Simon Klein
- Um ano? Acredito que não. – Ela fala assustada.
- Seu pai cuidou de mim por muito mais tempo. – Falo e ela fica me observando.
- Você é filho dele? Meu irmão? – Ela me olha com os olhos arregalados.
- Não. Ele não é meu pai. Klaus era amigo do meu pai. Cuidou da minha família quando ele foi embora. – Falo nervoso. – O que quero dizer é que essa é a sua casa, por hora sou seu marido, quero que se sinta bem, confortável e segura aqui dentro. É o mínimo que posso fazer.
- Tudo bem... Obrigada. – Ela fala e tenta sorrir.
- Sei que fui grosso antes. Mas tudo isso é novo pra mim. Não sou violento nem ando com pessoas assim. Não posso acreditar que seu marido bateu em você. Não estou dizendo que você é mentirosa, estou dizendo que isso é absurdo. Bater em uma mulher e... Olha com você ficou. – Falo olhando para as marcas ainda visíveis. – Você levou um tiro, dois na verdade...
- Eu sei... – Não deixo ela terminar.
- Quero saber com o que estou lidando. Porque preciso saber como lidar com você. Seus medos e traumas, preciso saber quem é o cara e como aconteceu. Porque um dia posso encontrar ele. E nesse dia, vou precisa saber o que de o fazer com ele. Entende? – Falo e ela confirma.
- Não é fácil contar tudo. Muita coisa aconteceu. E foi a algumas semanas Ainda dói... Em todos os sentidos. – Ela fala e vejo seus olhos encherem de lágrimas.
- Eu sei disso. Pode ir me contando aos poucos. Mas eu preciso saber.... E pode chorar se quiser. – Falo sem graça.
Ela fica me olhando sem entender. Como de estivesse digerindo tudo. E um silêncio constrangedor começa a crescer. Eu volto a comer sem fazer contato visual com ela, e fico me perguntando em pensamento se foi realmente uma boa ideia seguir o conselho do Adam e falar tudo isso, se não era melhor estar comendo na minha mesa ao lado do notebook.
- Bem... – Ela fala e eu a olho nos olhos. – Não é fácil... Mas... Felipe era meu marido... Ele era amigo do meu irmão... na verdade o pai dele era amigo do meu pai... O Roger... – Ela fica pensativa.
- Felipe.... Roger... Da família Santiago? – Pergunto me lembrando do passado.
- Sim. Conhece eles? – Ela fica sem entender.- Klaus e Roger eram amigos do meu pai. Eles viajam juntos. Conheci Felipe. O encontrei duas vezes, precisei viajar duas vezes com ele pra saber que ele era um babaca. Seu irmão nunca ia nesses eventos. – Falo lembrando.
- Eu não sabia. Aconteceu muitas vezes? As viagens? – Ela pergunta curiosa.
- Não. Roger acabou com isso.... Mas o foco aqui é você. – Falo olhando pra ela.
- Ok... Felipe você já conhece... Nunca pensei em namorar ele. Tinha um namorado, mas não deu certo. Daí começamos a ficar e tudo aconteceu. No início ele era um bom homem, o pai dele era horrível. Então decidimos morar juntos. Depois disso ele mudou... – Ela começa a falar mais emocionada.
- Como mudou? – tento falar com calma.
- Ele estava nervoso, eu achava que ele estava trabalhando muito... Ele não me deixava entrar no escritório... – Eu a interrompo.
- Como não deixava? Você tinha que pedir permissão? – Falo e ela confirma e cai uma lágrima. – Ele te bateu por isso? – Ela demora mas confirma de novo.
Sinto um misto de raiva e ódio. Nathalie era a Nina que eu tinha conhecido. Uma menina doce e fofa que tinha passado por um trauma e agora estava vivendo outro. Por outro lado, Klaus tinha me criado, da melhor forma possível, e eu não poderia fazer menos por ela. E por fim, e o mais importante, nenhum homem, por motivo algum deve bater em uma mulher.
- Quantas vezes ele te bateu? – Pergunto olhando pra ela.
- Eu... Eu não sei... Algumas... – Ela fala e as lágrimas começam a cair.
- Porque ele atirou em você? Consegue dizer? – Falo e quando percebo estou segurando a mão dela por cima da mesa.
Ela demora um pouco a responder. Como Se tentasse respirar e algo forte estivesse impedindo. Ela segura a minha mão de forma delicada e sem força, limpa as lágrimas com a outra mão e tenta puxar o ar.
- Porque... Ele queria... Um... Um filho... Homem. – Ela fala com dificuldade.
- Nathalie.... Meu deus.... – Eu fico sem palavras.As lágrimas começam a cair e ela começa a chorar, eu fico pensativo e relutante, mas lembro das palavras de Adam, e dessa vez o conselho dele deu certo. Agora eu tinha um pouco mais de informações, agora eu tenho noção com o doente que estou lidando. Mas ela estava chorando. E eu só poderia fazer uma coisa.
Eu respirei fundo, levantei da cadeira e fui andando até ela pensando se seria uma boa ideia e como eu deveria fazer. Anna sempre foi forte, ela quase nunca chorava, só gritava e quebrava tudo. Nathalie ficou parada chorando. Eu parei ao lado dela e me forcei a passar na mão nos cabelos dela, comecei de forma desajeitada e ela ficou assustada, parada e tensa, depois de alguns segundos Nathalie inclinou a cabeça, encostado na minha barriga, eu continuei mexendo no cabelo dela.
- Desculpe.... Estraguei.... O.... Jantar... – Ela falava soluçando.
- Você não precisa se desculpar. – Falo e olho para ela.
Nathalie era como uma menina, indefesa, encostada em mim. Chorando. E eu não sabia o que fazer. Eu só queria acabar com o sofrimento dela. Ela não merecia passar por isso. Nenhuma mulher deveria.
Minha mãe sempre me criou para ser um bom homem. Ela dizia que eu nunca deveria levantar a voz para uma mulher, nem sonhar em levar a mão e se alguém tomasse uma atitude como essa perto de mim, eu deveria proteger a mulher que poderia ser agredida. Meu pai nunca aceitou esse comportamento, na cabeça dele era inadmissível um homem ser violento com uma mulher, de qualquer forma. E Klaus, que me criou por um tempo, reforçou tudo isso.
Fico olhando Nathalie chorar por mais alguns segundos. Sem perceber me aproximo um pouco da cabeça dela e dou um beijo no topo de sua cabeça, antes de me afastar sinto o cheiro dela e antes que eu pudesse voltar, ela levanta um pouco a cabeça e me olha nos olhos.
Nathalie abaixa a cabeça rápido e tenta segurar o choro, eu respiro fundo, penso um pouco, decido tirá-la da mesa. Seguro ela pela mão e a faço levantar. Assim que ela levanta, pego Natalie no colo, ela se assusta, mas fica parada, com a cabeça abaixada. Ela estava muito magra, era visível mas eu me assustei quando a levantei, ela estava leve demais. Fui andando até o quarto dela e a coloquei na cama e sentei.
Nathalie deitou e ficou tentando parar de chorar. Eu fiquei sentado, acariciando o cabelo dela, até que ela dormiu de exaustão. Eu também estava cansado, e acabei dormindo ao lado dela. Acordei no dia seguinte com Joseph me acordando sem entender nada. Olhei para Nathalie ao meu lado, ela estava de lado com o rosto virado pra mim, ela parecia estar mais tranquila, sem dor.
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O recomeço
Romance- Lembrando que esse livro é a continuação de outro livro, O começo do fim. - Tudo mudou na vida de Nina Petrov. Agora com novo nome, nova casa. E vida nova. Vida essa que ela não escolheu. depois de todo o trauma que já tinha vivido, teria que se a...