Capítulo 18

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Simon Klein

Termino de falar com um investidor alemão. Eu estava cansado e não aguentava mais explicar que tudo ficaria bem, que o processo iria correr bem e tudo acabaria logo. Que isso não iria manchar mais o nome da empresa e que não afetaria nada.

Mas era exaustivo. Essa parte ficava comigo, falar com os com todos os investidores, semanalmente. Era algo importante e eu não poderia deixar nas mãos de Adam. Da última vez ele levou todo mundo para a sala de reunião, pegou várias garrafas de bebida que ele tinha na sala dele e começou a falar besteiras. Quando entrei na sala todo mundo estava rindo e conversando. Eles acharam que Adam estava enrolando porque eu estava atrasado para o reunião.

Na verdade a reunião já tinha começado a trinta minutos. Mas Adam não estava falando nada sobre a empresa, todos estavam discutindo tudo sobre a vida pessoal. E fui até a sala porque estava escutando risadas altas, e quando cheguei, Adam estava enchendo os copos e dançando na sala enquanto falava.

Nathalie entra no quarto e pergunta se quero jantar. Eu respondo que sim e ligo por vídeo para Adam. Começo a explicar alguns termos em alemão que eu precisaria aprender para a próxima reunião e algumas frases importantes.

-Cara você deve estar feliz. Tem uma esposa, ela é linda, simpática e sabe cozinhar. Vai parar de comer na rua essas porcarias. - Adam fala empolgado.

-Vamos nos concentrar no trabalho? - Falo desconfortável.

-Simon você tem que parar com isso. Tem que ser carinhoso com ela, não pode ser seco assim. Ainda mais com isso que ela passou. - Ele fala sério.

- Ela não é minha esposa. - Falo um pouco irritado.

- Sim, mas está fingindo. Depois de tudo o que ela passou, você também vai deixá-la infeliz? Ela deve estar traumatizada, conversei aqui em casa... Hellen está grávida e sentimental, você sabe, chorou e tudo quando contei. Ela disse o quanto ela pode estar sofrendo, pode estar com medo, se sentindo mal. Mesmo que esteja sorrindo. Tem que pensar nisso. - Ele fala sério.

- Eu sei... Estou cuidando dela... Não fica falando por aí sobre isso... Cuidado... - Ele não me deixa terminar.

- Não estou contando. Só falei para a minha esposa porque sei que ela é discreta. Fica tranquilo. E outra coisa... Se ela chorar, não fica com essa cara encarando ela, se não souber o que falar... faça algo. - Ele fala e olha as anotações.

- Chorar? Porque ela vai chorar? E eu vou fazer o que? - Falo baixo, irritado.

- Porque ela tem medo e traumas. Qual é o seu problema? Nunca teve uma namorada? Eu não deveria estar te explicando nada disso. Você já deveria saber. Ela nunca chorou? - Fico olhando para a tela. - Você abraça ela Simon.... Qual o seu problema cara? - Ele fala irritado.

- Claro que eu sei. Achei que você teria algo inovador pra contar. Isso eu já sei. - Tento desconversar.

Volto a explicar mais uns termos em alemão, repasso uns documentos e escuto Nathalie bate na porta outra vez. Acho estranho porque ela sempre para na porta e espera que eu dê permissão para ela entrar. Faço um sinal e ela entra, mas fica esperando perto da porta. Eu termino uma frase em alemão e Adam sorri quando escuta a voz dela.

- Pode falar. - Falo sério irritado com Adam.

- A comida está pronta. - ela fala nervosa. - Quer comer aqui ou na mesa?

- Aqui. - Falo e olho para Adam que estava gesticulando na tela.

Depois de uns segundos ela sai do quarto. Adam passa alguns minutos tentando acertar qual seria o jantar, especulando se Nathalie seria uma boa cozinheira. Demorou um pouco, mas logo depois Nathalie voltou com o meu prato, ela não parecia estar feliz. Olho para o prato, nhoque com molho branco, o cheio era maravilhoso, assim que ela colocou o prato na mesa, minha boca encheu de água. Agradeço, mas só depois percebo que falei em alemão. Ela sorri sem vontade.

- Quer beber algo? - Ela pergunta desconfortável.

- Suco de laranja. - Falo olhando para Adam que estava pedindo pra eu mostrar o prato.

Nathalie sai do quarto, eu ligo o som para ouvir Adam, depois de muita insistência mostro o prato pra ele. De forma irritante ele fica perguntando se eu poderia levar um pouco pra ele provar, e porque ele tinha mostrado para a esposa e agora ela estava com desejo e eu não poderia negar desejo de grávida. Mas era tudo mentira.

Em meio a irritação de Adam, Nathalie volta com um copo de suco e um descanso de copo. Ela estava triste e séria. Ela coloca copo na mesa ao meu lado sem me olhar. E Adam começa a falar com ela, pedindo a comida, como se ela pudesse me ouvir. Mas como o som estava no fone de ouvido, isso seria impossível.

- Tem um vinho na geladeira. Pode beber. - Falo olhando para Adam.

- Obrigada. - Ela fala sem vontade e sai do quarto.

Me irrito com Adam e começo a comer. Estava muito bom, nunca tinha comido algo tão gostoso. Na segunda garfada Adam fica falando na minha cabeça, dizendo que eu deveria jantar com a minha esposa, que eu não poderia deixa-la comendo sozinha, que eu seria um péssimo marido.

Eu estou acostumado com o silêncio, vivia aqui sozinho, as vezes com o Joseph, mas no geral, sozinho. E não sou o marido dela, e ainda estamos desconfortáveis. E eu estou exausto, nem sei como conversar com ela. E ela não gosta de mim.

Depois de muita reclamação aceito, desligo o notebook, pego meu prato e meu copo e vou para a mesa. Me aproximo sem fazer barulho. Nathalie estava sentada a mesa, comendo e com uma taça de vinho.

- Posso me sentar com você? - Falo e fica desconfortável.

- Claro. - Ela se levanta para me ajudar.

Eu faço um sinal para ela sentar e ela obedece, coloco meu prato na mesa de frente pra ela, me sento e começo a comer e logo depois ela começa a comer também. Fico me perguntando como era o outro relacionamento dela, porque ela precisa pedir permissão para entrar no meu quarto todas as vezes, porque precisa me ajudar com a comida, e porque precisa esperar que eu coma primeiro. Essa era uma boa maneira de começar uma conversa. Eu acho.

- Porque precisa pedir permissão toda vez que entra no meu quarto? - Pergunto sem olhar pra ela.

- Educação. - Ela responde rápido.

- É só isso mesmo? - Falo e bebo o suco.

- Sim. - Ela responde incomodada.

- Bem... - olho para ela. - Você não queria estar aqui. E eu não queria que você estivesse aqui. Eu sabia da sua existência... A muito tempo, mas você não sabia da minha. Seu pai me ajudou em um momento difícil da minha vida. E agora é o meu momento de retribuir. Não confio nas pessoas e por isso não tenho muitas pessoas próximas. - Ela tenta me interromper.

- Simon não... - Eu faço um sinal e ela para.

- Não sou o cara mais legal do mundo. Não começamos do jeito certo. Mas eu estou com problemas na minha empresa e você veio de um relacionamento problemático. Então vamos começar do zero. Precisamos nos dar bem, não sei quanto tempo vai ficar aqui. Pode ficar dois meses ou um ano. - Falo sério.

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