✞CAPÍTULO VINTE E SEIS✞

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— Tem certeza que não me quer aí? — perguntou John do outro lado da linha.

— Lógico que quero! Tudo que mais desejo é abraçar você, mas pode ser perigoso e seria uma viagem muito longa para a Natasha.

Limpei algumas lágrimas, elas apenas caiam sem esforço algum da minha parte. Como se fosse a coisa mais normal do universo, assim como o ato de respirar.

— Não queria que ficasse sozinha neste momento...

— Não se preocupe... Vou ficar melhor apenas quando estivermos juntos.

— Farei o possível para isto acontecer... Maisie, me promete que não vai chegar perto de nada que tenha álcool?

Neste momento olhei para o copo de whisky sobre a mesa em que estava sentada.
Odiava a ideia de me render a algo e mais ainda de mentir para John, mas eu era fraca demais.

— Não irei beber. — prometi, depois de cruzar os dedos — John... Tenho que ir para o crematório agora.

— Claro... Eu te amo.

— Eu também te amo, meu amor. — disse e encerrei a chamada.

Depois de lavar o rosto e trocar de roupas, partir em direção ao crematório  Eternal Life que ficava um tanto distante do hotel onde fiquei hospedada.
Chegando lá encontrei Katherine, assim que me olhou correu ao meu encontro e  me abraçou tão forte quando suas forças permitiam. Kathy estava igual da última vez que nos vimos, um pouco mais esbelta, mas era a Katharine  Kozlowski de sempre.

— Eu tentei impedir! Me desculpa! — sussurrou entre o choro desesperado.

— A culpa não foi sua! — respondi a ela — Estava na hora dela... Não podíamos fazer nada.

Nos separamos, porém ainda próximas, ela passou a mão por meu rosto e deixou um beijo no mesmo.

— Estamos sozinhas! Estamos sozinhas, Maisie!

— Não, eu tenho você e você tem a mim. Vai ficar tudo bem.

Olhei para frente e vi Chris se aproximar de nos. Assim que chegou perto deixou um beijo na testa de Katherine e veio me abraçar.

— Como você está? — quis saber.

— Bem... Eu estou bem.

Ele se afastou um pouco e também me beijou na bochecha.

— E o John? Não veio?  — neguei com a cabeça — Você bebeu?

— Um pouco... — ele suspirou fundo — É tradição, ok?

Chris negou com a cabeça, mas não se afastou de mim durante toda a cerimônia.

Assim que tudo terminou fui para casa receber alguns amigos da família. Era tudo tão chato e doloroso, ouvir as milhões de histórias sobre meus pais. De quando eram jovens, histórias sobre o que eles faziam de tão bom e do quanto se amavam.
Quando todos foram embora sentir um alívio na minha cabeça. Apenas Chris havia ficado, Kathy precisava ficar com o pequeno Yuri e por isso se despediu cedo ao sair com um rapaz que eu desconhecia.

Chris estava sentado no chão da sala de estar próximo a lareira, sentei ao seu lado e lhe entreguei uma taça de vinho.

— Não acha que já bebeu demais? — perguntou.

— Só vou beber mais uma taça! Prometo!

Relutando um pouco, o loiro acabou por pegar a bebida. Brindamos e eu fiz questão de tomar iniciativa e beber primeiro.

— Humm... — me deliciei — Faz tempo que não bebo um bom vinho...

Chris fez uma cara meio triste, como se eu precisasse de ajudar. E eu acho que precisava mesmo.
Olhei ao redor de nós, aqui parecia tão grande e vazio.

— Ela gostava daqui... — disse — Fez questão de decorar cada canto dessa casa.

— Sua mãe está em um bom lugar agora. Com o seu pai..  — sussurrou ele — E eles devem odiar te ver triste.

Como não poderia ficar triste? Vi toda a minha família morrer! Um a um, todos foram embora e eu fiquei aqui para sofrer por eles.

— Vamos parar de falar disso, eu não quero derramar mais lágrimas! — enxuguei o meu rosto — Como você está?

— Bem.. — Chris se acomodou melhor ao meu lado — Tenho tido muito trabalho e o Yuri acaba de consumir o resto das minhas energias, mas eu amo aquele garoto.

Sorrir, era satisfatório ouvir Chris falar do filho. Sempre foi um sonho para ele se tornar pai e vê-lo realizado é muito bom.

— Sei bem como é isso... Tem hora que penso que a Natasha tem uma bateria que se alimenta das minhas forças!

Rimos juntos. Olhei para ele agradecendo internamente por tê-lo neste momento. Chris era bom demais para mim, depois de tudo que fiz continuava disposto a me fazer bem.

— Chris, me abraça?

Ele pareceu um tanto surpreso com o meu pedido. Se acomodou melhor e envolveu meu corpo com seus fortes braços.
Ali percebi que o calor do seu corpo me fazia bem como antes.

— O seu cheiro ainda é o mesmo... — sussurro.

Sinto o toque das suas mãos nas minhas costas, aos poucos elas seguem caminho por todo o dorso até que uma delas adentram os meus cabelos da nuca. Chris puxa os fios para trás, o que faz minha cabeça tombar, e aproveita o livre acesso ao pescoço para deixar beijos molhados por todo ele.

Aperto os olhos com força, seguro firme seu rosto e me inclino para desfrutar dos seus lábios. O que eu estava fazendo? Sério, iria mesmo trair o meu marido? Minhas questões foram interrompidas quando Chris me largou e levantou dali.

— Não, Maisie!.. você não quer isso! — disse ainda atordoado — Está triste, bêbada e carente! Só quer alguém para preencher esse vazio e esse alguém não será eu... Você não tem o direito de fazer isso comigo...

Levanto, sentindo muita vergonha por meu comportamento, e vou para perto dele.

— Christopher, me desculpa eu não queria...

— Você nunca quer nada, Maisie Wick! — brandou, enfatizando o meu sobrenome de casada — A verdade é que você não está nem aí para ninguém, é uma garota mimada e egoísta.

— Você está me ofendendo!

— Eu estou te ofendendo? E não acha que brincar com os meus sentimentos não é uma ofensa? — os olhos dele estavam carregando de mágoa e isso me matava — Olha pra si mesma... Casada e feliz enquanto eu ainda estou tentando me recuperar do fato da mulher que amo ter formado uma família com o amante!

Era péssimo admitir, mas ele está mais que certo. O ponto final que eu pensava que existia na nossa história era só um ponto e vírgula para ele. Uma reticências ou qualquer coisa que significasse a palavra " inacabado".

— Eu não te trair com o John... Terminei com você porque não tive escolha, porque te amava e te queria bem.

Naquele momento contei tudo para ele. Os motivos que me levaram a deixá-lo, as coisas que passei, que não o havia trocado por outro. No começo pensei que ele fosse entender que me apaixonei por Jonathan aos poucos, mas o jeito que ele saiu da minha casa evidenciou que a mágoa apenas havia crescido.

— Droga! Eu devo ser amaldiçoada... Você é a única que pode me salvar agora.

Disse pegando a garrafa de vinho.

𝐎 𝐐𝐔𝐄 𝐅𝐎𝐑 𝐏𝐑𝐄𝐂𝐈𝐒𝐎 • 𝐏𝐚𝐫𝐭𝐞 𝐃𝐨𝐢𝐬Onde histórias criam vida. Descubra agora