Nathalie Klein
Termino de lavar as louças e arrumar a cozinha. Começo a arrumar a casa, troco meus curativos e depois pego um pouco de sol na varanda e fico pensando se devo colocar os pés na rua ou não. Joseph sempre voltava em uma hora no máximo, mas deve ter acontecido algo e ele teve que ficar.
Vou para o meu quarto e me arrumo, coloco uma calça jeans escura, uma regata rosa clara, um casaco fino banco, um tênis branco e meus óculos escuros. Arrumo meu cabelo, pego minha chave e coloco na fechadura. Abro a porta e sinto a liberdade que eu não tinha a muito tempo. Tranco a porta atrás de mim e vou em direção ao elevador.
Assim que a porta do elevador se abre vejo Hall com algumas bolsas de mercado. Ele me olha dos pés à cabeça me analisando, fica em silencio por alguns segundos até que o elevador ameaça a fechar. Ele coloca a mão para travar a porta e volta a me olhar.
-É bom e ver animada senhora Klein. Espero que esteja melhor da cirurgia. - Ele fala apontando para a minha barriga.
-Estou sim. Nem preciso trocar mais os curativos com tanta frequência. Já estou bem. Obrigada por se preocupar. - Falo simpática e seguro a porta.
-Se seu marido fizer algo, de um jeito de sair e coloque um bilhete em baixo da minha porta. Ou jogue por baixo da sua porta. Se tiver muito barulho no seu apartamento eu vou ficar de olho. - Ele fala sério.
-Obrigada por se preocupar. Mas Simon está cuidando de mim. - Ele não me deixa terminar.
-Todos eles dizem que estão cuidando, que é para o seu bem. - Ele fica me olhando.
-Eu sei. Mas isso foi o meu ex marido. Simon está realmente cuidando de mim. Estamos no início do relacionamento, nos adaptando ainda. - Ele me olha e não me deixa falar.
-Eu sabia que não tinha cirurgia e sim um agressor. Já vi isso antes. - Me assusto e percebo que falei besteira.
-Senhor Hall por favor... - Ele me impede de terminar.
-Não se preocupe. Seu segredo morre comigo. Não sou como esses vizinhos fofoqueiros daqui. Mas saiba que se precisa de ajuda, eu estarei aqui. - Ele fala e faz um sinal para eu entrar no elevador.
-Obrigada. - Eu sorrio e entro no elevador.
Respiro fundo e vejo a porta fechar. Me sinto culpada. Era para manter isso em segredo. Mas sem perceber eu acabei falando mais do que deveria. Mas acho que posso confiar no senhor Hall. Vejo a porta do elevador abrir na recepção.O porteiro me olha sorridente como sempre e eu retribuo o sorriso, mas sinto falta do senhor Silva. Vou andando até o portão e antes de chegar escuto o barulho do portão sendo destravado. Conforme eu vou me aproximando do portão sinto meu coração acelerar, minha respiração fica irregular e depois de alguns segundo sinto dificuldade para respirar, vou diminuindo a velocidade e sinto a velocidade do mundo ser diminuída.
- Eu tenho permissão para sair. Eu posso sair. – Falo baixo para mim mesma e seguro a chave com mais força.
Coloco a mão no portão e abro com dificuldade, eu estava perdendo as forças, abro o portão com dificuldade e passo por ele. Escuto o portão bater atrás de mim. Olho para a rua, as pessoas estavam andando normalmente, mas algo me incomodava, eram muitas pessoas, elas falavam alto, muitos carros na rua, buzina, muito barulho.
Encosto no portão e vejo dois homens se aproximando, um dele me olha sorrindo. Sinto que meu coração vai sair pela boca, sinto algo ruim, como se fosse medo. Começo a me sentir tonta, o sol estava muito forte. Tinha muito barulho e eu só queria sair correndo. Mas não tinha fôlego o suficiente nem para me virar.
Sinto minhas pernas ficarem fracas, os dois homens estavam chegando mais perto e meu sentimento de angústia só aumentava. Perco as forças nas pernas e vejo tudo ficar escuro. Sinto meu corpo bater no chão e eu apago.
Acordo algumas horas depois na emergência de um hospital, sinto uma dor forte na cabeça , escuto um barulho como um apito alto, logo depois um homem me chamar e quando abro os olhos vejo Felipe sorrindo. Me assusto e o empurro para longe.- Não me machuca por favor... – Falo assustada me encolhendo na cama.
- Calma senhora. Não vou te fazer mal. – Ele fala se afastando.
- Você não é o Felipe? – E levanto a cabeça para olhar.
- Não. Sou o enfermeiro Diego. Eu que estou responsável por você. – Ele fala de forma educada.
- Entendi.. – Falo olhando pra ele.
Era estranho, mas ele não era nem um pouco parecido com Felipe. Ele me olha sorrindo e antes que pudesse falar algo Joseph aparece na porta. Ele estava preocupado, mas assim que me olhou ficou um pouco mais aliviado.
- Você está bem Nath? – Ele perguntou enquanto se aproximava.
- Sim. Estou. – Falo me recuperando do último susto e seguro a mão dele.
- O que aconteceu? – Ele fala segurando a minha mão e um médico aparece na porta.
- Boa dia senhora Klein. Sou o Doutor Oliveira. Eu que estou responsável pelo seu caso. Pode me contar o que aconteceu? – Ele pergunta de forma doce mas não se aproxima.
- Eu não sei. Eu ia dar uma volta na rua. Mas quando me aproximei do portão me senti estranha. Pode ter sido o calor. – Falo me ajeitando na cama e solto a mão de Joseph.
- Boa dia Doutor Bruno. Vim o mais rápido que pude. – Um outro homem falava enquanto entrava na quarto.
- Bom dia Lázaro. Essa é a paciente que te falei. A Senhora Klein, ela passou mal hoje cedo. – Os dois me olharam sorrindo de forma simpática.
- Bom dia Senhora Klein. Pode me contar o que sentiu? – o segundo médico fala enquanto puxa uma cadeira para sentar, mas não chega tão perto.
- Não foi nada... Eu queria só andar um pouco na rua. Quando eu cheguei no portão comecei a ficar... Nervosa... Eu acho... Não estava conseguindo respirar direito. Mas acho que era por causa do calor... A rua estava muito barulhenta... E depois eu perdi as forças, ficou tudo escuro e estou aqui... Eu devia ter levado uma garrafa de água. – Falo tentando lembrar o do que aconteceu.
- Você disse que começou a ficar nervosa. Porque ficou assim? – Ele fala de forma doce.
- Eu não sei. Eu podia sair casa... E ia rápido também... – Falo pensativa.
- Podia sair de casa? – Ele repete a minha frase.
- O Simon deixou. – Falo e olho para Joseph.
Fico conversando com o médico por mais alguns minutos. No meio da conversa o Doutor Oliveira nos deixou, e então Joseph me pediu para que eu contasse sobre Felipe. Não consegui contar tudo, mas o médico disse que isso seria o suficiente para começar. Ao final da conversa descobri que ele era psicólogo e provavelmente eu tive uma crise de ansiedade ou pânico.
Quando encerramos a conversa um enfermeiro me explicou sobre o curativo na cabeça, porque eu bati e tive um pequeno corte, me indicou um remédio para dor e deixamos uma consulta marcada para ver o Doutor Lázaro de novo. Depois da alta, Joseph me levou para casa.
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O recomeço
Romansa- Lembrando que esse livro é a continuação de outro livro, O começo do fim. - Tudo mudou na vida de Nina Petrov. Agora com novo nome, nova casa. E vida nova. Vida essa que ela não escolheu. depois de todo o trauma que já tinha vivido, teria que se a...