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• EXTRA: Narração por Gustavo •

Quarenta e duas horas agoniado, cada segundo longe dela era contado por mim. Eu estava me sentindo um verdadeiro inútil desde o momento em que ela gritou por mim na chamada e eu não pude atravessar o telefone para ajudar o amor da minha vida.

O ponteiro do relógio de parede, em sintonia com o meu de pulso, pareciam ficar a cada segundo mais alto dentro da minha cabeça.

Rodrigo e Paloma estavam sentados ao meu lado, de mãos dadas. Não saíam de perto um segundo.

Olhei de relance e inquieto para o relógio novamente, enquanto balançava a perna, na fila do departamento de polícia.

— Porra! Eu to cansado de esperar, ninguém volta pra pegar essa porra de documento!

Gritei, me levantando. Rodrigo prontamente me encarou e levantou também. Alguns agentes, que perambulavam pelo corredor voltaram os olhos para nós.

— Algum problema, senhor?

Um deles disse, com um café nas mãos.

— Se eu não tivesse um problema você acha mesmo que eu estaria aqui?

Respondi, rude e encarei seus olhos.

Ele arqueou as sobrancelhas, chegando mais perto.

— Eu acho melhor você mudar o seu tom.

— E eu acho melhor...

— Mantém a calma, irmão. Não é hora de se desesperar, isso não vai levar a lugar algum!

Rodrigo levantou, me puxando e sussurrou no meu ouvido.

— Calma? A cada minuto que esse merda de delegado demora lá dentro fazendo sei lá o quê, a Gabriela tá nas mãos de um bando de psicopatas, Rodrigo! Porra!

— Como é? Merda de delegado? Eu ouvi bem?

O agente insistiu, destacando uma das algemas do bolso.

— Meu amigo, por favor, estamos todos desesperados, releva, vamos manter a calma.

— Eu acho melhor o senhor, Dr., acalmar o seu amigo, ou ele vai dormir aqui hoje.

— Preciso me acalmar enquanto minha mulher tá sequestrada por psicopatas e os senhores bebem cafézinho.

Assim que terminei de falar, ouvi um choro desesperado. Encaramos na direção e era Paloma. Com as mãos sobre a testa, ela chorava com a cabeça baixa. Engoli em seco e respirei fundo.

Ele tá certo, Ro, meu Deus, minha amiga tá em perigo! Meu Deus, meu Deus!

Murmurou, desesperada, enquanto Rodrigo se abaixava para tentar acalma-la.

Passei as mãos sobre o rosto, aquilo era mais do que eu podia aguentar. Joguei os papéis com o documento na cadeira e saí dali.

Em frente ao departamento havia uma orla, caminhei até a mureta e coloquei um dos pés sobre o banco, apoiando. Em seguida, tirei um cigarro do bolso e acendi. Minha cabeça parecia que ia explodir de tanto pensar.

Senti uma mão em meu ombro, enquanto tragava a fumaça. Encarei por cima do ombro e era Paloma.

— Rodrigo pediu pra avisar que entrou, com os papéis e a gravação. Me dá um trago?

Ela pediu, soluçando. Dei duas batidas para as cinzas caírem e estendi para ela.

— Desculpa pela minha atitude lá dentro, não quero te desesperar. Só que, parece que eu to enlouquecendo.

Expliquei, enquanto ela soltava a fumaça, encarando o céu.

— Eu te entendo. Esse sentimento de culpa tá acabando comigo. 

— Eu não paro de pensar em como não vou segurar essa onda, Paloma. Do que vale a honestidade sem a Gabriela? Ela me tornou o que sou e sem ela, isso aqui simplesmente não existe.

— Não estamos sem ela! Não faz besteira, pelo amor de Deus!

— Eu to a quarenta horas sem ela, to a quarenta horas sendo honesto, jogando um jogo limpo e do que tá valendo? Nada, sem notícias, a alguns anos atrás, a cabeça do Lucas já estaria nas minhas mãos, eu to cansado de ser bom!

Murmurei por fim, enquanto ela me encarava em silêncio.

Paloma nunca iria me apoiar a voltar a ser alguém que há prendeu em um bordel, mas, aquele olhar que ela me deu, naquele momento, dizia:

"Faça o que for necessário, traga ela de volta!"

E era isso que eu ia fazer.

La puta llOnde histórias criam vida. Descubra agora