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Estávamos a um pouco menos de meia-hora em silêncio. Gustavo bebia água, sentado no sofá, de pernas cruzadas e eu, estava ao seu lado, olhando para frente.

— Você vai continuar em silêncio? Não me explicando nada?

— Gabriela, agora não, por favor.

Ele pediu, pousando a água no braço do sofá e levando as mãos a cabeça.

— Agora não, Gustavo? Você vai continuar ignorando o fato de ter, repentinamente, aparecido um irmão que eu nem sabia que você tinha?

Esbravejei, me levantando. Gustavo não subia o olhar e nem me encarava.

— Agora não.

Ele sussurrou, repetindo.

Fiquei mais furiosa ainda. Caminhei até a minha bolsa e peguei-a. Em seguida, fui caminhando até a porta em passos largos. Eu precisava socar algo e se não saísse dali, seria a cara dele.

— Onde você vai? Não vamos até a adoção?

Ele perguntou, agora, me encarando. Me virei, bruscamente.

— Impressionante como você... como você faz esse jogo ridículo, ainda, depois de anos. "Ignore tudo o que aconteceu, meu amor e vamos ter uma vida feliz e perfeita". Gustavo, eu acabei de saber que você tem um irmão que eu nem sabia da existência e você se nega a me explicar como isso é possível, se nunca vi, se nunca foi citado. Porra! Ele tocou no nome da sua ex, que infernizou a minha vida naquele...

Travei ao lembrar da boate. Eu estava metralhando tudo em cima dele, com tanta fúria e mágoa, que quando me dei conta, já estava chorando.

Gustavo permanecia imóvel, sentado. Pelo ao menos, agora me encarava, enquanto mexia em seu queixo. Parecia me analisar e absorver tudo que eu falava.

— Não estou te negando nada...

— Você tá, você tá sim! Você tá se fechando, tá fazendo o que aquele babaca, de anos atrás, faria. E sabe o que mais? Eu to percebendo que eu não te conheço. Você nunca deixou eu te conhecer verdadeiramente. Quem é você? Eu não sei.

Gritei.

Os olhos de Gustavo queimaram e ele desviou seu olhar, descruzando as pernas e apoiando a cabeça em suas mãos.

— Por favor, me deixa te explicar sobre isso com calma e depois. Não estou pronto.

— Pronto? Ah, faça-me o favor.

Eu estava indignada com fato de Gustavo querer adiar o inadiável. Isso havia me irritado tanto que gotas de suor escorriam pelas minhas costas e pescoço. Certeza que a essa altura eu estava parecendo um tomate.

Gustavo se levantou, ajeitando sua camisa e me encarou nos olhos.

— Vou te explicar tudo, só preciso resolver umas coisas antes. Vamos na adoção hoje e amanhã eu...

— Amanhã? Gustavo, vá a merda!

Gritei, abrindo a porta, saindo e batendo-a com toda força do meu corpo.

[....]

Fui para casa com muita raiva. Batia tudo que via pela frente no meu apartamento e pisava fundo de um lado para o outro. Eram tantas coisas que tudo isso me causava, ansiedade, medo, receio, que tudo que eu menos precisava era de novas peças nessa história. Ou velhas peças, ou qualquer peça que pudesse aparecer.

Oh céus, um irmão... Júlia de novo, não!

Tudo parecia ter caído na minha cabeça, de uma forma inesperada. Eu estava uma pilha de nervos e com muitos questionamentos na cabeça.

É isso mesmo que você quer para sua vida?

Subi as escadas para o meu quarto e sentei na cama, respirando fundo. Pensei em ligar para a minha terapeuta. Eu precisava dela. Um, dois, três, quatro toques e nada dela me atender. Tentei mais duas vezes, deu caixa postal.

— Porra!

Gritei, levando meu rosto até o travesseiro e afogando.

Não é isso! Não é isso que eu quero para minha vida.

Tirei o travesseiro e encarei o armário, em minha frente. Me levantei e abri a parte em que ficava as roupas e coisas de Gustavo. Por alguns minutos, encarei ali, tentando controlar minha respiração.

Por um impulso, comecei a tirar todas as roupas dele do cabide e jogar na cama. Em seguida, fui até nossas duas malas e joguei na cama também, abrindo-a. Eu jogava com raiva, querendo descontar tudo ali. Eu nem pensei no que estava fazendo, só estava fazendo.

Ouvi a porta de casa bater e ignorei. Continuei colocando as roupas de Gustavo dentro da mala e quando me virei, para pegar o resto, me deparei com ele, parado, me encarando e recostado na porta. Seu semblante estava sério, e ele estava com as mãos dentro do bolso da calça. Encarei-o também.

— O que significa isso?

Ele sussurrou, bem baixo. Estremeci, engolindo em seco.

La puta llOnde histórias criam vida. Descubra agora