24. O Começo Do Fim.

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Tudo estava indo rápido demais. Inscrições para a faculdade, a chegada do fim do ensino médio, a porra da minha saúde que degringolava dia após dia. Naquela manhã eu caí no banheiro e consegui cortar minha cabeça; na hora do almoço, enquanto comia com Devon e Kely, tive que pedir licença para ir ao banheiro; vomitei tudo que tinha comido. E no fim da tarde ao voltar para casa, eu simplesmente tive que pedir Devon para encostar o carro. Quando ele o fez, abri a porta e vomitei novamente. Foi humilhante e constrangedor, principalmente quando Devon se inclinou entre os assentos e segurou meus cabelos enquanto eu colocava tudo para fora. 

— Acho que peguei alguma gripe. — Disse antes que ele pudesse perguntar o que estava acontecendo. Devon me olhou de forma desconfiada enquanto dirigia pela cidade. 

— Meu tio Nino está na cidade. Ele é médico, você quer ir ver ele? — Devon perguntou preocupado e eu apenas fiz que não. De jeito nenhum eu veria um médico. 

Assim que ele me deixou em casa, prometendo voltar depois do jantar em família, eu comecei a chorar. 

Não sei como começou ou quando, mas por fim eu estava sentado no chão da sala, a cabeça entre os joelhos, enquanto chorava copiosamente. Chorei ainda mais quando meu nariz começou a sangrar e eu fui obrigado a me levantar para limpa-lo no banheiro. 

Meu reflexo no espelho manchado era horrível. Muito mais pálido do que o normal, meu corpo extremamente magro, quase anorexico. Quase não, completamente anorexico. 

Tentei me deitar, tentei dormir, mas a dor voltou. Agonizante e imparável. Nem mesmo quando bebi três analgésicos de uma vez melhorou. Todos os ossos do meu corpo doíam e talvez fosse suportável se meus nervos e membros também não estivessem em agonia queimante. 

Eu não saberia descrever aquela dor nem se quisesse. Era uma mistura de agonia que ficava entre ser esfaqueado e queimado repetidas vezes ao mesmo tempo, em todos os lugares do corpo, desde a cabeça até os dedos do pé. Eu chorei mais, lágrimas grandes e gordas pingando até que os soluços se tornaram altos e meu corpo todo tremia. 

Pela primeira vez na vida, eu chorei por mim. 

Chorei porque eu estava com medo, porque eu não via solução, porque não havia lado bom. Porque eu estava morrendo na parte da minha vida que eu não queria morrer. Comecei a tossir e corri para o banheiro pensando que iria vomitar novamente, mas foi muito pior. 

Eu encarei chocado a pia do banheiro conforme ela ficava respingada de sangue a cada vez que o líquido vermelho era expelido por minhas tosses. Sangue também saiu do meu nariz, me sufocando. 

Aquilo me deixou com tanto medo, tanto medo, que peguei o celular no bolso da calça jeans e liguei para Devon enquanto caía no chão do banheiro. 

— Ei! — Devon cumprimentou. — Eu sei que você não queria, mas eu estou indo para sua casa com tio Nino. Ele é legal, você vai ver. Eu sei que você não gosta de hospital, então é bom, né? 

Eu meio que tossi, meio que solucei. O sangramento no nariz simplesmente não parava, escorrendo por meu queixo, por meu pescoço, sujando minha camisa. 

— Liam? — Devon chamou preocupado. — Você está chateado? 

— Dev… — Sussurrei sem conseguir sequer completar a frase antes de tossir mais sangue. — Eu estou… Passando muito mal… 

— Ok, a gente tá chegando e… 

— Eu vou desmaiar. — Tossi. — Leucemia linfóide aguda. Estado avançado. Todos os sintomas. Dez, dor em dez.

Eu repeti as informações que achavam necessárias enquanto meu cérebro apagava. 

Quando cheguei no hospital pela primeira vez e a médica perguntou em uma escala de zero a dez em quanto estava minha dor, eu lhe disse onze. Eu tinha dezesseis anos, estava sozinho e assustado. Jerry segurou minha mão o tempo todo. Naquela época eu não sabia o que sabia agora; minha dor deveria ser um seis, mas eu não era acostumado com a dor. O dez era agora. Doía tanto que eu estava desmaiando enquanto sufocava com meu próprio sangue. 

DESTRUA-ME. - Saga Inevitável, Segunda Geração: Livro 2.Onde histórias criam vida. Descubra agora