Capítulo 31

120 19 0
                                    

Joseph

Vejo Nathalie ir para o quarto animada. Provavelmente Simon a deixou ir na rua sozinha. Mas não faz sentido. Ontem ele me ligou preocupado dizendo que Klaus tinha recebido uma foto de Nathalie no mercado, nada estava escrito, mas alguém estava vigiando-a. Nosso único palpite era Felipe ou alguém trabalhando pra ele.

Mas como ele nos encontrou? Estamos em outra cidade, eu sempre tomei muito cuidado quando andava com ela na rua, ninguém nunca nos seguiu. Não que eu tivesse visto. Espero não estar falhando no meu trabalho.

Escuto meu telefone tocar e esqueço minhas preocupações. Na tela indicava que era Simon. Atendo o telefone e ele começa a falar em alemão. Provavelmente não queria que Nathalie entendesse a conversa.

*Dialogo em Alemão*

-Joseph... Nathalie está ai perto? - Ele pergunta preocupado.

-Não senhor. Ela está entrando no quarto. - Falo olhando para Nathalie.

Ela para na porta e fica me ouvindo por alguns segundos, mas logo depois entra e fecha a porta. Eu vou para a varanda e fecho a porta.

-Eu queria dizer não. Mas ela precisa sair. E está começando a ficar feliz... Vou usar o aplicativo fantasma que você instalou no celular dela... Pra saber aonde ela está... Acompanhar.... E você a segue de longe. Só por precaução. - Ele termina preocupado.

-Sim senhor. Vou cuidar dela. Não se preocupe. - Falo e Simon agradece.

Ele desliga o telefone. Mas ele estava nitidamente preocupado. Nathalie bate na porta da varanda e eu faço um sinal para ela abrir. Ela abre a porta feliz, sorrindo.

-Joseph... Estou indo... Volto em alguns minutos. Estou com o celular. Qualquer coisa me ligue. - Ela sorri e vai em direção a porta.

Espero ela fechar a porta e vou correndo. Escuto o barulho do elevador e abro a porta lentamente. Examino o corredor e confirmo que Nathalie entrou no elevador. Desço as escadas correndo e chego na recepção. Vejo que o elevador parou em um andar e depois em outro. Vou correndo até o porteiro.

-Nada diga nada a Nathalie. Depois explico. - Falo rápido e me escondo na garagem.

Vejo Nathalie passar pela recepção. Ela fala alguma coisa para o porteiro que sorri. Nathalie passa pela porta e começa a andar de forma mais lenta em direção ao portão. Ela se aproxima, abre o portão, passa por ele e fecha. Fica encostada por mais alguns segundos, respira fundo e vai andando em direção a farmácia.

Eu vou andando até o portão e saio. Fico acompanhando-a de longe. Nathalie anda olhando para todos na rua, segura a bolsa com força o que demonstrava medo. Ela para de uma vez só, parecendo estar assustada e abaixa a cabeça. Vejo um homem olhar sorrindo pra ela, assim que ele se aproxima, fala alguma coisa e Nathalie começa a andar. Provavelmente falou alguma besteira pra ela.

Fico dividindo a minha atenção entre vigiar Nathalie e todos a nossa volta. Tento analisar cada pessoa. Ver se alguém se parece com Felipe, se alguém está seguindo-a ou se me chama atenção de alguma forma.

Depois de longos minutos Nathalie chega a farmácia. Ela entra de uma fez e sorri para as meninas que estavam no caixa. Eu entro e fico sempre na fileira atrás dela. Nathalie passa o tempo todo olhando em volta, sempre demostrando medo.

Ela escolhe alguns produtos, pega um cesta e coloca tudo dentro. Continua olhando mais algumas coisas no mercado e para na sessão de tintas. Fica olhando para uma caixinha por horas. Pega a caixa mais logo devolve. Uma atendente se aproxima dela de forma simpática e começa a conversar. Nathalie fica um pouco mais calma e depois de alguns segundos pega a caixinha de novo.

Ela vai para a parte de shampoo e pega algumas coisas. Olha na direção do caixa e fica analisando por alguns segundos. Vai andando lentamente e começa a passar os produtos. O homem fica olhando pra ela sorrindo e Nathalie fica o tempo todo de cabeça baixa. Ele fala como se estivesse flertando com ela e Nathalie parece estar constrangida.

Depois de longos minutos ela entrega o dinheiro, o homem devolve o troco e toca na mão dela como se fosse segurar. Ela puxa a mão rápido e sai da farmácia. Espero alguns segundo e vou atrás. Nathalie repete o movimento de segurar a bolsa com força e ficar de cabeça baixa. Ela vai andando o mais rápido que pode até que um homem para na frente dela sorrindo. Ela fica paralisada enquanto o homem fala algo.

Eu me aproximo um pouco e olho sério pra ele. Queria poder fazer algo. Mas ela não pode saber que eu estava seguindo. Ela ficaria chateada comigo e com Simon. E eu não teria feito meu trabalho direito. O homem me olha e sai da frente dela. Nathalie anda mais rápido, quase correndo. Eu posso por ele e o empurro com força. Nathalie corre até o portão e assim que abre ela entra. Me aproximo lentamente e vejo o porteiro fazendo um sinal dizendo que ela estava esperando o elevador.
Ele abre o portão pra mim e eu entro. Vou direto para a garagem. Natalie sobe e eu fico pensando em que desculpa vou dar para chegar depois dela. Vou andando até o porteiro e assim que chego na portaria ele começa.

- Ela estava chorando. Aconteceu algo? – Ele pergunta preocupado – Ela nem falou comigo. Só passou direto pedindo desculpa.

- Um homem parou na frente dela e falou alguma gracinha. – Falo irritado.

- Coitada dela. Da última vez ela voltou melhor. Assim ela nunca vai conseguir sair de casa. – Ele fala e volta para o balcão.

Vou andando na direção do elevador. Entro e logo estou no meu andar. Abro a porta e olho para a casa. Estava silencioso. Tranco a porta e vou na direção do quarto de Nathalie. Escuto ela chorar e fico em um grande dilema se devo bater na porta e tentar acalma-la ou de dou espaço a ela.
Tenho minhas meninas. Eu já aprendi a lidar com elas. Tudo vai depender de mil coisas. Mas Nathalie.... Não sei lidar com ela. Escuto meu telefone tocar e lembro de Simon. Atendo rápido e vou para a varanda. Ele fala em alemão e eu continuo o diálogo assim.

- Como foi? Deu tudo certo? – Ele pergunta ansioso.

-Ah... não senhor. – Falo procurando palavras.

- O que aconteceu? Ela está em casa? – Ele pergunta nervoso.

- Sim... Está tudo bem... Quase... O homem do caixa tentou segurar a mão dela. E um homem na rua ficou parado na frente dela e falou algo.  Ela subiu primeiro e está no quarto chorando. Não sei o que fazer.... – Falo preocupado.

- Estou indo para casa. De espaço a ela. – Simon fala preocupado e desliga.

Vou para a sala e fico sentado no sofá pensando em como iria falar com ela. Escuto o choro dela diminuir, mas sei que ela ainda estava chorando. Os minutos passam e eu fico impaciente. Me sentia um inútil. Eu sei pouco, mas sei que ela sofreu muito e não merecia. Nathalie era uma menina boa. Não merecia passar por nada do que passou.

Depois de mais longos minutos Simon abre a porta. Ele olha em volta procurando por algo na sala, provavelmente Nathalie. Tranca a porta e olha na direção do quarto dela. Deixa a pasta em cima do sofá, solta um pouco a gravata.

- Ela não saiu do quarto ainda? – Ele me olha preocupado.

- Não senhor. – Respondo olhando para a porta.

O recomeço Onde histórias criam vida. Descubra agora