4. Mãos Dadas.

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DEVON.

Uma semana se passou desde o atentado. Uma semana. Alguém achou que isso era tempo aceitável para levar as crianças de volta para o lugar onde quase foram mortas. Minha insensibilidade era grande, mas não ao ponto de não me afetar com os olhos marejados das garotas, o tremor dos garotos, os murais de memórias. Eu não conhecia nenhuma daquelas pessoas de verdade, apenas havia as visto em alguns momentos dos últimos três anos que passei ali. E então elas estavam mortas. Adolescentes que tinham uma vida toda pela frente, que sonhavam com a faculdade, que tinham pais, amigos, família. Os filhos de alguém. Os netos de alguém. O amor de alguém. Pensei que era imune a dor, mas ali, vendo meus colegas de escola se lamentarem, uma onda melancólica passou por mim. Aquilo não deveria acontecer. Pessoas inocentes, fodidas crianças inocentes, não deveriam ser feridas por seres humanos maldosos. Elas nunca tinham feito nada para ninguém. 

E foi esse pensamento que me levou a ligar para meu pai antes da primeira aula. 

— Devon. — Ele cumprimentou em sua habitual voz distante. 

— O senhor acha que poderia colocar dois ou três soldados na escola? Como seguranças? — Perguntei por fim. Papai não gostava de enrolação. 

Porque? — Ele perguntou num tom indecifrável. 

— As pessoas estão com medo. Eu gostaria de fazer algo para minimizar o medo. Gostaria de saber que se acontecer de novo terei gente preparada para defende-los. Ele são… Inocentes. Isso não deveria ter acontecido. 

Pensei que papai me mandaria para a casa do caralho ou diria que eu deveria arrumar alguma coisa para fazer, mas ele suspirou. 

Bom. Certo. — Eu quase caí duro na porta do laboratório de química. Ele estava concordando comigo? — Vou montar um esquema, alguns revezamentos e soldados preparados, depois falo com a escola. Tenho certeza de que eles vão achar uma boa ideia.

— Obrigado, pai. — Sussurrei realmente grato. 

Disponha. — E desligou. 

Estava mais animado quando entrei no laboratório, mas não tanto. O professor de física levantou os olhos de sua mesa e pensei que ele diria algo sobre meu atraso, mas Liam entrou logo atrás de mim, ainda mais atrasado, e pensei que seriamos expulsos da sala. Aquele cara não tolerava atrasos. No entanto, ele balançou a cabeça e abriu um sorriso afetado. 

— É bom ver vocês, garotos. — Seu sorriso caiu aos poucos, como se ele não conseguisse o manter por tempo demais. 

— É bom ver o senhor. — Eu disse por mim e por Liam, sabendo que ele não conseguiria dizer nada. 

— Se vocês precisarem de algo, o corpo docente está aqui. Temos psicólogos a disposição e a segurança está sendo aumentada. — Harold Skenssy disse sem sua habitual carranca quando me sentei com Liam. Ele parecia destruído. — Após a segunda aula, haverá uma reunião no auditório. Todos vocês devem estar lá.

A sala estava silenciosa. Alguns alunos haviam faltado, não havia conversa, nem animação. Harold passou um exercício fácil de química, nada digno de sua turma hiper avançada.

— Você atirou no professor de física? — Kely perguntou se virando para Liam.

— Eu… — Liam gaguejou, suas orelhas ficando vermelhas.

— Obrigada. — Ela sussurrou. Eu nunca tinha visto Kely agradecer nada. — Se você precisar de qualquer coisa, pode contar comigo.

Quando ela se virou para frente, Liam me encarou de olhos arregalados, as pupilas se dilatando. Eu ri fracamente.

DESTRUA-ME. - Saga Inevitável, Segunda Geração: Livro 2.Onde histórias criam vida. Descubra agora