33 - Nascer-do-sol

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Jin HuiYing

 . Sabe quando você não consegue ficar parada de tanta ansiedade? Quando seu estômago dá voltas e mais voltas, quando você começa a criar possíveis cenários em sua mente, quando você se pega sorrindo com seus próprios pensamentos? Meu coração bate acelerado a medida que a noite segue, silenciosa e tranquila, o barulho das cigarras e dos grilos formando uma sinfonia natural, tão bela e calmante, mas mesmo tal obra de arte não conseguia acalmar meus ânimos. Só a imagem de seu sorriso fazia minhas bochechas ruborizarem e os cabelos curtos em minha nuca se arrepiarem, pareço boba? Talvez, mas estou muito bem com isso.

 . Olho para a lua que se aproxima do horizonte a medida que as horas se passam, Yongqi não voltou para o quarto, deve estar descansando em alguma gruta ou caverna nos arredores do Píer Lótus. Pela milésima vez eu me olho no espelho de bronze na penteadeira do meu quarto, um vestido verde-chá circunda minhas curvas e a trança simples que cai do meu ombro mostram como eu não me importei tanto com minha aparência, apenas com meu conforto, quando na verdade passei horas o escolhendo e decidindo o que fazer com o cabelo. Nenhum adorno, nenhum grampo, nenhum colar, nenhuma maquiagem, apenas eu.

 . Respiro fundo quando vejo que está perto de amanhecer, devo ser discreta, não quero que alguém me veja e me questione. Saio do meu quarto e silenciosamente fecho a porta, meus passos são leves sobre a madeira escura do chão, a brisa noturna sopra gentilmente em meus fios castanhos, me refrescando. Saio por um portão lateral da seita, onde alguns discípulos estavam fazendo a troca de turnos, e me aventuro nas ruas escuras do Píer, apenas algumas lanternas iluminavam o caminho, alguns sinos do vento ressoavam com a brisa.

 . Me aproximo do píer principal, uma figura de vestes brancas imaculadas observava o céu, sorrio ao vê-lo, me aproximo silenciosamente e paro ao seu lado, a água do grande rio corria tranquilamente, algumas lótus desabrochavam em todo o seu esplendor, no céu noturno as estrelas brilhavam como coadjuvantes da magnífica lua que iluminava a negritude a cima de nós, apenas escutava nossas respirações em conjunto aquela sinfonia natural, o sol nasceria em pouco tempo.

 . Lado a lado, sou capaz de sentir o calor que seu corpo emana, nossos ombros quase se tocavam, estávamos muito próximos, aquele silêncio confortável perdura entre nós, não creio que palavras sejam necessárias. Sinto calor, uma pele quente contra minha mão, confortável, carinhosa, calejada, seguro um suspiro quando o sinto segurar minha mão, tomo uma iniciativa e entrelaço nossos dedos, ele acaricia as costas de minha mão com seu polegar, sua mão parece tão maior que a minha.

- Fico feliz que tenha vindo - ele diz, sua voz quase como um sussurro da brisa, se misturando a sinfonia.

- Você está cumprindo sua promessa - eu o sinto apertar minha mão e rir baixinho. O céus já começava a clarear, o azul profundamente escuro começava a ser manchado por um laranja brilhante.

- Gostaria de assistir todos os nasceres-do-sol  com você - ele fala, sinto o sangue correr para minhas bochechas.

- Cuidado, posso interpreta-lo como um pedido de cortejo - eu aviso, meus olhos agora fixados nas estrelas que começa a desaparecer.

- E quem disse o contrário? - eu arregalo levemente os olhos e viro meu rosto para ele, nossos olhos se cruzam, ele já me olhava. Emoções, ele me olhava como se fosse a pessoa mais preciosa no mundo, é uma sensação indescritível. Eu sorrio entorpecida.

- Então devo comunicar ao meu tio que tenho um pretendente? - eu pergunto, ele sorri.

- Eu mesmo irei comunica-lo - ele se vira de frente para mim e eu faço o mesmo. Os primeiros raios de sol da manhã esquentam minha pele, mas o calor em meu coração supera. Ele está realmente disposto a enfrentar JiuJiu para me cortejar? 

- Ele pode não permitir - eu pontuo.

- O farei permitir - ele afirma convicto - vou convence-lo, e mesmo que ele não permita, não vou desistir.

 . Eu rio, estou feliz, me sinto sem palavras para descrever o que sinto além de 'Feliz', sinto que meus olhos brilham, o ar me falta. Sou capaz apenas de sorrir. Ele segura minha outra mão e levanta ambas até seu rosto, ele as beija com carinho e fecha os olhos, seus lábios enviam uma descarga elétrica por todo o meu corpo. Aproximamos nossos rosto um do outro.

- Dessa vez...você pode...mirar em outro lugar? - ele pede, nossos olhos não se desviam por um segundo, nossas mãos ainda entrelaçadas.

- Com prazer, meu bom doutor - sussurro. Estávamos tão perto que eu podia sentir sua respiração se misturando a minha.

 . Levemente me ergo na ponta dos pés, fechando meus olhos aos poucos, sinto meus lábios encostarem nos dele, é quente, confortável, apenas um selar inocente, sinto sua mão direita largar a minha e se alojar na curva do meu maxilar, seus calos me arranhando gentilmente, apoio minha mão livre em seu peito, sinto seu coração batendo sob minha palma, tão rápido quanto o trote de um cavalo. Nossos lábios se pressionam delicadamente, eu me sinto tão feliz, tão completa.

 . Nos separamos devagar, ainda entorpecidos pelo beijo, abro meus olhos e o vejo com um grande sorriso, encostamos nossas testas, o sol já se mostrava no horizonte, brilhando em todo o seu esplendor, nossas respirações estavam calmas, como se nada pudesse nos preocupar. Quando estou com ele é como se todos os meus problemas simplesmente desaparecessem, ele me faz alguém mais feliz, mais leve, me traz uma sensação de paz e tranquilidade.

- É melhor voltarmos - eu sussurro, ele ri.

- Tem razão, estou disposto a enfrentar Sandù ShengShou, mas não quero que isso acabe de forma tão rude - ele diz, eu rio de sua fala, me sinto nas nuvens.

- Também prefiro - ouso me inclinar o selar nossos lábios mais uma vez, apenas um segundo antes de me separar dele e soltar sua mão - tenha uma boa manhã, meu bom doutor - desejo caminhando pelas ruas de Píer Lótus de volta para a seita.

- Tenha uma boa manhã, minha Peônia - ele deseja, falando alto o suficiente para que eu o ouça.

 . Um largo sorriso permanece em meu rosto no caminho até a seita, atravesso os portões sob os olhares questionadores e surpresos dos dois discípulos, não me importo e apenas continuo o caminho até meu quarto. Assim que entro nele eu me encosto na porta, fecho os olhos me lembrando da sensação de ter seus lábios nos meus, encosto a ponta dos dedos em meus lábios, ainda atordoada. Acho que eu gostaria de repeti-lo mais vezes.

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1136 palavras 

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