Capítulo 1

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Simon Klein
Flashback On

O barulho de monitor e toda a gritaria no fundo me remete a algumas lembranças desagradáveis do passado. Lembro de estar deitado em uma maca entrando no hospital. Muitas pessoas gritavam, e sem pedir permissão me furavam para colocar medicação e tudo isso estava me irritando. Até que não aguentei e gritei, comecei a empurrar todo mundo que estava na minha frente, tentei sair da maca, mas fui impedido por um enfermeiro que me segurou com força. Logo depois vi tudo ficar escuro e desmaiei.

Flashback Off

- Simon. Você pode? Por favor, eu só posso confiar em você e se não fosse importante eu não estaria pedindo.  – Ele fala ansioso esperando minha resposta.

- Eu não ouvi Klaus. Tem muito barulho. Porque sua filha foi hospitalizada ? – Pergunto ainda desatento.

- Te explico o motivo depois. Mas não é grave. Você pode recebe-la em sua casa por um tempo. Só preciso que ela fique segura por agora. Não vai levar muito tempo, um mês ou dois.  – Klaus fala nervoso e não tinha como dizer não.

- Quem está perseguindo sua filha? – Pergunto mantendo o mesmo tom.

- O ex-marido. Ele está foragido. – Klaus fala baixo.

- Tudo bem. Quando ela vem? – Pergunto olhando a hora.

- Daqui a uma semana. Vou tentar segura-la no hospital. Assim você tem tempo de se organizar. – Ele fala e alguém o chama. – Preciso desligar. Deixamos combinado. Obrigado Simon. - Ele desliga o telefone.

Pego o pote de queijo branco na geladeira, corto duas fatias, como e volto para meu quarto. Lavo as mãos e deito na cama para tentar dormir. Olho no relógio antes de fechar os olhos, estava marcando três e vinte três da manhã. Jogo o telefone do meu lado e tento dormir. Precisava acordar as seis e meia.


Acordo atrasado com Joseph me ligando

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Acordo atrasado com Joseph me ligando. Vou andando lentamente até a porta principal. Ele me olha sério, com a mesma expressão de sempre, ele era um alemão nato. Joseph entra em casa e senta no sofá. Eu volto para o meu quarto, tomo um banho e me arrumo. Termino de colocar meu terno e pego minha pasta. Hoje seria um dia cheio na empresa.

Eu e Joseph vamos andando até o estacionamento, entro no carro e já vou mandando mensagem para alguns funcionários. Vou organizando algumas coisas da minha agenda. O caminho não dura muito tempo. Logo chego na empresa, vou direto para a minha sala e pelo caminho é sempre a mesma coisa, funcionários desarrumados, dormindo no setor, outros conversando como se estivesse em casa. Essa falta de profissionalismo me irrita, mas não adiantava reclamar. Assim que eu apareço todos paravam, era nítido o desconforto. Mas eu não me importava, só queria chegar na minha sala e começar meu dia em paz.

No primeiro horário do dia faço algumas conferências com meus parceiros da empresa, organizo alguns documentos da empresa e me reúno com meu amigo e sócio. Adam, ele fez faculdade comigo, na verdade fez direito, mas ficava rodado pela faculdade. Um dia entrou em uma palestra de Administração para ganhar horas de atividade extra da faculdade, sentou ao meu lado e dormiu a palestra inteira, acordou exatamente no horário de assinar a folha de presença e me olhou sorrindo dizendo que já estava acostumado a fazer isso. Eu até hoje não sei porque aceitei que ele fosse advogado da empresa, meu amigo e sócio, mas não posso mentir, ele é um bom advogado, consegue convencer qualquer pessoa a fazer o que ele quer e nunca perdeu uma causa, então pra mim basta.

Adam estava sentado na minha frente, como se tivesse em casa, ele não tinha postura nenhuma, parecia um calouro de faculdade no seu primeiro semestre. Ele ficava no telefone assistindo vídeos de comédia enquanto eu fazia todo o trabalho pesado. E para piorar a situação, ficava rindo alto como se estivesse na sala de casa.  E isso estava me irritando, mas tenho certeza de que ele sabe disso e estava fazendo de propósito. Adam adorava me irritar, ele dizia que eu não sabia aproveitar as coisas boas da vida e que tinha nascido velho e ranzinza. E hoje eu estava sem paciência, dormi pouco e ainda tenho que receber em minha casa uma garota que eu não conheço.

Adam nasceu em uma família rica, o pai bancou sua faculdade e cursos. Ele nunca teve que se preocupar com as contas de casa e pode aproveitar cada fase da sua vida no momento certo. Eu aos quinze tive que assumir a minha família, cuida da minha mãe que tinha perdido o sentido da vida. Nessa idade eu perdi meu pai, quase perdi a minha mãe e perdi a minha vida ou quase. Agora Adam era um pouco mais responsável, era casado e sua esposa estava grávida. Até hoje não acredito que ele tem uma esposa. Tenho pena de Hellen, em poucos meses vai ter duas crianças em casa. Espero que ela dê conta.

-O que foi meu amigo? Porque está mais infeliz do que o normal? - Ele fala debochando.

-Estou trabalhando. - Falo olhando os papeis.

-Estou sentindo uma energia pesada. Acho que é a falta de decoração na sala, as cores escuras e o seu humor de um velho de oitenta anos ranzinza. - Ele fala sério me olhando.

-Você não tem trabalho para fazer? - Pergunto olhando-o sério.

-Qual a sua idade Simon? Eu tenho vinte cinco, acho que você é cinquenta anos mais velho que eu. Eu sempre esqueço. - Ela fala mantendo o mesmo deboche.

-Estamos com um processo importante correndo. Você já tem algum parecer? – Coloco os documentos em cima da mesa e me mantenho sério. Adam precisa disso as vezes.

- Fala sua idade e eu falo sobre o processo. – Ela tenta barganhar.

- Você sabe minha idade Adam. No meu último aniversário apareceu lá em casa, levou um bolo e sabe que eu não gosto de doce, ficou bêbado e dormiu no tapete da minha sala depois de ter vomitado na minha varanda, tive que ligar para sua esposa te buscar no dia seguinte. – Falo em um tom alto e irritado.

- Acredito que ter informações sobre o processo é importante. – Ele fala e cruza os braços.

- Vou fazer trinta anos esse ano Adam... Sobre o processo? – Falo tentando não ficar mais irritado do que já estou.

- Olha pra mim Simon. Estou com vinte e cinco anos. Casado, minha esposa acabou de descobrir que está grávida. Logo terei uma criança gritando e sujando minha casa de comida. E isso é ótimo. Não estou reclamando. Estou muito feliz. Minha sala tem cores, minha casa tem cores. Minha vida tem cores. Seu pai morreu, você teve que cuidar da sua mãe, teve a sua ex... Passou por muita merda. Mas hoje sua mãe está bem... Você pode seguir com a sua vida. Precisa ser feliz. – Ele volta novamente com esse discurso.

- Quem disse que eu não sou feliz Adam? – Falo pausadamente.

- Tudo diz. Sua falta de amigos. As cores da sua vida, sua solidão. Tudo diz Simon. Sou seu melhor amigo, único amigo. Só quero seu bem. Eu nunca te vi sorrir cara. Tem ideia? Eu nem sei se você sabe sorri. Isso é horrível. – Ele fala com um olhar de pena.

- Vou ficar feliz quando você me falar do processo. – Ele bufa e começa a me falar do processo.

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