25. Não Veja Isso.

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DEVON.

Quando Liam dormiu, cerca de três horas da manhã, eu saí do quarto me sentindo pesado. Nunca na vida chorei daquela forma na frente de ninguém, nem da minha irmã gêmea. Também nunca implorei por nada e principalmente: nunca disse que o amava. Mas agora eu havia dito, tinha admitido para ele que o amava e que estava disposto a implorar se isso significasse salvar sua vida. 

Me sentei no sofá da sala de espera, exatamente de frente para o quarto de Liam, e apoiei minha cabeça nas mãos. Eu simplesmente estava quebrado. Tinha chorado tanto que a pele abaixo dos meus olhos estava ferida e meu nariz entupido. Tio Nino havia me oferecido um calmante, mas eu recusei. Queria estar acordado caso Liam precisasse de mim. Pelo menos aquela noite eu poderia passar acordado. 

Eu nunca esqueceria da cena mais horrorizante da minha vida; Liam desmaiado no banheiro, o rosto pálido como uma folha de papel, seu corpo queimando de febre e ele gorgolejando o próprio sangue enquanto lutava para respirar. E eu fiquei lá, parado na porta, tão chocado que não consegui fazer nada. Se Nino não estivesse comigo, ele teria morrido porque o pavor em vê-lo daquela forma me impediu de ajudar. Pela primeira vez na vida eu paralisei frente ao terror; fiquei com tanto medo que sequer conseguia me mexer. 

E foi naquele momento que eu percebi que eu amava Liam muito mais do que eu achava ser possível, porque vê-lo machucado, vê-lo ferido e precisando de ajuda, foi como ter meu coração arrancado do peito. Eu pensava ter conhecido a dor, mas não conheci, não até vê-lo em sofrimento, se engasgando com o próprio sangue. 

Aquilo sim havia sido dor. 

O sofá afundou sob o peso de alguém que se sentou ao meu lado. Continuei com a cabeça abaixada; seja quem fosse, não me importava. 

— Por isso você disse que eu não precisava me preocupar? — Uma voz familiar perguntou. — Porque o garoto tem câncer? 

Eu levantei a cabeça num rompante sem conseguir acreditar que estava ouvindo aquilo, mas quando olhei para o meu pai sentado ao meu lado, minha raiva se foi. Ele tinha uma expressão de simpatia misturada a tristeza, pesar genuíno em seus olhos. 

Voltei a olhar para baixo, encarando minhas mãos ao girar o anel preto em meu dedo anelar. Aquele anel por si só valia quinhentos mil dólares. O aro era de ouro branco e a pedra quadrada sobre ele era a porra de um diamante negro achado na Itália no século dezessete. O diamante havia sido partido em dois e feito dois anéis; um para o Capo e outro para de seu herdeiro. Eu tirei o anel do dedo e o segurei frente ao meu rosto. 

— Eu poderia pagar o tratamento de Liam inteiro com esse anel. — Eu disse com os olhos fixos na pedra cintilante. 

— Ou você pode usar seu cartão de crédito. — Meu pai sugeriu quase que irônico. — Coloque o anel, Devon. 

Eu olhei em sua direção e notei apreensão genuína em seus olhos idênticos aos meus. Ele achava que eu estava pensando em sair da Cosa Nostra? Seria um escândalo. Ele teria que trazer Gabriel de volta para New York e se esforçar para fazê-lo Capo em tempo recorde. Eu coloquei o anel de volta em seu lugar porque desistir da Cosa Nostra seria como desistir da minha vida. 

— É meu legado. — Disse. — Eu nunca desistiria do meu legado. 

— Eu sei. — Papai parecia convicto. Talvez ele me conhecesse melhor do que eu achava que conhecia. 

Um barulho alto ecoou no corredor, vindo do quarto de Liam. Uma seção de bipes altos e agudos que me assustaram. Tio Nino havia desligado o munitor de batimentos cardíacos, mas tinha dito que se algo ruim acontecesse, o sim ligaria automaticamente. Eu me coloquei de pé num pulo, mas meu pai segurou meu braço com força quando uma luz vermelha acendeu acima da porta dele e um alarme soou no corredor. Eu tentei me soltar dele, mas ele continuou me segurando conforme meu coração afundava para o estômago ao ver várias enfermeiras correndo para o quarto, dois médicos entre elas. 

DESTRUA-ME. - Saga Inevitável, Segunda Geração: Livro 2.Onde histórias criam vida. Descubra agora