas estava certo. A luz do dia entrava pelas frestas das portas e janelas espelhadas pelos corredores, tentando iluminar algo naquela escuridão.
Peguei meu celular dentro da bolsa e liguei a lanterna, espremi meus olhos, tentando visualizar uma locomoção. Fui caminhando devagar, podendo assistir as luzes do elevador desligadas de longe. Dei de ombros e entrei na escada de incêndio. Assim que subi o primeiro lance, ouvi uma porta bater, o som alto, devido ao eco, fez com que eu me assustasse. Dei dois pulinhos, inclinando o corpo logo após e joguei a luz do celular escada à baixo.
— Seu Antônio? É o senhor?
Chamei pelo porteiro do prédio. Tive um enorme silêncio como resposta e acabei por dar de ombros novamente. Em seguida, continuei subindo.
Cheguei no terceiro andar com um pouco de falta de ar. Pude notar o quão sedentária eu estava, o costume do elevador era um péssimo hábito.
Abri a porta e saí tomando mais um susto para a conta do dia, espremi os olhos, com força e pude assistir uma silhueta encima de uma enorme escada, ao final do corredor. As vestimentas totalmente semelhantes ao homem do estacionamento fez com que meu coração se acelerasse e algumas gotas de suor se formaram pelo meu corpo.
— Aí, meu Deus!
Gritei, colocando as mãos sobre o peito.
Assim que terminei de falar, um estrondo grande saiu da caixa de registro e a luzes dos corredores da editora foram se ascendendo. O rosto do homem ficou mais nítido e claro.
— Dona Gabriela?
Seu Antônio sussurrou, colocando a mão sobre meus ombros.
Por um impulso, dei um tapa em sua mão. Ele havia chego por trás, estava saindo, também, da porta da escada de incêndio e eu, estava logo a frente, tampando seu caminho para a saída.
— Me desculpa. Oh, céus, o senhor me assustou. Perdão.
Tagarelei, nervosa e fui me afastando devagar.
— Que nada, me desculpe também, eu realmente não tive a intenção de assusta-la.
Pediu ele, gesticulando com as mãos.
Minha atenção se desligou por alguns segundos dali e focou no homem de preto, que se aproximava de nós.
— Então, Antônio, tá tudo certo com o gerador, ele tem boa durabilidade. Vai precisar de uma manutenção completa assim que o problema dos fios forem resolvidos, o pico queimou o verde e o amarelo, que correspondem ao primeiro e segundo andar.
O homem foi dizendo, sem me encarar.
De perto, pude ver suas ferramentas penduradas em sua cintura com o auxílio de um suporte. Como também, pude analisar a marca da empresa, como um rótulo e estava estampada na altura de seu peito. As linhas de expressão no rosto, que pareciam cansados, o cabelo grisalho e grande fugindo do boné, características totalmente distintas, definitivamente não era o homem do estacionamento e eu estava ficando louca e paranóica.
Será que realmente vi algo? Céus!
— Jader, essa é a dona Gabriela, uma das donas deste lugar. Dona Gabriela, esse é o Jader, um grande amigo e eletricista. Eu acho que a senhora percebeu que tivemos, na verdade, não só nós, todos da rua, tiveram problemas com a luz.
Seu Antônio nos apresentou, explicando.
— Que cabeça a minha, estou tão ligado no problema que deu em toda essa rua que nem a vi. Perdão, senhora.... Jader!
Fui concordando com a cabeça e cumprimentei o homem com a mão, educadamente.
— Compreendo. Eu fiquei sabendo por Thomas, do estacionamento aqui ao lado, ele me explicou essa fatalidade mas que bom que temos o senhor, seu Antônio e o senhor, seu Jader, obrigada. O senhor me avisa o que for resolvido, os valores e tudo mais, ok? Agora, com licença, preciso ir.
Falei, por final, saindo dali.
Eu estava sentindo meu corpo congelar e minha cabeça rodava, com algumas pontadas fortes. Uma mistura de sensações embrulhavam meu estômago e eu pude sentir calafrios percorrendo meu corpo.
Corri para o banheiro e joguei um pouco de água no rosto. Acho que havia passado por sensações e sustos demais, por hoje.
Senti todo meu café da manhã vir até a minha garganta e não consegui controlar, despenquei meu corpo até a privada e acabei vomitando.
Quando terminei, me levantei com dificuldade, tirei minha necessaire da bolsa e escovei meus dentes, encarando meu rosto, totalmente desidratado.
[....]
Faziam, mais ou menos, meia-hora que eu estava jogada no pequeno sofá que tinha em minha sala. Minhas mãos estavam pousadas sobre minha cabeça e meus olhos, fechados. Eu não estava me sentindo bem mas sabia que tinha sido toda aquela manhã turbulenta.
Ouvi quando a minha porta abriu e abri os olhos devagar.
— Amiga? Que loucura aconteceu com essa rua. Todos os prédios empresariais estão revoltados!
Paloma gritou, eufórica e foi adentrando.
— Uma loucura, amiga, uma loucura...
Sussurrei, tentando manter meus olhos abertos.
— Gabriela do céu! O que houve? Você tá transparente. Está se sentindo mal?
Paloma veio até mim, se abaixando e me analisando com o olhar. Eu não estava me sentindo bem mas não sabia que a situação era tão ruim ao ponto de perceberem.
— Estou, amiga. Passei super mal quase agora. Aconteceram tantas coisas, acho que estou louca.
Tentei explicar, mas minha voz saiu totalmente embaralhada. O meu raciocínio também não estava para lá dos melhores.
— Que isso! Vamos ao médico, eu te levo!
— Não, amiga, me auto-mediquei já. Hoje precisamos resolver muita coisa, não dá para adiar. Tenho certeza que vai passar, preciso apenas de alguns minutos quietinha. Me dá meia-hora e eu vou estar nova.
— Tem certeza?
— Tenho certeza, meia-hora.
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La puta ll
RomanceO segundo suspiro entre nós dois parecia o último. O que era real? O que era nós dois?