Fabiana.
Sentei na varanda e respirei fundo. Hoje eu faço aniversário, alguns anos atrás cantaram parabéns pra mim na escola e te até balão. Todo aniversário eu lembro disso.
Mas minha mãe não me deixa mais ir na escola, eu tenho que cuidar da Larissa e conseguir dinheiro. Se não Larissa fica com fome.
Minha mãe não fica em casa, só aparece para dormir e para fumar com o marido dela. Ele não é meu pai, minha mãe falou que meu pai morreu de tiro.
Ele também não é pai da Larissa, o pai dela eu nunca vi. Ele não quis mais namorar com minha mãe depois que ela engravidou.
Quando Larissa nasceu eu tive que parar de ir pra escola, comecei a vender balas no sinal.
Eu não sou boba, eu sei que minha mãe faz coisa errada e eu também já vi o marido dela fazendo. Os dois usam coisa errada e roubam das pessoas.
Ontem eu tive que dormir no chão, mas coloquei meu casaco para não sentir tanto frio. Hoje quando eu acordei não tinha ninguém, só Larissa dormindo na cama.
Trabalhei no sinal e quando voltei ainda não tinha ninguém em casa. A caixinha que fica o dinheiro das balas estava vazia, minha mãe tinha pegado ele.
Quando minha mãe não dorme em casa eu aproveito, durmo na cama com Larissa. Dormir no chão é muito frio, mesmo quando tem o colchão. Na cama é mais quentinho.
Mas minha mãe não me deixa dormir na cama, não tem espeço. Dormem ela, o marido dela e Larissa.
Deitei na cama e abracei Larissa. Dormi em pouco tempo.
No outro dia aconteceu a mesma coisa, minha mãe não apareceu em casa. Mas eu não tinha o dinheiro pra comprar mais balas pra vender. Então saí pra pedir comida e dinheiro.
Não são todas as comidas que eu confio de aceitar e as que eu aceito eu como um pedaço antes de Larissa. Uma vez uma moça me deu um pão com um cigarro dentro.
Fico com medo de dar e ela passar mal. Eu sempre como quando ela não quer mais.
Consegui algumas coisas de comer e consegui o bastante pra nós duas. Finalmente vou comer, já tem dias que minha barriga não para de doer.
Quando passamos na rua escutei alguém me chamando, olhei e dei um sorriso. Lucas é um menino aqui de onde eu moro, ele é muito bonito.
Me deu um beijo semana passada e me levou pra comer hamburguer, levou Larissa também. Nossa, eu achei muito gostoso.
Eu comi tanta coisa que eu achei que ia explodir, fiquei tão feliz.
-Tá tão bonita hoje-falou sorrindo-vem cá me dar um beijo, princesa-me puxou
-Para, tem gente na rua-falei com vergonha
-Não tem problema, é pra todo mundo ver que eu te amo-me beijou na boca
-Você me ama ?-dei um sorriso-é mentira.
-Eu sou homem, princesa, tenho 20 anos-falou-não vou mentir pra você, quero namorar.
-Namorar ? Eu tenho que pedir minha mãe-falei e peguei Larissa no colo.
Ele continuou falando que me amava e meu coração estava acelerado. Passou a mão no meu cabelo e beijou meu rosto.
Ficou tarde e eu fui embora, cheguei e minha mãe estava brigando com o marido dela. Chamei ela e falei do meu namorado.
-Ele tem dinheiro ?-perguntou-ele trabalha ?
-Nem se tiver dinheiro-o marido dela gritou nervoso, ele tirou o cinto da cintura e me segurou-Você quer ser vagabunda né ? Não vai ser vagabunda dentro da minha casa.
Ele me bateu com o cinto e minhas pernas começaram a arder. Gritei minha mãe e ela virou de costas pra mim, acendendo um cigarro.
-Você quer um namorado ?-sorriu com a saliva acumulada no canto da boca-eu vou ser seu namorado.
Ele segurou meu braço e me arrastou até na cama. Gritei alto e esperniei.
-Me solta, me solta ! Pelo amor de Deus-implorei.
Ele me jogou encima da cama e começou a tirar a calça. Peguei uma faca de pão que estava do meu lado e enfiei na perna dele.
Levantei correndo e ele gritou, mandando minha mãe me segurar. Ela segurou meu cabelo e deu um tapa no meu rosto.
Segurei o braço dela e dei uma mordida, o mais forte que eu consegui. Ela me soltou gritando e eu peguei Larissa, corri o mais rápido que eu consegui.
Eu estava sem chinelo, minhas pernas ardendo e sangrando. Tinha duas mulheres na rua e elas me pararam, me perguntaram oque tinha acontecido e eu contei.
Uma das mulheres me chamou pra dentro da casa dela e chamou o marido. Ele apareceu e ela me pediu pra contar.
O marido da outra mulher também apareceu e os dois pegaram alguns pedaços de madeira na rua. Indo em direção a minha casa.
Eles entraram e eu escutei os gritos, minha mãe saiu correndo e pedindo socorro. Larissa estava roxa de tanto chorar.
-Eu te odeio, sua vagabunda-gritou chegando perto de mim. Fechei o olho e encolhi o corpo.
Senti meu rosto molhado e quando passei a mão senti o cheiro da saliva.
As duas mulheres se juntaram e começaram a bater nela. Escutei os gritos dos dois e só senti vontade de tirar Larissa dali.
Lucas parou na minha frente e eu expliquei tudo que tinha acontecido.
-Eu te amo amor, eu vou cuidar de vocês duas-me abraçou e beijou meu rosto.