capítulo 46

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DOMENIQUE

 
         
Joseph dormia. Parei de lhe fazer cafuné e tocar no seu rosto com carinho somente quando o corpo dele pesou completamente contra a palma da minha mão e dos meus dedos. E com ele adormecido eu pude parar de fingir estar confiante e tranquila e demonstrar a minha preocupação ao sentir a sua pele fervendo contra meu toque. O corpo dele passava a tremer mais e mais.

Nesse meio tempo aqui eu lembrei que ele tinha tatuagens e agora com metade do corpo desnudo pude observa-las. Enchiam seus braços, parte do peito e do tronco, pretas, diversas formas, fontes e desejos. Passei meus dedos por cima contornando alguns desenhos, a pele dele era firme, ainda quente. Agora elas não pareciam nada além de lindas, tive dificuldade em tirar meus olhos dos desenhos porque queria conhecer todos e desbravar os signficados por detrás de cada uma como uma terra desconhecida, mas, hoje não seria o momento para que eu me perdesse em desenhos ou em qualquer outra coisa, hoje eu cuidaria de Joseph.

Tornei a envolver o restante do corpo exposto dele com a manta deixando apenas o seu rosto descoberto.

Levantei, desci apressada e fui encher uma pequena panela com água para fazer compressa em uma tentativa de diminuir a febre. Não haviam remédios para febre e as farmácias não estavam entregando porque a tempestade havia se intensificado, pude escutar os altos trovões e os raios a cair pela cidade forçando todos a ficarem abrigados e protegidos para não sofrerem com a fúria do tempo. Do lado de fora tudo estava um caos e do lado de dentro era como se fosse o lado de fora.

Encontrei um banco na zona do quarto de Joseph. Me sentei no banco e pus a bacia no chão, mergulhei o pano na água e o dobrei pondo por cima da sua testa. Ele tremia e seus lábios se moviam, pensei que estavam apenas a tremer mas ele começou a falar.

Não...não...— ele mexeu o rosto de um lado para outro. —...pai por favor não. — Ele se contorceu como se fosse se defender de alguma coisa, os braços mexeram-se de encontro ao rosto em uma tentativa de se proteger. Foi quando eu entendi. O seu pai, seja o tipo de homem que fora, não era o quê deveria ser chamado de pai, porque, ele batia em Joseph. Ele machucava uma pessoa ao ponto de a traumatizar, e de pessoas capazes de traumatizar as outras eu tinha um pouco de noção do quão fundo e duradouro esse trauma desencadeado poderia vir a se tornar.

Ela não...a Domenique...ele não deveria conhece-la...n-não...não toca nela....—

Joseph cotinuou falando dormindo. Eu parei de me mexer, com o pano na água morna nas mãos, e refleti. Eu não conheci o pai de Joseph, nem nenhum outro homem na presença do próprio. O único homem que me vira com Joseph além de Héctor fora o Javier.

Ah meu Deus — cobri a boca com as mãos. Pressionei a testa no braço e xinguei.

Era ele. O homem que era o cliente de Daisy. O senhor Rivera. O homem que tentou me encostar naquela noite na companhia de Joseph e que digeriu provações que na hora me pareciam estranhas e que agora encaixavam as peças do quebra-cabeça. Aquele homem é o pai de Joseph. Joseph. Joseph Rivera. Ele era pai dele. Por isso Joseph se transformou quando pensou que ele iria me tocar, me machucar, a forma como se olharam tão amargaurados, a mágoa, o ressentimento. Havia uma história tenebrosa por detrás deles dois e eu uma paspalha entre isso sem a menor percepção. Javier estava morto agora. E Daisy tinha ajudado a matar ele a pedido da esposa de Javier. A mãe de Joseph.

Mãe...— chamou. —...fez tudo por m-minha causa...para, pai, para...— presisonei o pano na sua testa, ele suava agora. Ele gritou não, para, por favor.

Bad BoyOnde histórias criam vida. Descubra agora