O ACORDO

cavalgando

         Naquela tarde Hian chegou ao estábulo, iria cavalgar, porém, se surpreendeu ao ver Violet montada em uma égua.  

  — Indo a algum lugar?    

— Que susto senhor Hian! — Respondeu Violet levando a mão ao peito, o senhor Jonas, o cavalariço que estava, por perto, deu uma sonora gargalhada, e foi preparar o cavalo do senhor.   — Sim estou indo a algum lugar ou melhor a lugar nenhum, só vou cavalgar um pouco. — explicou enquanto acariciava o pescoço da égua que pisoteava.   

— Vou com você, então.   

Eles cavalgaram em silêncio por um tempo, sem pressa. Ambos perdidos em seus próprios pensamentos.  

— Obrigada por ter ido ao Jardim, ainda não te agradeci, é muito importante para Hope ter o pai por perto.   

— Fiquei feliz por ter ido. Você está fazendo um ótimo trabalho com ela.  

— Ela é muito esperta logo, logo vai estar tagarelando sem parar e correndo por todo lado.   

O silêncio voltou, Violeta colocou a égua em um trote rápido. Após algum tempo chegaram em um Lago.  

  — Deixe-me dar água aos cavalos, disse Hian. Violet desmontou entregando as rédeas de sua égua para ele.   

Ela amava a sensação do vento em seu cabelo, do calor do sol em seu rosto, o cheiro das pequenas flores… O canto dos pássaros, amava a sensação de liberdade ao cavalgar. Estava precisando disso, os últimos acontecimentos foram intensos, mas ali rodeada pela natureza, se sentiu relaxar, uma paz a encheu e sem perceber começou a cantar…  

— O que você está cantando?

— Salmo de número 148;

1 Aleluia louvem o senhor desde os céus louvai-o nas alturas , louvem no todos os seus Anjos, louvem no todos os seus exércitos celestiais louvem no sol e lua, louvem no todas as estrelas cintilantes. Louvem no os mais altos céus e as águas acima do firmamento. Louvem todos eles o nome do senhor, pois ordenou, e eles foram criados. Eles estabeleceu em seus lugares para todo o sempre. Deu-lhes um decreto que jamais mudará. Louve o senhor vocês que estão na Terra serpentes marinhas e todas as profundezas, relâmpagos e granizo, neve e neblina, vendavais que cumprem o que ele determina, todas as montanhas e colinas, árvores frutíferas e todos os cedros, todos os animais selvagens e os rebanhos domésticos todos os demais seres vivos e as aves, moços e moças, velhos e crianças louvem todos o nome do senhor pois somente o seu nome é exaltado e sua majestade está acima da Terra e dos céus.    Estar aqui vendo toda essa imensidão, toda essa beleza me fez lembrar desse cântico, ele era o preferido da Senhora Davina.  

  — Como você consegue depois de tudo? — Ele não sabia como formular melhor a pergunta, mas não precisou viu no olhar dela que ela tinha entendido.   

— Passei por muitas coisas, algumas dúvidas surgiram, afinal sou humana, mas eu descobri que a culpa não era de Deus. Cada pessoa é responsável por suas ações.

Ele a viu olhar para longe, olhar para o céu.     

— Quando fui sequestrada, sofri muito, quando não conseguia salvar alguém sofria também. Quando soube da morte do senhor Comarc foi a pior fase, eu o tinha como um pai, mas no meio do sofrimento percebi que tinha duas escolhas, me amargurar, me afastar de Deus e culpá-lo ou eu podia aceitar seu amor, seu perdão e prosseguir. Com a Senhora Elise aprendi a olhar para as pequenas coisas boas da minha vida. A procurá-las, aprendi a valorizá-las e descobri que elas existem aos montes. Então comecei a escrever em um diário todas as coisas com que Deus havia me abençoado, é minha lista das bençãos, ou listas das alegrias, ou como a Senhora Elise chamava motivos para agradecer! E percebi serem, na verdade, muito mais do que as coisas que eu tinha para reclamar.

Ela sorriu ao falar da senhora, ela aprendeu a amá-la durante aquele tempo e sentia a falta dela.   

— No Início e outras vezes tive que mergulhar fundo no profundo lago da minha dor e da imensa saudade para achá-las… e eu sempre achei… nós ficamos tão amarrados as coisas que não temos, que não podemos mudar ou que perdemos… que dão errado ou não foi como queríamos que perdemos as pequenas coisas e essas coisas pequenas, no final são sempre as mais importantes.

Por um tempo só se ouve o farfalhar das folhas ao vento.

— É verdade, todo mundo em algum momento sofre nesta vida, e algumas pessoas mais que outras, mas é assim a vida é do que a vida é feita. E até na dor e no sofrimento ou até em meia a saudade se você olhar bem há bons momentos e se você deixar esses momentos, essas pequenas coisas passarem você estará deixando a vida passar. Aprendi a agradecer a Deus no meio das provações. Porque isto, me faz mais forte. É fácil não.  

   Ela parou pensando no que dizer, de uma forma que ele entendesse. Às vezes ter fé não é fácil, nos piores momentos pior ainda. Mas sem ela, sem a certeza de tempos melhores, as pessoas afundam ainda mais na dor e no desespero, a fé nos faz ver além do momento, nos dá forças para seguir, pois cremos que aquela situação vai passar…  

  — Hian não foi Deus quem me sequestrou, ele não foi o culpado, foi a Senhora Maísa e aqueles homens que tomaram as decisões.— Ela ficou em silêncio esperando o impacto das palavras diminuir.   

No silêncio, Hian tentava assimilar tudo o que ouvia, estava confuso. Enquanto pensava se lembrou de uma conversa com seu pai.   

— Filho pense bem antes de tomar uma decisão, ou antes, de fazer alguma coisa. Você tem muitas opções, muitos caminhos pelo qual pode escolher caminhar, mas depois de escolher você terá que passar por ele e esse caminho pode ser cheio de grama verdejante, conter muitos pedregulhos ou até mesmo vários espinhos. Lembrem-se, suas escolhas não afetam somente você.   — Mas pai, porque Deus não nos mostra logo o caminho certo? Seu pai rio.    — Porque Ele quer que cresçamos, Ele nos quer Fortes, mas Ele deixou algumas dicas filho é só seguir. Porém, independente do caminho que você escolher, saiba que Ele vai estar lá te amando, te dando forças e pronto para cuidar de você no final.    Ele era muito novo para entender naquela época, contudo agora começava a fazer sentido. Seu pai falava de fé.    

Enquanto ele estava perdido nas memórias, Violet se sentou em um tronco próximo. E ao ver que tinha a atenção dele começou novamente a explicar de outra forma;   

— Hian vou te dar um exemplo; Hope ficou doente, não foi porque Deus quis, foi por falta de conhecimento e das ações de Evelyn. E de todos que não perceberam ou agiram para ajudar, mas Deus estava cuidando dela, Ele permitiu que você ouvisse sobre mim e você escolheu me trazer aqui. Ele sabia que ela precisava de ajuda e eu poderia ajudar. Você tinha escolha de acreditar na história da curandeira ou não, e você acreditou Hian e através da sua escolha e com a ajuda de Deus hoje Hope está bem.

   E como era costume, ele percebeu que sempre ao terminar de falar tudo o que ela achava importante, ela se foi. O deixando mais uma vez com muito no que pensar.   

Violet cavalgava em um trote rápido, ela acreditava de todo coração em tudo que disse.     Nossa caminhada por aqui é cheia de altos e baixos, porém não precisamos passar por cada etapa sozinhos, abrigar sentimentos de ira, ressentimentos, amargura nos adoece, nos cega para ver a situação de outra forma.