1. A Primeira Vista.

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PARTE UM.
passado.
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LIAM BLACK.

Depois de passar o dia e a noite inteira na delegacia e ser levado por um policial para casa as quatro da manhã, simplesmente não parecia real. Destranquei a porta com irritação, empurrando-a com força para que ela abrisse. Aquela merda estava emperrada desde minha infância. 

A sala de estar com piso de linóleo me recebeu. Bom, sala de estar era um eufemismo, afinal, era um cômodo grande e reto com uma sala e cozinha juntas, separadas por um balcão de madeira, e meu quarto separado do resto por uma cortina preta semi transparente. Haviam duas portas; a de entrada e a do banheiro dentro do quarto. Eu odiava aquele lugar. Nem mesmo depois de juntar dinheiro durante os últimos três verões e reformado várias partes conseguia me sentir em casa. As paredes antigas haviam sido pintadas com verniz, realçando as paredes de pequenos tijolos vermelhos que era tendência vintage no passado, o sofá antigo e comido por ratos havia sido trocado por um móvel novo, cinza, que comprei por oitenta dólares em um bazar. Ele era bonito e até mesmo confortável, mas não me fez sentir em casa. Pensei que colocar quadros nas paredes, imagens de música e séries, me faria melhor, mas também não foi o caso. Nem mesmo decorar o balcão de madeira escura que separava a sala da cozinha com plantas, seculentas e cactos, deixou aquele lugar menos obscuro. 

A cozinha era onde minha mãe tinha enchido a pia com álcool e acendido o fogão, tentando matar a nós dois queimados. Até hoje, duas camadas de tinta depois, eu não havia conseguido apagar a mancha da parede por completo. 

A sala era onde meu pai havia matado minha mãe. A mancha de sangue havia sumido, mas eu cobria o local com um tapete grande, a primeira coisa que comprei depois de trabalhar exaustivamente nos verões passados. Mesmo que não houvesse mais o sangue, eu simplesmente precisava tampar aquele local porque meu cérebro ainda acreditava que estava ali. 

Voltei-me para a cozinha, franzindo o cenho para a louça na pia e a porta do microondas aberta. Aquela merda estava estragando, não parava mais fechada. Abri a geladeira, já sabendo que encontraria água e um pote de margarina, mas ainda assim fiquei profundamente irritado com o vazio gelado. 

Mais irritado ainda quando meu estômago roncou. 

Tirei meu celular do bolso, surpreso por ter mensagens àquela hora da madrugada. Eu tinha amigos, em sua maioria brasileiras e portuguesas que liam meus poemas na internet, mas elas não mandavam mensagem tão tarde. Ou tão cedo. 

DESCONHECIDO: Espero que esteja bem.

EU: Quem é?

Perguntei mesmo já tendo uma ideia de quem poderia ser. Ideia não, esperança. 

DESCONHECIDO: Devon Rizzi.

EU: Posso saber como conseguiu meu número ou nem?

Salvei o número dele enquanto esperava sua resposta. 

DEVON RIZZI: Eu consigo tudo que quero.

EU: Você sabe que isso é crime, né?

DEVON RIZZI: Não é o primeiro que cometi.

Deixei o celular de lado, rindo ao mesmo tempo que queria chorar. Devon Rizzi era um problema. Eu não queria que ele tivesse uma dívida comigo. Não queria que ele se sentisse obrigado a falar comigo. Havia um mundo de distância entre Devon e eu. Ele era um bilionário que morava numa mansão do tamanho de dois campos de futebol e eu num buraco perdido no Brooklin. Ele era lindo e eu… Quase ri ao pensar na aparência ridícula que eu tinha. Mas o que mais nos separava, além da classe social e aparência, era o fato de que ele era amado e adorado enquanto eu era odiado e humilhado. Não podíamos ser amigos. Ou mais que isso. Eu me conhecia melhor desde o começo da terapia, me apegava fácil por causa da carência emocional. Por isso passei a criar distância, não dando a oportunidade de me quebrarem novamente. 

DESTRUA-ME. - Saga Inevitável, Segunda Geração: Livro 2.Onde histórias criam vida. Descubra agora