5. Hétero?

1.6K 192 96
                                    

LIAM.

Duas semanas após o atentado, uma semana após ele segurar minha mão, eu faltei a escola. Fiquei jogado na cama depois da diretora ter dito que os alunos poderiam escolher ficar em casa na próxima semana, sem faltas, e que nenhum trabalho seria passado. Por fim, já era dia de voltar e eu não conseguia acreditar que uma semana durava tão pouco. Tomei um longo banho de água gelada, já acostumado com a temperatura fria mesmo no frio de New York, afinal, chuveiros quentes requeriam conta de energia alta ou mais gás, se você o tivesse encanado. Vesti uma das minhas dez camisetas pretas e uma das oito calça jeans da mesma cor. Também passei um cinto pela cintura; havia emagrecido mais desde que o médico dobrou a dose da minha medição e as calças simplesmente ficavam caindo. Eu odiava isso. Vesti meu casaco mais pesado que de preto já estava quase cinza de tão desbotado e saí de casa com a mochila no ombro. Pensando se iria de ônibus, metrô ou apé para a escola, quase caí de susto ao ver Devon parado na porta da minha casa, encostado em seu brilhante carro. 

— Escola? — Ele perguntou com um sorriso fraco, quase inseguro. 

Naquela manhã fria, ele parecia ainda mais bonito. Vestia um suéter verde escuro com o símbolo da Versace num tom um pouco mais claro de verde, calças pretas e tênis de grife. O anel preto brilhava em seu dedo anelar; eu me perguntava o quanto aquilo custava. 

— Escola. — Respondi. Eu poderia ir andando ou gastar dinheiro com outros transportes ou poderia ir com Devon em seu carro caríssimo com aquecedor. Escolhi a segunda opção. 

Devon abriu a porta do passageiro e tomou seu caminho para o banco do motorista. Eu entrei antes dele e suspirei contente ao sentir o ar quente. Devon entrou, fechando sua porta, e ao contrário de mim não passou o cinto. Suas mãos pálidas tomaram o volante e com movimentos suaves dos braços ele arrancou do acostamento. 

— Quer comer alguma coisa? — Ele perguntou quando passamos por uma loja do Burguer King. Não era tão caro, mas eu não podia gastar dinheiro atoa. Fiz que não. — Você já comeu hoje? 

Eu não sabia se ele realmente queria saber ou se estava tentando puxar assunto. 

— Não, mas não estou com fome. — Era verdade. Na noite anterior eu tinha me dado ao luxo de uma pizza e tinha comido três fatias antes de dormir. Ainda tinham outras três para jantar mais tarde. Se eu economizasse, talvez poderia comprar outra no fim do mês. Eu amava pizza. — Se você estiver com fome, eu não me importo de esperar. 

Devon balançou a cabeça com um sorrisinho presunçoso. 

— Nah. Meu pai não me deixa sair da mesa sem tomar café. — Ele contou franzindo os lábios como se não gostasse dessa parte da vida dele. 

Eu imaginava sua mesa de café da manhã, enorme, com louças caras e todo tipo de comida rica.

— Seu pai é legal? — Acabei me arrependendo da pergunta no segundo que Devon fechou sua expressão e abriu um sorriso amargo. 

— Ele é. — Foi sua única resposta e eu decidi não insistir. Alguns poucos segundos depois, ele voltou a falar: — Ele não é ruim, sabe? Não é do tipo babaca abusador. Ele só é frio e indiferente. Como se não fizesse diferença se eu existisse ou não. 

Ele parecia extremamente vulnerável falando sobre seu pai, como se fosse doloroso. Eu me senti mal por ter perguntado. 

— E sua mãe? — Tentei mudar de assunto. Pelo menos no Instagram, e sim, eu o stalkeei, ele parecia muito apegado a ela. — Ela é bem bonita, aliás. Parece aquelas princesas do fogo de livros de fantasia. 

— Minha mãe é incrível. Ela é gentil, amável. Uma mãe mesmo. — Ele sorriu amavelmente, mas me lançou um olhar assassino depois. — Eu sei que ela é bonita, mas não preciso saber que meus amigos acham isso. 

DESTRUA-ME. - Saga Inevitável, Segunda Geração: Livro 2.Onde histórias criam vida. Descubra agora