O recomeço

Capítulo 12

Simon Klein

Flashback On

Respiro fundo, encosto a cabeça na cadeira e fecho os olhos. Lembro do tempo mais difícil da minha vida. Eu tinha quinze anos, estava na casa do lago dos meus pais. A família toda estava reunida. Eu estava com meus primos pescando. E na verdade era uma perda de tempo, porque não tinham peixes lá. Nunca conseguimos pegar nada.

Minhas tias estavam na varanda com a minha mãe e avó rindo e conversando sobre algum assunto delas. Meus tios e meu avô estavam perto da arvore brincando de atirar em latinhas, bebendo cerveja e falando alguma besteira. Era sempre a mesma coisa.

Meu pai estava voltando da empresa era uma sexta feira e ele tinha assuntos inacabados. Escuto o celular da minha mãe tocar e olho para o portão. Era sempre a mesma coisa, meu pai ligava e minutos depois ele aparecia. Mas dessa vez ele não apareceu.

O sorriso que estava no rosto da minha mãe sumiu e ela foi para dentro de casa. Minhas tias ficaram sem entender. Duas tias entraram para falar com a minha mãe e as outras ficaram com a minha avó.

Eu fiquei um pouco irritado. Sem dúvidas meu pai iria inventar uma desculpa para não vir. Ele já tinha feito isso uma vez. E nos últimos meses estava vivendo apenas para o trabalho. Minha mãe entendia a situação, mas eu não, ele quase sempre não estava em casa.

Depois de alguns minutos minhas tias saíram de casa, uma delas falou algo para as outras que estavam com a minha avó e a outra foi falar com os homens. E logo depois foi a correria. Minha avó me olhava de longe triste, um dos meus tios foi correndo pegar o carro, mas percebeu que não conseguiria dirigir por causa da quantidade de cerveja.
Eu e meus primos paramos tudo e começamos a observar para entender o que estava acontecendo. Logo depois eu vejo minha mãe sair de casa chorando e sendo amparada por minha avó que tinha levando de uma vez só.

Eu fui correndo até ela desesperado para saber o que tinha acontecido. Minha mãe apenas chorava, e no meio de tanto choro disse apenas uma frase. “Seu pai nos deixou. Nesse momento eu tive uma mistura de sentimentos. Como assim ele tinha nos deixado? Como ele pode fazer isso?

Nessa tarde minha mãe saiu junto com meu avô alguns tios e tias para resolver essa situação. Eu fiquei com meus primos, mas não queria pescar, não queria fazer nada. Fui para o meu quarto e me tranquei. Minha mãe pegou mais algumas roupas e coisas que iriamos precisar. Ela decidiu que a gente ficaria ali durante as férias todas. Nossa família deu todo apoio que podia, mas uma hora não conseguiram suportar. Minha mãe se afundou em depressão, eu não queria ver ninguém, ficava apenas no meu quarto. E depois de algumas semanas, todo mundo foi embora.

Ele foi embora sem se despedir, sem falar com ninguém, sem deixar um aviso. Apenas desapareceu. Deixou a família quebrada, uma empresa para administrar. E minha mãe da maneira que estava não conseguia se envolver com nada. Então eu tive que assumir tudo, era isso ou nos perderíamos tudo.

E nesse momento todo mundo nos deixou. O único que ficou ao nosso lado foi Klaus, em nome de uma amizade de anos que ele tinha com meu pai. Ele passou a administrar a empresa dele e a que agora era minha. E me forçou a aprender tudo. Sempre dizia:
“Esse legado é seu Simon, quer que outra pessoa tire isso de você? Que consiga algo tão fácil?”

Ele não me deixou perder tudo, mesmo quando eu não estava ligando pra nada. Então a pedido dele, fiz faculdade de administração, me formei com as melhores notas por muito esforço e ajuda dele. Passei a respirar a empresa. E quando me olhei no espelho, no meu primeiro dia como diretor, vi meu pai. Refletido no espelho. Terno escuro, sério e com uma pasta. Eu tinha me tornado meu pai, e principalmente no vício com o trabalho o mais me irritava nele.

Mas nesse dia eu prometi a mim mesmo, que não seria como ele em relação a família. Iria cuidar da minha mãe da melhor maneira possível, e que se tivesse uma família um dia, não iria embora como ele foi.

Flashback Off

Escuto alguém bater na minha porta. Abro os olhos e vejo Joseph e Adam me observando. Suspiro e levanto da cadeira, ajeito meu terno e pego minha pasta. Olho para o retrato do meu pai. Eu era a mesma pessoa. Mas seria uma pessoa melhor.

- Senhor Nath.. Sua esposa está te esperando. – Ele fala e olha para Adam.

- Esposa. Nunca imaginei isso. Você não acha estranho Joseph? Adam fala rindo.

- Adam vai trabalhar. - Falo irritado.

- Vão aonde? Ela precisa se divertir. – Ele continua.

- Eu vou pegar um dinheiro e vamos ao shopping. – Falo envergonhado.

- Então vai ter programa de casal. Joseph não fica de vela deixa o casal. – Adam fala debochando.

- Sabe que eu não dirijo. – Olho para Joseph. – Nos deixe no shopping. Na volta eu chamo um carro. Tira o dia de folga.

-Não é necessário senhor Simon. – Ele fala em olhando.

- Tudo bem. Vai ficar tudo bem. – falo e passo por eles.

- Pergunte a ela o que gosta de fazer. Faça um dia divertido. Pra ela se sentir relaxada e não ter mais medo de você. – Ele fala andando ao meu lado.

- Acho que ela ficava trancada. Porque agiu estranho quando eu entreguei a chave dela. – Falo pensativo.

- Isso acontece... Ela não deve sair a muito tempo. – Ele fica me olhando. – Vai ser bom para vocês.

- Adam. Ela não esta de férias. Não sei quem é o cara, nem aonde ele está. Ele pode estar seguindo ela. Não posso ficar tranquilo passeando com ela no shopping. – Falo irritado. 

- Eu sei. Mas vai ser bom pra ela... Sair um pouco. Compre um sorvete, tente sorrir e não assuste ela. – Ele fala rindo.

- Eu não assusto... – Ele pra ele irritado.

- Está me assustando agora. Imagina ela. – Ele me olha sério.

Entramos no elevador e ele para de falar. Descemos no estacionamento e ele já estava no carro me esperando. Não consigo ver nada porque o vidro era escuro. Começo a pensar em tudo o que aconteceu e no medo que ela sentiu. Adam fica andando ao meu lado falando alguma coisa mas eu não escuto.