Capítulo 32

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Simon Klein

Me aproximo lentamente da porta do quarto e tento ouvir algo. Encosto a cabeça na porta e ela se abre, eu quase caio dentro do quarto e Nathalie fica me olhando assustada. Ela estava com uma regata e short combinando, como se fosse um pijama. Cabelos molhados e o rosto indicava que ela tinha chorado muito. Ela abaixa a cabeça e fica em silêncio.

- Como foi a ida a farmácia? – Tento acabar com o silêncio constrangedor.

- Foi... Tudo bem... Comprei tudo o que precisava. – Ela fala e passa por mim.

Nathalie vai andando de cabeça baixa para a cozinha, tentando disfarçar. Joseph levanta do sofá rápido e fica nos observando. Eu vou andando atrás dela tentando entender como vou perguntar porque ela estava chorando, mesmo sabendo o motivo.

- Troque de roupa. Vou fazer algo para comer. – Ela fala desanimada.

- Não estou com fome. – Respondo rápido.

- Faço para Joseph... Porque chegou cedo? – Ela fala enquanto mexe no armário.

Nathalie estava o tempo todo de costas, evitando qualquer tipo de contato. Sua voz era seca, as palavras quase cortavam. Mas ela tentava não ser grossa. Eu sei o que deveria fazer. Mas não sabia como fazer. Natalie ainda tinha uma grande barreira de proteção e eu não sabia como quebrar.

- Acabei cedo. – Respondo ainda pensando.

- Que bom. – Ela responde de maneira fria.

- Nathalie... O que aconteceu na rua? – Crio coragem e pergunto.

Ela fica em silêncio por alguns minutos. Para de mexer em tudo como se estivesse pensando. Ela respira fundo e eu me aproximo. Fico do lado dela e vejo que ela está chorando. Nathalie coloca a mão na boca para a abafar o choro. Eu olho para Joseph sem saber o que fazer, ele por sua vez faz um sinal para eu me aproximar.

Coloco a mão nas costas dela e Nathalie se assusta, ela fica paralisada por alguns segundos, eu começo a acariciar as costas dela de leve e seguro a mão que está apoiada na bancada. Mais lágrimas caem do rosto dela. Eu puxo a mão dela de leve e a abraço. Nathalie tenta sair nos primeiros segundos mas logo depois me abraça. Ela começa a chorar mais alto e me abraça com mais força. Fica assim por alguns minutos até que para.

- Me desculpe. – Ela fala baixo tentando recuperar o ar.

Ela se afasta e passa por nós dois de cabeça baixa. Vai para o quarto e entrar no banheiro sem fechar a porta. Eu olho para Joseph e vou andando até o quarto dela. Fico parado na porta do banheiro. Nathalie estava lavando o rosto e tentando segurar o choro.

- Eu quero te ajudar. Mas não sei o que fazer. – Falo sem graça. Me diz o que aconteceu...

Ela respira fundo. Fecha os olhos e levanta um pouco a cabeça. Prende os cabelos e tenta recuperar o ar. Lava o rosto mais uma vez e a nuca. Seca na toalha, sai do banheiro e senta na cama. Eu tiro meu blazer e sento na cama com ela.

- O homem na farmácia ficou me... cantando sabe? Eu senti nojo. – Ela respira de novo. – Depois um homem... Ele falou coisas sujas... Disse que me... – Ela respira de novo – Me... Comeria – A voz dela falha. – Ele falava assim...

- Ele ? Felipe ? – Ela apenas confirma com a cabeça.

- Ele nunca vai me deixar em paz. Nunca vai sair da minha cabeça... Estou quebrada. – Ela fala e volta a chorar.

Eu me levanto, seguro a mão dela com cuidado. Ela se levanta e eu levo a levo até a cabeceira da cama. Ajudo Nathalie a deitar e fico sentada ao lado dela acariciando o seu cabelo. Nathalie continua chorando e isso acaba comigo. Queria matar Felipe, fazer ele sofrer como ela está sofrendo agora.

- Você não está quebrada... Isso vai acabar. – Falo baixo.

...

Nathalie chorou por mais alguns minutos e depois adormeceu, desmaiou de cansaço. Eu me levantei e fui tomar um banho. Joseph estava falando com as filhas ao telefone. Sai do banho amarrando a bermuda e com a toalha pendurada no ombro terminando de secar o cabelo. 

- Joseph pode ir pra casa. Eu cuido dela. Amanhã não vou para o escritório. Vou trabalhar aqui. Tire o dia de folga. – Falo cansado.

- Minha filha disse que isso é normal. Uma hora ela poderia explodir assim com os sentimentos. Não significa que ela está piorando.... Ela pode ficar bem... – Ele fala preocupado.

Joseph era o alemão mais coração mole do mundo. Ele confiava nessa filha e conversava sempre com ela tentando achar maneiras de ajudar Nathalie e eu sou grato por isso. Porque não saberia lidar com ela sozinho.

- Isso é bom... obrigado. – Falo e ele acena com a cabeça.

Joseph pega as coisas dele e passa pela porta. Escuto o barulho da chave trancando a maçaneta. Apago a luz da sala, vou andando para o meu quarto mas antes decido olhar Nathalie. Vou até o quarto dela, acaricio o cabelo dela outra vez e ela acorda.

- Simon? – Ela pergunta assustada.

- Sou eu. – Falo rápido e ela me olha ainda sonolenta.

- Porque está sem camisa? – Ela fala e fecha os olhos.

- Acabei de sair do banho. – Respondo me tapando com a toalha.

- Sonhei que Felipe me matava no aeroporto. – Ela e me olha triste.

- Foi só um pesadelo. Eu não vou deixar ele te machucar. Ele não vai chegar perto de você. Eu prometo. – Eu falo e seguro a mão dela.

- Fica aqui hoje? Não quero acordar com medo outra vez. – Ele fala e acaricia minha mão.

- Tudo bem. Vou guardar a toalha. – Falo levantando.

- Deixa na cadeira. Amanhã guarda. – Ela fala e puxa a coberta mais pra cima chegando aos ombros.

Eu fico pensando por alguns segundos. Olho a cadeira e vou até ela. Deixo a tolha esticada em cima dela e me pergunto se coloco uma camisa ou não. Respiro fundo e vou andando em direção a cama. Nathalie chega um pouco para o lado e eu me deito. Ela estava de barriga para baixo, confortável e eu de barriga para cima petrificado. A situação era estranha mas Natalie parecia estar sonolenta demais para sentir algo. Ela se aproximou um pouco e segurou meu braço.

Eu sentia o toque dela que esquentava meu corpo. O cheiro doce e suave que era a marca dela. Olhava pra ela sem virar muito o rosto, mas podia ver que ela estava de olho fechados provavelmente dormindo, ou quase. Senti o nariz e a boca dela tocarem meu braço. O corpo dela se aproximou um pouco mais do meu. E eu só tinha vontade de puxa- lá para um abraço, colocar a cabeça dela no meu peito e dormir assim com ela.

Quando percebo esses pensamentos me questiono o que estava acontecendo. Ela era nina Petrov. Filha de Klaus, o homem que me criou. O casamento não era de verdade e isso era um favor. As melhores pessoas estavam atrás de Felipe e isso acabaria em alguns meses. Ela voltaria para a casa dela que é bem longe daqui, e eu nunca mais iria ver Nina Petrov. Nathalie Klein deixaria de existir. Preciso esquecer isso.

...

Depois de horas peguei no sono. Quase de manhã. Mas logo acordei com Nathalie se mexendo. Ela estava deitada em cima de mim, com a cabeça no meu peito, meu braço estava atrás da nuca dela e a mão nas costas. Uma das pernas dela estava em cima da minha. É claro que eu estava sonhando. Sinto o volume nas minhas calças e a perna dela estava perto. Começo a ficar nervoso. Precisava acordar do sonho ou tirar Nathalie de cima de mim. Sinto minha respiração ficar descompassada.

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