30. Ato Final.

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LIAM.


Eu encarei o espelho do banheiro dividido entre raiva e desespero absoluto. Como se não bastasse os onze quilos a menos que me faziam parecer esquelético, meu cabelo estava caindo em uma velocidade assustadora. Passei minha mão sobre as mechas e até mesmo o movimento de erguer o braço foi doloroso. Mais fios saíram em minha mão, mechas inteiras direto da raiz dos meus cabelos. 

— Liam? — Devon chamou entrando no quarto ao lado. Não respondi, mal percebendo que ele estava algumas horas atrasado; talvez tenha dormido mais e isso era bom. Ele entrou no banheiro parecendo assustado. Seus olhos estavam inchados e sua pele meio amarelada; eu soube que ele estava de ressaca no momento em que o vi, mas não comentei. — Ei, você está bem? 

Ele me avaliou pelo reflexo no espelho, buscando algo de errado. Eu estava vestido com uma calça de moletom larga e uma camisa dele ainda mais larga. 

— Liam? 

— Arrume uma máquina e raspe meu cabelo. 

Devon franziu os lábios, mas assentiu depois de um momento. Seja por saber que meu cabelo não tinha mais salvação ou porque havia visto a total certeza em meu rosto, ele não discutiu, apenas saiu do banheiro. 

Eu continuei parado de frente para o espelho, apoiado na pia, mesmo quando me senti fraco. Me obriguei a continuar encarando meu reflexo mesmo quando minhas pernas ameaçavam ceder. Devon voltou alguns minutos mais tarde com uma máquina de cabelo e uma tesoura na mão. Ele os deixou na pia e voltou para o quarto buscando uma cadeira. 

Eu me afastei da pia para que ele colocasse a cadeira de frente para o espelho mesmo que ele parecesse querer me deixar bem longe do meu reflexo. Eu queria assistir cada mínimo segundo da minha desgraça. Sentei na cadeira sem nenhuma palavra e Devon se posicionou atrás de mim pegando a tesoura. 

— Você tem certeza? — Sua pergunta foi cheia de cuidado e gentileza, tristeza genuína brilhando em seus olhos. Eu assenti duramente. 

Devon começou cortando os fios rente a cabeça e aos poucos todo meu cabelo caiu no chão. Com ele mais curto, já dava para ver os buracos que deixavam o couro cabeludo a mostra, onde os cabelos já haviam caído. Devon deixou a tesoura de lado e pegou a máquina, ligando-a. O zumbindo incômodo do aparelho retumbou dentro do meu peito. 

Com muito cuidado, Devon encostou a máquina na minha cabeça e deslizou pelos cabelos aparados. Não sei bem quando comecei a chorar, mas estava soluçando tão alto que o barulho ecoava no banheiro fechado. Devon observava minhas lágrimas com escrutínio silencioso, mas eu via em seus olhos uma tristeza tão intensa que chorei mais. Quando ele terminou, eu não conseguia acreditar no que estava vendo no espelho. Meus cabelos haviam ido, deixando apenas uma sombra mais escura que recobria minha cabeça. Se eu fosse honesto comigo mesmo poderia dizer que não tinha ficado tão ruim, mas eu simplesmente estava destruído. Eu amava meu cabelo, havia cuidado dele por anos. O shampoo e o condicionador eram as únicas coisas que eu surtava quando acabava porque eu amava meu cabelo. 

E agora ele estava no chão. 

Eu me encolhi e abaixei a cabeça para não ver mais aquilo. Era doloroso demais. No entanto, levantei os olhos assim que ouvi a máquina sendo ligada novamente, o zumbido voltando. Antes que eu pudesse protestar, Devon simplesmente levou a máquina ao cabelo e raspou a lateral esquerda de sua cabeça. 

— Devon? — Chamei de olhos arregalados. 

Ele não disse nada, apenas continuou a raspar seus cabelos, os fios lisos e escuros caindo na pia conforme ele se inclinava para mais perto do espelho. 

DESTRUA-ME. - Saga Inevitável, Segunda Geração: Livro 2.Onde histórias criam vida. Descubra agora