28. Visitante.

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LIAM.

Eu queria perguntar a Nino o que ele estava fazendo por tanto tempo em New York quando tinha uma vida em Las Vegas, mas não perguntei. Eu gostava de Nino ser meu médico, ele era esperançoso e animado na medida certa, sem nunca ser mentiroso. Ele não escondia a verdade, contava tudo mesmo que com uma voz branda e expressão pesarosa. 

Naquela manhã, um dia depois da segunda seção de quimioterapia que me fez vomitar doze horas seguidas, Nino entrou no quarto com um sorriso atípico, menos composto, feliz. Eu não me permiti ter esperanças de que o tratamento tivesse melhorando meu corpo. 

— Você tem visita. — Ele disse com um suspiro seguido novamente pelo sorriso estranho. 

Kely havia me visitado por vinte minutos na última quinta feira, Lorenzo passou para me ver dois dias atrás, até falou do seu bebê que estava prestes a nascer. Além de Thomaz que passava vez ou outra para fazer comentários mordazes e sarcásticos, não haviam muitas visitas. É claro, Devon não poderia ser considerado uma visita quando ele só saía dali para tomar banho e dormir mais de uma hora em uma poltrona desconfortável.

Eu estava prestes a perguntar quem era quando o visitante surgiu na porta seguido por três policiais fardados. Seus cabelos haviam crescido um pouco mais desde a última vez que eu o vi, apresentando os fios grisalhos, mas fora isso, ele parecia igual. Seus olhos pretos se iluminaram quando ele sorriu ao me ver. 

— Pai? — Perguntei baixinho, cheio de medo daquilo ser uma alucinação causada pelas drogas na minha corrente sanguínea. 

Ele se aproximou com cuidado, se dividindo entre sorrir sem parar e chorar. Eu me sentei na cama, ansioso e contente. Nicolas me abraçou apertado assim que me alcançou e eu deitei a cabeça em seu ombro. No passado ele tinha cheiro de panquecas com mel e perfume suave, mas agora era um cheiro clínico de limpeza que envolvia seu corpo, como se na prisão nem mesmo o sabonete tivesse cheiro. 

— Porque não damos um tempo aos dois? — Nino perguntou aos policiais na porta. 

— Com todo respeito, doutor, esse é um criminoso condenado por assassinato. 

— Eu acho que um pai tem direito a conversar sozinho com o filho que tem câncer terminal, não importa o que tenha feito. — Nino disse incisivo. — Vamos apenas fechar a porta e lhes dar privacidade. Vocês podem observar pelo vidro da janela. 

Nino fechou a porta logo em seguida, mas eu soube disso apenas porque ouvi o barulho; meus olhos estavam firmemente fechados enquanto eu abraçava meu pai com tudo que eu tinha. Não me importava com privacidade, os policiais poderiam sentar na minha cama se quisessem, tudo que me importava era que papai estava ali. 

— Eles não entendem. — Eu disse depois de um momento silencioso de abraço apertado. — Eles não sabem que você fez o que fez para me proteger. Eles acham que você é ruim, mas não é. 

— Não me importo com o que achem. Eu não me arrependo. Karen perdeu o direito de viver quando feriu você. — Ele disse incisivo e se afastou, sentando na beirada da cama, ao lado do meu quadril. Ele acariciou meu rosto com a mão grande e ressecada. Ele tinha problemas com o frio de New York quando morávamos juntos, sempre com um vidro de hidratante porque suas mãos ressecavam ao ponto de feridas se abrirem; ele com certeza não tinha hidratante na prisão, o que revirou meu estômago. O que mais lhe faltava? — Como você está? 

Senti vontade de mentir. Queria dizer que estava bem e me recuperando, não deixar meu pai preocupado, mas talvez aquela fosse a última conversa que teríamos e eu não queria que a última vez que ele me visse fosse marcada por mentiras. Escapei do meu dilema quando a porta abriu novamente e Devon entrou com uma sacola parda com a logo do McDonald's. 

DESTRUA-ME. - Saga Inevitável, Segunda Geração: Livro 2.Onde histórias criam vida. Descubra agora