¥[Narrado pelo autor]¥
Depois de mais de duas horas apagados, com a casa em total paz, a primeira movimentação dentre os vinte e cinco homens desmaiados aconteceu. Silêncio. O primeiro a levantar foi Alexander, e com bastante força conseguiu se pôr de joelhos. Sentia seu corpo muito mais pesado que o normal, e sua cabeça doía. Ao seu lado estava Rafael sem camisa, apenas com um short azul de tecido fino. Alexander balançou seu corpo, segurando no ombro esquerdo do amigo. Rafael logo levantou a cabeça e acordou. Aos poucos, outros acordavam também.
Hélio: — Ah... minha cabeça...
Mariel: — O que aconteceu? — se pôs de pé logo após Alex e Rafael acordarem a todos. — Por que estamos todos dormindo aqui?
Alexander: — Não faço ideia... cê tá bem, Bryan?
Bryan: — Sim, obrigado, meu amor. — Alexander sorriu e o abraçou com calma.
Lucas: — Ah... acho que bati a cabeça. — chacoalhou as mãos no ar, respirando fundo. Olhou para todos e viu que todos estavam bem. — Ninguém sabe o que houve?
Mickael: — Não.
Israel: — Também não.
Mariel: — Droga, será que... quem nos trouxe pra cá está brincando com nossa cabeça?
Blake: — Não... parece ser muito pior que isso. Voltarei para a biblioteca. Vão descansar. — olhou brevemente para Maurício e para Alex, que captaram a mensagem.
Lucas: — Você está bem, Blake? Parece...
Blake: — Cansado. É. Estamos todos cansados depois de... sabe-se lá o que aconteceu conosco. Não me lembro de subir... só... acordei aqui.
Bryan: — Vou voltar pro meu quarto.
Lucas: — Posso ir contigo? — Bryan franziu as sobrancelhas e os outros riram.
Kadu: — Ué, vem sendo um grande otário e agora quer se aproximar de novo? Chupa meu pau.
Lucas: — Não, é que... quero conversar com meu amigo. Não quero que vocês se metam. — olhou para Bryan. — Bryan, eu sei que fui um idiota. Quero sua companhia agora, eu preciso muito. Antes de tudo isso, éramos melhores amigos também.
Bryan: — É, eu sei. — suspirou. — Vamos. E, olha, a gente passou essa noite juntos, mas eu preciso te dizer que eu não me importo com a forma que você agiu, eu até entendo. Ninguém aqui pode falar nada. — apontou para todos os homens na casa. — Estamos putos, estressados, e com os nervos à flor da pele. Fomos raptados por algo que não sabemos sobre, e estamos sozinhos aqui sem uma vida. É compreensível seu estresse.
Lucas: — Então... vai voltar a falar comigo normalmente? Não só enquanto eu estiver te comendo? — Bryan sorriu e foi até ele, o dando um abraço.
Eu: — Você continua sendo meu amigo moreno gostoso. Eu te amo, cê sabe. — Lucas sorriu. Os garotos ao redor se entreolharam.
Lucas: — Eu também te amo. E me desculpem, pessoal... por tudo. — o olhar dele entregou o que os outros mais queriam... sinceridade, e um pouco de melancolia. Lucas carregava um fardo, algo que ninguém entendia, mas sentiam só ao olhar em seus olhos.
Rafael: — Tá tudo bem. Bora bater uma bola depois? — se aproximou e cumprimentou Lucas com um forte aperto de mãos. Lucas riu e assentiu.
Lucas: — Com certeza, irmão!
Blake suspirou e se retirou do local, deixando os outros ali. Desceu o mais rápido possível para a biblioteca. Ao chegar lá, vasculhou as próprias memórias, massageando suas têmporas, tentando encontrar uma explicação, mas... seu cérebro ficou vazio por um período de tempo. Havia uma falha que se encaixava perfeitamente no que deveria ser a memória do que aconteceu. Ele tentou recuperá-la, tentou usar suas habilidades de enxergar o passado, mas nada funcionava. Seja lá o que aconteceu, não estava ali. Mas ainda bem que Blake não é um cara normal. Ele é mais esperto que os outros, e cresceu aprendendo a ser um sobrevivente.
Maurício: — O que aconteceu lá, Blake? Cê sabe, não é? — entrou na biblioteca acompanhado de Saulo, Mickael e Alexander. — Cê sempre sabe de tudo. — Os quatro sentaram-se em lados aleatórios e perceberam a expressão preocupada de Blake.
Blake: — Estamos em perigo... em perigo extremo.
Alexander: — O que rolou, cara? Cê se lembra?
Blake: — Não, e não consigo acessar através do meu próprio cérebro. — sentou-se no chão e bateu a parte de trás da cabeça contra a estante de livros, suspirando.
Mickael: — Eu me lembro de cenas... estávamos conversando com Lucas e com os outros... eles pareciam estar se desentendendo, mas não me lembro das vozes, e nem de sons. Então eu vi o Blake fazendo sinais rápidos atrás das costas. O que você fez lá? Eu vi você fazendo aqueles sinais com os dedos... o sinal da coruja, da borboleta, e da... ah, não me lembro muito bem, mas você já me contou sobre.
Blake: — Ah, então... — riu baixo. — Coruja, Borboleta e o Pavão. Ah, que alívio que eu pensei nisso na hora. — ele levantou as mãos na altura do queixo. — Os sinais dos Guardiões dos Aspectos. Crenças das bruxas da minha época diziam existir espíritos primordiais que encarnam no universo até hoje. São espíritos com formas distintas que se assemelham a uns animais que existem na terra. A Coruja, a Borboleta, e o Pavão. Espíritos que representam as memórias.
Saulo: — Isso é muito intelecto pra eu acompanhar. O que isso significa?
Blake: — Eu compartilhei minhas memórias com os espíritos guardiões.
Maurício: — O-o quê?!
Mickael: — Como assim, mano? — Saulo riu. Blake se pôs de pé, e com uma postura perfeita se aproximou do centro da sala principal da biblioteca.
Blake: — Seja lá o que aconteceu, eu pressenti que precisaria das minhas memórias. Eu sempre soube sobre os mantras dos bruxos da mata, mas nunca pratiquei, afinal eu tenho outras crenças e outra cultura. Nas agora que eu tenho noção de minhas habilidades, eu entendo que são reais e aquelas rezas e rituais funcionavam. Os Druidas acreditavam que assim eles poderiam contatar seres dimensionais, e até armazenar a história de seu povo e do que eles sabiam sobre o mundo pela eternidade, e algum dia alguém as encontraria e acessaria esse conhecimento. Então rezavam para os espíritos primordiais. A Coruja... — fez o sinal com as mãos, cruzando o mindinho e o anelar, formou um círculo com os dedos do meio tocando as pontas, e cruzou levemente os indicadores, os inclinando para baixo. Por fim tocou a ponta dos polegares abaixo.
Mickael: — Hum... — Blake estava se concentrando, então todos ficaram em silêncio.
Blake: — A Borboleta... — abriu as mãos e esticou os dedos... cruzou os anelares e mindinho, como um hashtag, passando o mindinho esquerdo por cima do mindinho direito, e por baixo do anelar direito... e passando o anelar esquerdo por baixo do mindinho direito e por cima do anelar direito. — e o Pavão... — cruzou os punhos, com o pulso direito por cima, e cruzou os polegares, com as mãos abertas, e os dedos esticados. Logo ao fazer isso, ditou algo apenas movendo os lábios, e de olhos fechados. Os outros queriam escutar, mas não conseguiam. Ao abrir os olhos, as pupilas de Blake brilharam em um vermelho forte, dominando seus olhos ambares. Ele ficou ofegante, e suas pernas fraquejaram. Caiu de joelhos e tossiu, com um olhar desesperado. Todos se levantaram rapidamente e foram tentar ajudá-lo.
Saulo: — O que houve??? Cê tá bem??? — Blake levantou a palma direita, evitando que o tocassem.
Mickael: — O-o quê... você viu?
Blake: — Lucas! — tossiu mais algumas vezes.
Maurício: — O que tem o Lucas, Blake??? Foi ele que fez isso com a gente? — Blake se levantou e assentiu freneticamente. Sentiu uma forte dor de cabeça e... suas memórias estavam de volta. Até um pouco antes de ele desmaiar. Os espíritos absorveram suas memórias continuamente, até mesmo depois de já ter desfeito os símbolos, e só pararam quando ele perdeu a consciência... então ele se lembrou de tudo, até o último momento de consciência. Respirou fundo e se acalmou para falar.
Blake: — Precisamos tomar cuidado com o Lucas. Eu não imaginava isso, mas... eu não conseguia ver o interior dele, e sempre achei que eu ainda não sei controlar muito bem minhas habilidades, e Lucas é muito forte, mas... não... não! — todos se entreolharam. — O poder que ele tem... eu só consegui recuperar minha memória porque eu as guardei fora do meu corpo! Ele... zerou aqueles minutos como se estivesse secando um prato molhado com um pano seco.
Mickael: — Mas se ele apagou nossa memória, como que eu...
Blake: — Suas habilidades te permitem ter memória absoluta sobre tudo, apenas imagens, mas não de sons. Ele apagou os sons daquele momento, mas... seus olhos são muito poderosos, Mickael, as imagens não poder ser apagadas. Tudo o que você viu vai te acompanhar até a sua morte. — sentou-se no chão e fechou os olhos, se acalmando. — Lucas é muito forte, e ele não é como nós. Ele não é um experimento qualquer. E eu duvido que esse experimento tenha o afetado. Ele não é humano... está longe de ser. Ele tem consciência de tudo o que está acontecendo, ele conhece todos aqui, ele conhece nossas vidas, conhece nossa morte, ele sabe sobre o que está acontecendo. Esse moleque está se divertindo conosco...
Alexander: — Que filho da... puta... então ele está com as coisas que nos trouxeram pra cá?!
Saulo: — A gente precisa matar ele então?
Mickael: — Não! Óbvio que não! Qual parte do “ele é muito poderoso” você não entendeu?! Se enfrentá-lo, ele te mata, ô otário!
Blake: — Não parece que ele está do lado dos que nos puseram aqui. Ele é algo muito além da nossa compreensão. Aquela aura... aquela energia que o rodeia transmuta com uma facilidade impossível pra qualquer criatura mortal. E quando ele convulsionou, o olhar dele mudou, como se... se ele tivesse amadurecido depois de muitos anos. Ele entendeu o nosso futuro, e está montando à imagem do que ele quer.
Maurício: — Mas... isso não faz sentido. Por que Lucas apagaria a memória de todo mundo apenas por minutos inúteis?
Blake: — Na noite passada ele pediu Bryan em namoro. Bryan aceitou, mas... eu não sei por que Lucas quis mudar tudo isso. Ele estava tão feliz, tão radiante... e então Kadu falou coisas ruins pra ele, e isso ativou um gatilho que o fez se revoltar e pirar. Quando ele me atacou, eu senti... senti suas mãos atravessarem minha alma, agarrá-la e retorcê-la, como se estivesse torcendo um pano de chão. Ele foi direto ao ponto, certeiro e perfeito. Ele tem plena consciência do que está acontecendo, mas... parece que ele não faz ideia do que ele mesmo é.
Alexander: — Então estamos lidando com a porra de um ser que não entende nem a si mesmo?
Blake: — Ele está confuso tanto quanto nós. Mas contrário a nós, ele se lembra de tudo em seu passado. Ainda não sei por qual motivo ele faz esse papel de bom moço inocente, mas ele faz.
Mickael: — Então é tudo encenação... aquele filho da puta! Porra, a gente confiou nele!
Saulo: — Vamos matá-lo! — de repente, Saulo sentiu uma forte dor nas costas, como se seus ossos estivessem rangendo e saindo por sua pele, mas tentou ignorar.
Blake: — Não, matá-lo não vai funcionar. Ele é um menino bom, dá pra sentir pela aura dele. Ele é tão bom, que chega a ser perfeito. Ainda não sei o que ele é, mas ele conhece nossas fraquezas. Tenham cuidado. Não tirem satisfação com ele, e não deixem que ele saiba sobre o que tratamos aqui. Ele é estritamente perigoso.
Israel: — Ei, pessoal. Sobre o que estão falando? — entrou na biblioteca e se aproximou deles, meio desconfiado.
Mickael: — Nada de importante.
Israel: — Qual é! Eu sei que vocês só se juntam aqui pra falar daquele... assunto. E apesar da minha boa audição, essa porta é muito grossa, lá de cima não dá pra escutar direito o que vocês resmungam aqui.
Blake tocou o topo de sua cabeça, como se estivesse agarrando algo invisível. Uma névoa branca se despendeu de sua cabeça e uniu-se numa esfera luminosa... e ele a lançou numa velocidade assustadora contra a cabeça de Israel, o fazendo tombar para trás com a pressão. Todos se assustaram e encararam Blake.
Blake: — Me poupei o trabalho de falar tudo de novo.
Saulo: — Mas... que... porra... — Israel se levantou. Parecia impactado com a informação.
Israel: — Wow... isso é sério? Sobre o Lucas? — Blake assentiu.
Israel: — Ah... vamos todos morrer... — riu. Logo Gabriel, Jeferson e Jean apareceram conversando. Todos pararam de falar e olharam pra eles.
Gabriel: — Vamos mesmo morrer? Quando?
Israel: — Ah... ah... nada. Só tô pensando alto.
Jeferson: — Tá na cara que já estamos todos mortos.
Gabriel: — Não, eu ainda sinto dor.
Israel: — E prazer. — os outros se aproximaram.
Jeferson: — No céu não deveria ter isso. Devemos estar no inferno.
Israel: — Nossa, se estamos no inferno, o Capeta é bem liberal, né. Comi até um cuzinho aqui, e tô mó feliz. — alguns dos garotos riram.
Saulo: — Pelo amor de Deus, estou cercado por enrustidos.
Alexander: — Olha só, Blake. Eu só quero saber se a gente vai morrer mesmo.
Blake: — Óbvio. Por quê?
Alexander: — Porque eu não quero morrer na seca, meu irmão! — Israel, Gabriel e Maurício riram.
Jeferson: — Pensando por esse lado... nem lembro como é essa parada de foder na cama. — Alex apontou pra ele e ambos riram. — Não tinha tempo pra isso antes de vir pra cá. Na minha idade o trabalho é mais importante do que relacionamentos.
Mickael: — Vocês vieram pra biblioteca só pra discutir que querem transar?
Jean: — Óbvio que não. Viemos chamar o Isra e o Saulão pra jogar videogame. Jeff e eu tamo viciadão naquela porra. — riu.
Blake: — É de se esperar. Estamos sendo agraciados com produtos de épocas diferentes. — todos ficaram em silêncio. — Eu vim de 1838, nasci em 1804. Pra mim tudo aqui é novo e incrível... livros que contam fatos que ainda não aconteceram... é por isso que eu fico tanto tempo aqui, absorvendo conhecimento do futuro que eu não vivi. Ainda estou tentando me adaptar à forma de linguagem de vocês.
Alexander: — Rapaz... caralho!!! — todos riram, surpresos com a afirmação de Blake. — 1838???
Blake: — Descobri que os Ciganos não sofrem mais tanto quanto sofriam, e nem somos mais conhecidos como Ciganos, porque muitos consideram pejorativo. Nos chamam pelo certo, Romani, e eu adorei saber disso, me deixa muito feliz. Há livros da história moderna aqui, livros lançados duzentos anos após meu nascimento... é surpreendente. Mas eu não sou o único. — apontou para Jean.
Jean: — É... eu tinha notado a diferença de linguagem e me adaptei bem rápido.
Blake: — Você é jovem, aprende rápido com os garotos da sua idade.
Gabriel: — Mano, você também veio do passado???
Jean: — Eu achava que vocês vieram do futuro. — riu. — Eu preferi não falar nada. No começo fiquei com medo de me acharem louco e quererem me bater. Eu vim aprendendo, e entendendo novas palavras daora.
Gabriel: — De que ano tu é???
Jean: — Nasci em 1915...
Blake: — Filho de uma escrava e um fazendeiro branco rico. Desde criança abandonado por aqueles que deveriam ser a família paterna, impedido de estudar e trabalhar, e até mesmo ameaçado de morte várias vezes ao dia. — Jean abaixou a cabeça. — Não se preocupe, meu filho. Aqui te reconhecemos como um igual. Eu me senti acolhido por eles, espero que você também sinta.
Jean: — É, eu sinto. — sorriu de uma forma fofa, passou os braços pelos ombros de Gabriel e do Jeferson, e os abraçou, os fazendo rir. — Eles moleques são foda. Eu aprendi muita coisa e está sendo muito legal. Muito melhor do que na minha terra. Aqui eu tenho o que comer, e não sou chicoteado por couro e galhos e raízes de videiras. — ele riu animado, mas os rapazes ao redor abaixaram a cabeça e suspiraram, sentindo-se desconfortáveis. Jean parecia tão bem, mesmo depois de sofrer... pra ele parecia até ser normal, sendo que o problema é surreal.
Maurício: — Ah... uau... — sentou-se um pouco. Todos ficaram sérios e desconcertados.
Jean: — Ué, gente, que caras são essas?
Blake: — Não é nada contigo, não se preocupe. Só não estão acostumados a tratar do assunto, afinal a escravidão que seus familiares passaram é considerada uma das piores épocas para o povo moderno, e estão tentando se redimir com seus descendentes.
Jean: — Ué, gente, mas está tudo bem. Eu não tenho raiva de vocês. Não foram vocês que...
Blake: — Mas foram os antepassados deles. — os rapazes ficaram ainda mais desconfortáveis. — Você falou com naturalidade sobre algo que você passou desde sua infância. Você se acostumou a viver dessa forma errada e tortuosa. Pra eles, tudo o que fizeram com você é errado, e você não devia estar feliz falando sobre isso. É algo triste... muito triste e desesperador.
Jean: — Mas está tudo bem. Eu saí de lá, não é? Doía, mas eu não vou odiar todos os descendentes dos covardes que me puniam. Eu odeio mesmo é o meu pai, apenas ele, que me rejeitava o tempo inteiro. É o único que eu não consigo perdoar. Vocês são meus amigos, os melhores que já tive, e estou muito feliz com vocês, não importa o que aconteça. Vocês me respeitam, e não me xingam. Eu sou reconhecido pelo meu trabalho. — Blake tocou a própria testa, gemendo de dor. Sentia na pele uma energia sendo exalada, o que dificultou para ele ter uma certa percepção do que acontecia ali. Uma brisa fraca bateu em todos, mas só Blake, Maurício e Alexander sentiram a estática no ar.
Blake: — Ah...
Maurício: — O que foi? — aproximou-se e questionou baixinho.
Blake: — Algum deles vai despertar... estou sentindo...
Gabriel: — Cara, você é foda. É um puta amigo, e a gente vai te respeitar pra caralho. — o sorriso de Jean desapareceu. Ele olhou pro chão e começou a ficar ofegante. — O-o que foi? Falei algo errado?
Blake: — Se afastem dele agora! — gritou. Todos se afastaram rapidamente. Jean olhou para as próprias mãos e... olhou desesperado para todos. Ninguém estava entendendo. Jean deu passos para trás e... de repente paralisou olhando para Mickael.
Jean: — Tu... curandeiro das terras... príncipe das ervas sagradas... herdou o poema do sábio, parceiro do reinado e legado... — suas palavras incontroláveis foram jogadas contra Mickael. — Filho da flor, casado com o amor... oferece ao rei... o que lhe sobrou de perfeito...
Israel: — Ele está... profetizando?
Gabriel: — Jean! Cara, o que cê tá falando?! — tentou se aproximar, mas uma barreira invisível o impediu de tocar o amigo. Ele caiu sentado e rapidamente foi puxado por Alexander, sendo forçado a ficar longe de Jean.
Alexander: — Fique longe dele...
Jean: — Tu... — apontou para Blake. — criatura corrupta que navega nas cordas... língua afiada penetrando dimensões... quebrando estados e mudando cursos eternos. Não há morte, não há cura, às maldições sob seus pés. Quebraste a barreira do espaço, mastigou o tempo, emaranhou as cordas... saltou pelos ventos. Solidão.
Jean olhou outra vez para suas próprias mãos. Sua pele escura começou a exalar névoa cinzenta. Seus olhos foram dominados por clarões que pulsavam sincronizados com as batidas de seu coração. Blake se levantou e se aproximou dele, ignorando suas próprias ordens.
Jean: — O-o que... tá acontecendo...??? — indagou demonstrando estar muito assustado.
Blake: — Mas é claro... não são as memórias. São os traumas... — tocou a barreira que protegia Jean.
Jean: — Eu não consigo enxergar!!! Me ajudem, por favor!!! — agarrou a própria cabeça e se jogou contra a parede. — Me tirem daqui!!!
Blake: — Não são nossas memórias a despertarem nossas habilidades. São nossos traumas. Lembrar de tudo impulsiona nossa capacidade, e nossa energia reage ao nosso desespero.
Jean: — Por favor.. — se ajoelhou, se encolhendo num canto, e de repente começou a chorar. — Eu não quero morrer aqui dentro... papai, por favor...
Blake: — Eu posso ver... as chamas... as chicotadas... todos correndo, ninguém quer salvar o mestiço. — Jean chorou alto, desesperado com algo que apenas ele e Blake viam. — Atearam fogo em sua casa, humilde, mas construída com suas próprias mãos. “Morte a esses pretos”, eles gritam... “Liberdade na morte aos bandidos sujos”, clamam afora... entre gargalhadas, matam crianças... seus irmãos...
Jean: — Meus irmãos... papai, não deixe que me matem... — disse baixinho, como uma oração. — servirei o senhor, como tantos outros fazem...
Blake: — Mas... — tocou a cabeça mais uma vez, sentindo dor. Sua visão mudou completamente, e continuou tocando a barreira invisível que protegia o garoto assustado. Viu o olhar da criança presa nas chamas mudando, libertando clarões tempestuosos. Aquela criança só sobreviveu às chamas por causa uma ventania com chuva tão poderosa, que extinguiu o fogo rapidamente e destruiu todas as casas ao redor de seu barraco carbonizado. As imagens mudaram. Agora Jean não era apenas uma criança, mas sim um jovem adulto capaz de medir suas ações bem até demais. Jean mudou completamente sua expressão. Parou de chorar e olhou para frente com um sorriso macabro se abrindo aos poucos, mesmo com as lágrimas. Seus olhos dominados por clarões de tempestades pesadas, que pulsavam como um coração, estavam arregalados, assustando seus amigos. — Alma bondosa corrompida pela raiva...
Jeferson: — Mas que caralhos está rolando?!
Maurício: — Blake está acessando o passado do Jean. É o poder dele... bom, cê vai entender daqui a pouco, relaxa.
Mickael: — Deixe com o Blake, ele sabe o que faz.
Israel: — Lá vamos nós de novo. — deitou-se numa das poltronas e ficou apenas assistindo. Por algum motivo, não sentiu medo e nem receio. Sentia-se... normal. Só ficou sentado e relaxado, atento ao que falavam.
Blake: — Sua alma é pura, mas traiçoeira. Um garoto bom, mas para sobreviver recorreu à magia oculta de seu tempo... amaldiçoou as terras de seu pai. Profeta acusado, perseguido... traz nos braços as almas dos seus assassinos... seu pai enforcado agarrado às suas costas... sua tempestade furiosa... imortal em espírito... Airá...
Jean: — Mesmo que me matem... me alimento de vossas almas ominosas. Troco a sua pela minha vida. Mamãe me perdoe, mas eu trouxe o inferno aos bajuladores.
Jean riu alto, e Blake gemeu de dor. Viu tempestades... e tempestades cada vez mais pesadas e mortais, e dentre os clarões ele viu algo surpreendente. Havia um homem pairando pelos céus, nadando em nuvens e pisando em raios. Seus olhos como duas estrelas pulsantes... suas mãos causavam ventanias, e mergulhava em tornados sob seus pés. Aquele menino não deveria estar ali com eles, assim como Lucas. Jean possuía muito poder, e isso não parece ser de experimentos... ou talvez seja. Não dá pra saber. Mas naqueles olhos pulsantes, era notória sua capacidade devastadora.
Blake: — Senhor dos ventos e das tempestades... o espírito que rege em ti... vestido em tecidos brancos, erguido por relâmpagos... — Jean se levantou. Sua barreira mudou nas mãos de Blake, mas não deveria. Blake rompeu a barreira, que se deformou como vidro se estilhaçando, e se aproximou de Jean. O garoto parecia ter ficado surpreso ao ver Blake atravessando seu escudo como se não fosse nada, e tentou se afastar, mas atrás só havia paredes. Blake ergueu sua mão e tocou-lhe a cabeça... fechou os olhos e se concentrou em algo que nem mesmo ele entendia, mas estava prestes a entender. Seu poder não é apenas clarividência, mas também é a compreensão, não importando o quão absurdo e longínquo seja o entendimento. Algumas coisas estão acima do alcance humano, e muitos não conseguem explicar. Mas não é assim com Blake. Ele entende como as coisas funcionam.
Blake: — Você está livre, Airá. Solte esse garoto...
Jean: — Enquanto meu povo existir, eu existirei. Não vamos nos desconectar, somos apenas um. — a voz do rapaz saiu diferente. Parecia maduro e audaz. — Ele morre... se nos separarmos. Não sobreviveria ao caos, às queimaduras, ao ódio. Garoto frágil. Menino que clamou por ajuda, derramou rios de lágrimas por incontáveis noites, por incontáveis dias, reivindicou meu poder como castigo aos que o puniram por existir. Servimos um ao outro. Sobrevivemos ao ontem, sobreviveremos ao amanhã.
Blake: — Como você veio ao mundo mortal? Exu é o único quem... — Jean riu, dando um passo próximo a ele..
Jean: — O mensageiro não controla as cordas. O desespero leva a atos sem volta. Ouvi o chamado, senti a conexão. Meu filho, meu corpo, nos tornamos um. — seu sorriso macabro deixava Blake muito desconfortável. Estava falando diretamente com uma deidade de um mundo incompreensivelmente diferente e divino.
Blake: — Deixe-o retornar. Precisamos do nosso amigo, não de você. — Jean riu.
Jean: — Ele está aqui, falando com vocês. O jovem Jean tem plena consciência de quem ele é, Blake. Olha, sou eu. — levantou os braços, os chacoalhou no ar, e bateu as mãos em seu próprio rosto. Seu sorriso de repente desapareceu quando uma fraca luz vermelha iluminou sua blusa branca. Ao levantar o tecido, sentiu a ardência de algo queimando sua pele escura. Abaixo de seu umbigo, um símbolo foi formado. A mão não-humana segurando uma esfera. Jean não gritou de dor, como os outros. Assim que o símbolo se fixou em sua pele, ele riu, debochando do que via.
Blake: — Você também foi... uma experiência.
Jean: — Tocaram meu corpo, mexeram no que não deveria ser mudado. Não aceito este caminho, não reivindico essa blasfêmia. — o símbolo voltou a queimar e... aos poucos desapareceu de sua pele, como fagulhas queimando rapidamente. Logo ele estava limpo, livre que qualquer traço de que era uma experiência, como os outros. — Bem melhor.
Maurício: — Agora que ele se lembrou... vamos ter que lidar com essa personalidade? — todos encararam Jean. Ele apenas fechou os olhos e... aqueles clarões pulsantes pararam. Sua postura mudou, seu sorriso voltou a ser o que era, e Blake sentiu o alívio. Aquela energia poderosa não estava mais presente... se encolheu no corpo de Jean.
Jean: — Eu me lembro. — Blake hesitou, se afastando do rapaz. Ele conseguiu se desfazer facilmente da marca das experiências, e se negou a aceitá-la em seu corpo. Como ele fez isso ainda era um mistério, mesmo para o homem da compreensão. — Eu sou Jean Bonavier, filho de Jacira Boá, e Yoseph Bonavier. Descendente de Airá, portador de magia da profecia de Iorubá.
Israel: — Bem-vindo irmão. A gente também é estranho. — Blake, apesar de estar hesitante, sorriu e tocou o ombro de Jean.
Gabriel: — Alguém, pelo amor de Deus, pode me explicar alguma coisa??? — Alex riu e o puxou para um abraço. Jeferson só engoliu em seco e sentiu-se meio tonto. Olhou para Blake e tentou focar a visão, mas... achava que estava meio lelé da cuca. Talvez tenha sido drogado por alguém, vai saber.
Alexander: — Então, cara. Tem umas coisas rolando e... eu não te contei pra você não pirar também, mas agora...
Blake: — Atualizem eles. Eu preciso descansar minha cabeça. — os outros riram. Blake voltou para onde estava e se jogou em uma poltrona, suspirando diversas vezes enquanto tentava relaxar. Sua cabeça ainda doía, e ele precisa muito aprender a evitar deixar que a energia dos outros influencie em seu corpo. Seu corpo está muito aberto, precisa ser selado.
Os meninos tentam explicar o que sabem para Jeferson, Jean e Gabriel, mas da forma descontraída deles. Blake saberia explicar melhor, mas estava muito cansado. Gabriel pirou, mas depois começou a achar o máximo. Todos eles tem habilidades sobre-humanas, mas muitos ainda não descobriram. Apenas Israel, Blake e Jean sabem o que eles podem fazer... e Saulo. Ele deixou claro que sabe o que ele é também, mas prefere não falar sobre isso porque ele odeia o assunto. Os outros ficaram curiosos, mas ele não quis falar.
Jeferson: — Mano... tudo o que vivemos no passado... todo o mundo era pura mentira! A gente andava em ilusões moldadas por uma sociedade ignorante.
Mickael: — Tantos mundos ocultos atrás de um... vocês não tem noção do que é ter esse conhecimento. Eu mesmo já tive várias crises existenciais nessa biblioteca.
Saulo: — Minha vida inteira foi uma crise existencial. — riu.
Jean: — Pô, cara, fala aí o que tu sabes fazer. Eu tô curioso.
Saulo: — Não, não. Deixa isso pra lá.
Alexander: — Descobrimos isso há um tempão, mas ele nunca falou sobre. Sempre se esquiva. Só Blake e ele que sabem do que se trata.
Saulo: — TÁ! Eu sei voar, beleza?! — todos se calaram...
Gabriel: — Espera... isso é sério? — eles começaram a rir. — Mano, isso é incrível!!
Israel: — Velho, isso é muito massa! Por que tem vergonha disso? — Saulo suspirou. Fechou seus olhos verdes com calma e cruzou os braços.
Saulo: — Eu... nasci com uma deformação rara... muito, mas muito rara. — ele tirou a blusa e... se virou de costas para seus amigos. em suas costas havia uma tatuagem enorme de duas asas pretas encolhidas. Mas atrás de seus ombros... Em suas escápulas havia um par de cicatrizes grandes... como se algo de um palmo de diâmetro tivesse sido arrancado dali, cortado de forma repicada, e aparentemente de forma dolorosa. — E-eu...
Mickael: — Você tinha asas... — todos se levantaram e se aproximaram dele... tocando suas costas e olhando suas cicatrizes mais de perto.
Saulo: — É. E-eu... as freiras do internato onde eu cresci diziam que eu sou filho e seguidor de Lúcifer. Nasci com asinhas de frango, pelado e ridículo. — riu baixo. — Mas quando cresci, aquela porra criou muitas penas e... se tornaram um par de asas pretas. Quando eu fugi do internato e me isolei nas ruas, eu até que gostava disso, me ajudava a fugir dos policiais, mas eu nunca voei de verdade. Eu tinha medo. E por esse medo, e pelo medo dos outros, eu arranquei-as do meu corpo. A dor de cortá-las com uma faca cega foi bem menor que a dor do desprezo que sofri por causa dessas porras inúteis.
Israel: — Cara, que vacilo... você poderia voar, ser tão... foda.
Blake: — As asas dele eram lindas. O fenômeno mais belo que eu já vi no passado de uma pessoa. Com penas pretas, e uma curvatura enorme... poderosas o suficiente para que ele erguesse um maquinário a vapor e o carregasse pelo ar. — Saulo vestiu a blusa e se afastou de todos que o tocavam.
Saulo: — É, mas isso não importa. Elas não existem mais. Eu me livrei delas, joguei no mar, não tem volta.
Gabriel: — Você não sente falta delas? Não sente falta de quem você é? Elas fazem parte de você, cara. — Saulo encarou o chão e sentiu-se afetado pela situação. Ele se arrependeu de tê-las arrancado logo após ter feito. Blake tocou a própria cabeça e gemeu de novo, sentindo dor. Mais uma energia estava sendo fortemente exalada.
Saulo: — Se eu pudesse mudar isso, eu mudaria. Mas não posso. Vamos mudar de assunto.
Blake: — Só avisando que... Jeferson vai despertar. — rapidamente geral se afastou dele. Foi automático. Jeferson é um homem muito alto e robusto. Dependendo da reação, ele pode sem querer machucar um deles facilmente.
Jeferson: — É, eu... eu tô me lembrando. — sua visão embaçou. Fechou os olhos com força e tentou focar em algum dos meninos. — Minha visão está turva. Parece que vou desmaiar, mas... não vou...
Blake: — Fique calmo. Só se lembre e se controle.
Jeferson: — Eu me lembro de símbolos, de... da minha coleção de facas. Eu sou muito bom com facas. Eu me adapto muito rápido ao uso de qualquer arma. Mas... eu não sei. Eu vi coisas estranhas, fui perseguido, tentaram me matar, mas não conseguiram. Já passei por assaltos, e matei os que ameaçavam minha vida. Tenho muito sangue nas mãos, mas eu realmente não me importo. Eu sou açougueiro. Fazer cortes perfeitos, a ponto de não identificarem a diferença do corte de uma máquina a um corte meu, é minha especialidade.
Blake: — Podem ficar calmos. Ele não vai explodir, ou coisa parecida. — Jeferson se curvou e agarrou seu braço com força, sentindo a queimação começar.
Jeferson gritou com a dor, aquilo queimava sua pele como fornalha em linhas. Mas sua tatuagem foi diferente. Uma esfera era gravada no pulso esquerdo, e outra esfera no pulso direito. Nas costas de suas mãos uma marca incandescente se formava, formando cinco linhas, que conectavam da ponta de seus dedos, ao antebraço e aos cotovelos. A dor que ele sentiu foi muito pior que a dor que os outros sentiram. Os outros receberam apenas um símbolo, único, com poucas linhas. Em Jeferson, as marcas eram maiores e com linhas muito mais grossas, que se estendiam em várias partes de seu braço, indo para suas costas e abdômen, descendo por sua cintura, pernas e pés. Ele se lançou contra o chão e permaneceu deitado, se contorcendo com a forte dor das queimaduras que formavam desenhos por seu corpo inteiro. Alguns tentaram se aproximar, mas foram impedidos por Blake, que avisou que tocar Jeferson só causaria mais dor a ele. Aquilo doía demais, a ponto do homem chegar a quase desmaiar. Quando as marcas vermelho-carmesim que queimavam em sua pele perderam o brilho, as tatuagens escuras ficaram gravadas nele... em todo seu corpo, inclusive rosto, com desenhos únicos e... bonitos. Seus olhos ficaram mais reflexivos que o normal, como olhos de felinos. Ele permaneceu no chão até que a dor diminuísse. Gabriel sentou-se e se encolheu na poltrona. Alex se curvou sobre ele e olhou em seus olhos inquietos.
Alexander: — Está se sentindo estranho também? — Gabriel apenas assentiu. Ficou sonolento e sentiu seu corpo pesado. Tentou levantar a mão, mas não conseguiu. Superficialmente Gabriel não mudou. Ele apenas tentou se manter acordado, mas estava sendo muito difícil. Se lembrou perfeitamente das coisas estranhas pelo qual passou, principalmente as que passou com seu melhor amigo, Alexander. O símbolo da mão segurando uma esfera surgiu em seu peito direito, brilhando sob a blusa. Estava tão sonolento, que seu corpo foi anestesiado. O único a não sentir dor alguma.
Mickael: — Ei! Se mantenha acordado, Gabriel! — Alex deu tapinhas em seu rosto, mas o garoto apagou.
Alexander: — Gabe! Acorda, mano! — chacoalhou o amigo.
Blake: — Não, deixem ele dormir. A estrutura corporal dele está mudando. Ele vai precisar de muito mais energia física, então o corpo vai descansar e se recuperar dormindo.
Mickael: — Espera... esse é o poder dele? Alteração física? Mas de que tipo?
Blake: — O quase-médico aqui é você. Estude ele. Eu só sei o que minha clarividência me permite ver.
Depois de alguns minutos, Jeferson levantou-se e sentou-se no chão sem entender o que aconteceu com seu corpo. Gabriel ainda dormia, e provavelmente ficaria apagado o resto do dia... ou da semana. Mas é bem provável que fique cochilando por todos os lados, e no futuro se torne extremamente hiperativo.
Os meninos continuaram conversando e trocando experiências sobre si mesmos e sobre a simbologia que rodeava tudo aquilo. Falaram até mesmo das marcas de Jeff, que são bem diferentes. Queriam saber qual era o poder dele, mas nem ele mesmo sabia exatamente. Mas sentia umas coisas novas e estranhas. Blake avisou que ele ganhou células novas, que ele pode controlar. E ao tentar fazer algo novo, Jeferson apenas alterou sua derme, colorindo as tatuagens com seu tom de pele. Elas ficaram imperceptíveis, controladas como um músculo. Jeff parecia um camaleão-humano, alterando sua própria cor. Pelo menos esconderia aquelas marcas diante dos outros. Todos tentaram descobrir suas habilidades, mas os únicos que conseguiram manifestar algo físico foram Jean e Blake. Um fez com que ventasse na biblioteca, lançando folhas soltas de anotações de Blake pelo ar, e pequenos raios estalassem entre seus dedos... e o outro ergueu livros pelo ar de olhos fechados, fazendo com que viajassem em espiral pela biblioteca e voltassem para seus lugares em seguida. Israel contou que tinha uma audição perfeita, riu e falou que escutava tudo e todos em toda a casa o tempo inteiro. Ele diz saber dos segredos de cada um. Os meninos se entreolharam.
Israel: — Inclusive, agora eu tenho certeza de quem tem alguém trepando lá em cima. Apesar da porta da biblioteca ser enorme e atrapalhar, eu consigo distinguir que são gemidos. — os meninos riram.
Mesmo dizendo que podia escutar tudo, os outros não acreditaram e o obrigaram a provar isso. Fizeram com que Jeferson fosse para os fundos da biblioteca, bem distante deles, lá pro último corredor, e dissesse algo específico. Jeferson foi, e logo no corredor ele já se surpreendeu. Mesmo naquela escuridão, ele enxergava perfeitamente tudo. Mas no escuro as coisas não tinham cores. Ficavam em escala de cinza, mas perfeitamente aparentes. Ele riu e verificou cada corredor. Seus olhos refletiam qualquer feixe de luz, o que era ainda mais legal.
Jeferson: — Quando eu era mais novo, eu estrangulei o diretor do meu colégio... o arrastei e o escondi por dois dias... então o desovei na jaula dos tigres, a atração principal do zoológico da cidade, numa noite de domingo. Nunca me descobriram. Motivo? O filho da puta passou a mão no meu pau. Eu era a porra de uma criança.
Ao dizer isso bem baixinho naquele escuro, ele voltou para onde seus amigos estavam. Sentou-se e todos olharam para Israel, que parecia em choque.
Alexander: — O que ele disse?
Israel: — Vocês não vão querer saber. — com os olhos arregalados, ele apenas pigarreou e olhou para Blake, que riu baixo. Jeferson riu e concordou. — Meu... Deus...
Alexander: — O que você disse, cara?
Jeferson: — Nada demais. Mas ele ouviu. — apontou para Israel, que ainda estava com os olhos castanho-canela arregalados. — Não esperava uma reação diferente.
Israel: — Você é um psicopata juvenil... — Jeff deu de ombros.
Jeferson: — Só pra quem merece.
Enquanto aqueles permaneceram conversando e conhecendo mais sobre os assuntos ocultos, outros agiam normalmente pela casa, tocando suas vidas como se nada tivesse acontecido. Depois que Lucas e Bryan conversaram e se entenderam, terminaram a conversa com um abraço.
Lucas: — Você é meu melhor amigo. Eu te amo muito, muito mais que qualquer coisa presente na minha vida. Eu prometo não ser mais um idiota contigo, vou voltar a ser o bobão de antes.
Bryan: — Assim espero. Eu sei que todo esse estresse tem prejudicado você. Você sente falta de fotografar, de se manter ocupado, mas aqui... está difícil pra maioria. — Lucas riu se aproximando mais um pouco de Bryan.
Lucas: — É, eu sinto falta das coisas de antes, mas aqui até que é legal. Não posso falar com meus pais, nem com o Sr. Utrack, e nem ser mimado pelo patrão mais gente boa do mundo, mas fiz novos amigos e... eu conheci muito mais sobre mim mesmo. — Bryan sorriu e acariciou seu rosto. Lucas não hesitou. Se lembrou perfeitamente dos beijos da noite passada e... queria muito beijá-lo de novo.
Bryan: — Sinto falta da minha mãe e... não vou mentir, sinto falta do Marcelo também, apesar de tudo. Mas aqui está sendo um refúgio para alguns de nós. Tipo o Saulo, que morou nas ruas a vida toda, passou fome, foi sempre desprezado e perseguido... e o cara que mais o perseguia agora joga bola e videogame com ele todos os dias. — Lucas riu e concordou. — Troy não sabia entender as pessoas, e não gostava de ter amigos. Agora ele se aproximou de seu maior inimigo, e eles parecem até irmãos.
Lucas: — Brigam, brigam, mas se amam. — ambos assentiram. — Blake não tinha ninguém no passado. A noiva dele foi assassinada, e ele viveu sozinho a vida toda. Aqui ele encontrou amigos e se sente bem. E também tem o Kadu e o Rafael. Ambos sentiam-se deslocados no mundo lá fora, e não entendiam seus lugares. Ambos perderam a confiança, e aqui estão aprendendo a sorrir de novo. Eu gosto daqui, apesar de não sabermos do que isso se trata. Mas apesar de não sabermos, eu tenho a sensação de que tudo o que aprendermos aqui será para sempre.
Bryan: — Ah, meu Deus, que saudade desse sorriso fofo!
Lucas: — Hum... o que acha de beijar esse sorriso?
Bryan: — Ah, eu acho bom. — os dois se aproximaram e... com calma Lucas tocou o polegar na boca de Bryan. Sorriu, mordeu os lábios e o beijou com bastante suavidade. — Tava verificando o quê?
Lucas: — Se dá tempo pra gozar nessa boquinha. — Bryan riu.
Bryan: — Ah, não. Toda hora, Lucas?! — se levantou e se afastou. Lucas riu. — Se quiser transar toda hora assim, deveria me pedir em namoro!
Lucas: — Talvez eu devesse mesmo. — ao ver Bryan de costas, aproveitou o momento para acertar-lhe um bom tapão na nádega esquerda. O estalo foi alto, e instantaneamente ardeu pra cacete. Bryan apenas deu um gritinho e se virou com um olhar de reprovação. — Mas acho que vou compartilhar você por enquanto. Vai lá. Eu vou descansar um pouco, mas eu espero que tenha tempo pra dar pra mim essa semana.
Bryan: — Sempre tenho tempo pra dar pra ti, Moreno.
Ambos saíram do quarto de Bryan. Leony e Lion estavam passando na hora que os dois passavam pelo corredor. Tanto Leony quanto Lion olharam para Bryan como dois predadores, mordendo os lábios com um sorrisinho sedutor. Lucas percebeu, mas tentou ignorar.
Bryan: — Oi, Gatinho. Oi Leão.
Lion: — Meow.
Leony: — Roarrr.
Lucas e Bryan riram. Os dois iriam passar direto, mas Lion agarrou o cós do short de Bryan e o puxou contra a parede. O beijo foi instantâneo, nem precisaram pensar muito. Lion mordeu os lábios rosados de Bryan, que o envolveu com os braços. Leony mordeu os lábios e gemeu... agarrou o cós do short de Bryan e o puxou, o afastando de seu irmão mais novo. Leony tomou a dianteira e beijou Bryan com uma agressividade que nem ele mesmo reconheceu. Lucas ficou com cara de paisagem vendo a cena. Leony pôs Bryan contra a parede... afastou sua boca úmida dos lábios do garoto e se direcionou para o pescoço dele... onde Leony o mordeu com suavidade, causando calafrios em sua pele. Lucas deu de ombros e olhou para Lion. Lion riu e deu de ombros. Ambos apontaram para os dois e, sem dizer nada, armavam algo. Lucas afastou os dois ao por as mãos entre eles e os empurrar. Leony estava com a boca vermelha, como se tivesse bebido tinta vermelha, ou passado o dia bebendo sangue. Bryan respirou fundo e abanou o próprio rosto.
Bryan: — Ui... isso foi quente!
Lucas: — Uai, não tá quente o suficiente, não. Vamos aumentar isso aqui. — sorrindo de forma bem safada, se aproximou e beijou Bryan na frente dos amigos. Posicionou as mãos no cós de seu short e... passou as mãos por dentro do tecido, abaixando-o e libertando as nádegas macias e arrebitadas, prontas para levar alguns tapas e mordidas.
Hummm... as coisas com certeza irão esquentar muito mais.••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••
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CANAMEDIAM: A Casa Dos 25 Machos
RomanceMais uma obra sobrenatural pra quem gosta. Ligações com ABOOH. Pra quem leu ou não leu essa estória, não se preocupe, isso não vai influenciar em nada sua leitura nessa ;3. Trata-se da história contada anos antes, quando um dos planos da destruição...