Capítulo 33

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Nathalie Klein

Eu estava começando a acordar, ainda com os olhos fechados sinto nas pontas dos dedos a pele nua de alguém. Mexo um pouco a minha perna e sinto algo e depois de alguns segundos entendo o que é. Sinto minha respiração paralisar. Não pode ser Felipe, isso é um pesadelo. Tento ao máximo não me mexer. Tento voltar a respirar e crio coragem de olhar quem é. Levanto um pouco a cabeça e vejo Simon me encarando assustado. Respiro fundo aliviada.

- É você... – Falo e relaxo o corpo.
Fico ainda na mesma posição por alguns segundos e sinto o corpo dele rígido e desconfortável. E então percebo a situação que estou. Levanto rápido e assustada e ele faz o mesmo. Ficamos sentados na cama sem nós olhar.

- Desculpe por deitar em cima de você. – Falo envergonhada.

- Não tem problema... E Desculpe... – Ele fica nervoso.

- Não tem problema... É normal... – Falo e ele se levanta rápido.

Simon pega a toalha e sai o mais rápido possível do quarto. A nuvem de constrangimento era densa, palpável. Eu não sabia como ia sair do quarto e olhar para o rosto dele. Mas seria algo que duraria pouco. Eu faria o café da manhã, Simon iria comer e ir para a empresa, com sorte Adam iria aprontar algo e isso não seria a coisa mais “importante” do dia e eu tentaria esquecer também.

Levanto e vou para o banheiro, escovo os dentes, arrumo meu cabelo e me olho por mais uns segundos. Meus olhos ainda estavam inchados de ontem. Lavo o rosto e vou para a cozinha. Começo a preparar o café da manhã, sento na mesa e começo a comer. Simon estava demorando mais do que o comum, mas de maneira nenhuma eu iria no quarto dele.

Quando eu já estava quase acabando de tomar meu café ele aparece na porta da cozinha. Vestindo roupas comuns e não o terno escuro e triste de sempre. Ele usava uma bermuda de pano, uma blusa de manga branca e estava ainda com os cabelos desarrumados. Preciso dizer que olhar ele assim depois da maneira que acordamos me causou um sentimento estranho, mas bom.

Ele me olha ainda constrangido. Simon era muito rígido, certinho e me respeitava muito. Pensando melhor, pedir para ele dormir comigo pode ter sido algo muito desconfortável pra ele. Mas estava com tanto sono e medo que nem pensei.

Sonhei com Felipe me perseguindo pelo aeroporto, ele corria atrás de mim e gritava com uma arma na mão. As pessoas se afastavam assustadas e nenhum segurando ou policial apareciam. E mesmo correndo muito, Felipe conseguia me alcançar. Ele segurava o meu braço, sorria como um louco e atirava na minha barriga. Eu acordei com o tiro e quando abri os olhos era Simon que estava ao meu lado. Me senti mais segura. Mas posso ter causado desconforto pra ele.

Simon se senta na mesa evitando contato visual. Ele começa a se servir e o silêncio constrangedor mesa sobre a mesa. Eu fico tentando olhar pra ele mas também estava um pouco constrangida. Respiro fundo e tomo a inciativa da conversa.

- Vai chegar mais tarde hoje no escritório? Adam pode incendiar o prédio... – Falo com um pouco de humor e ele sorri ainda sem me olhar.

- Decidi ficar em casa. – Ele fala sorrindo.

- Ficar em casa? – Falo assustada. – Você nunca falta. Está doente? – Falo debochando.

- Não. – Ele fala rindo.

- Então porque vai faltar? – Insisto.

- Não vou faltar... Vou trabalhar de casa... Ontem você não estava bem. Não queria te deixar sozinha e Joseph está de folga hoje. – Ele fala e me olha por alguns segundos.

- Por mim? – Fico pensativa.

- Sim. Qual o problema? – Ele fala sem de importar.

- Meu ex marido nunca fez isso. Que bom que decidi casar com você. – Falo e me levanto da mesa.

Vou para a cozinha e começo a lavar minha louça. Volto no passado e relembro meu relacionamento com Arthur, do quanto era normal, saudável. Lembro do único do relacionamento com Felipe que era perfeito e de como ficou depois. Eu me sentia culpada o tempo todo, morria de medo de fazer qualquer coisa é nunca entendia o que eu tinha feito de errado, mas sabia que tinha feito algo.

Eu queria ter um relacionamento saudável, mas agora eu tinha medo. O que me garante que o próximo não vai fazer a mesma coisa? O que me garante que não vou ficar presa outra vez? Porque com Simon ou outro qualquer seria diferente?
Sinto minha cabeça explodir de pensamentos. Meu coração acelera e eu sinto um nó na garganta. Eu só queria ser feliz. Fiz tudo para ser uma boa esposa. Porque eu estava passando por isso? Não fui boa o suficiente? Sinto uma mão tocar minhas costas de forma delicada e saio dos meus pensamentos.

- Está tudo bem? – Simon pergunta preocupado.

- Sim. Só estou pensando... – Falo e começo a lavar a louça.

- Bem... Vamos sair... Preciso ir ao mercado. E resolver algumas coisas no shopping. Quer ir? – Ele fala mostrando animação.

- Quero sim. – Sorrio. – Mas vai ter que me pagar um sorvete.

- Combinado. – Ele fala sorrindo.

Simon sai da cozinha sorrindo e vai para o quarto. Eu termino de arrumar a cozinha e vou para o banheiro. Tomo meu banho. Saio enrolada na toalha. Passo uma maquiagem e seco um pouco o cabelo no secador. Saio ainda enrolada na toalha da pensando em que vestir. Abro o armário e fico olhando as roupas.

- Droga... Desculpa. – Escuto Simon falar envergonhado.

Olho para a porta e ele estava de costas. Passando a mão na nuca. Ele estava de bermuda, uma blusa social mas diferente do que ele usava no trabalho. Sem blazer, sem terno, sem estar vestido como sempre. Fico analisando cada detalhe, até o cabelo estava diferente.

- Vai disfarçado? – Falo brincando e começo a escolher a minha roupa de acordo com a dele.

- Está ruim? – Ele pergunta inseguro. – Só não queria vestir terno hoje....

- Não sei. Olha pra mim. – Falo e ele demora alguns segundos. Se vira sem me olhar. – Está ótimo. Vou menos formal então.

Termino de falar e ele se vira de costas. Pego um vestido, entro no banheiro mas deixo a porta aberta. Pelo constrangimento ele nem vai se mexer. Sempre quis ser ousada, mas com Arthur eu estava começando e Felipe me chamaria de puta sem dúvidas.

Felipe era ousado, ele já teria arrancado a toalha e me agarraria. Arthur também, mas com carinho, romântico. Simon era diferente, as vezes parecia virgem. Coloco o vestido, a calcinha e saio do banheiro com o zíper nas costas aberto.

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