Fabiana.
Hoje faz um pouco mais de um mês que estamos no Rio de Janeiro, tudo aqui é muito diferente.
Tirei pela quinta vez o esmalte da minha unha e comecei a pintar novamente. Eu estou tentando aprender a fazer unha, não vou desistir.
Minha tia comprou alguns esmaltes para mim e me deu outros materiais, uma amiga dela que é manicure me ensinou bastante coisa.
Eu não quero morar com minha tia, eu não sei reagir as coisas que ela me fala ou as obrigações que ela quer que eu tenha. Mas eu gosto muito dela.
Eu nunca tive minha mãe em casa, eu vendia minhas balas e minhas águas no sinal e me criei sozinha. Eu não quero morar com ela e depender dela, eu não quero viver assim.
Estou fazendo poucas unhas de pessoas fora, mas estou juntando esse dinheiro. Treinando muito e todos os dias, eu sei que uma hora eu chego aonde eu quero.
Larissa estava conversando com a filha de uma moça que mora aqui do lado e andando de bicicleta com ela. Ela ficou sem reação quando minha tia presenteou ela, eu também fiquei muito feliz.
Eu pretendo começar a fazer unha e conseguir um barraco de aluguel para mim aqui perto. Por mais que eu sei que não tenho condições de levar Larissa comigo e sustentar nós duas.
Mas eu confio em minha tia, ela tem muito carinho e cuidado com Larissa. Deus sabe o quanto isso me faz chorar, eu agradeço todos os dias por não passar fome e por não ver minha irmã passar, por Deus ter colocado um anjo no nosso caminho.
Meu maior medo era ver acontecer alguma coisa com Larissa, eu sempre pedi que se acontecesse algo que fosse comigo e jamais com ela. Me mataria ver minha irmã ser agredida ou abusada. Ela sempre foi minha prioridade na vida.
Sonhei duas vezes com Lucas, a voz dele dizendo que iria me matar. Acordei e olhei Larissa dormindo, percebi o quanto eu queria estar viva. O quanto eu queria ver ela crescer e passar por todas as fases.
Na rua você aprende muitas coisas e uma delas é o perigo de uma ameaça. Quanta coragem pode ter alguém com medo ? Até onde pode ir uma pessoa que não quer morrer ?
As palavras depois de faladas não podem voltar para dentro da boca. Quando você ameaça e não faz, você se coloca em um perigo muito grande.
Uma pessoa com medo vai preferir fazer com você, antes que você faça com ela.