3. Inferiorizar.

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LIAM.

O interrogatório foi sucinto e direto, perguntas e mais perguntas, algumas que pareciam pegadinhas. Estas, minha mais nova advogada Rosalie Halk, não me deixava responder, inclinando a cabeça para o lado esquerdo. Quando ela inclinava a cabeça para o lado direito, eu podia responder. 

Por fim, três horas mais tarde, nós saímos da sala de interrogatório. Thomaz Rizzi soltou um suspiro resignado, olhando para o seu caro relógio no pulso. Eu tinha certeza de que era de ouro puro. 

— Perdi a manhã inteira. — Ele murmurou mais para si mesmo e então se voltou para Rosalie. — O que você achou? 

— Ótimo. — Ela disse com um sorriso orgulhoso. — Tenho certeza de que hoje a noite ou amanhã, se mais tardar, o caso vai ser encerrado. 

Rosalie deu um tapinha no meu ombro e abriu um sorriso terno. 

— Você foi ótimo, Liam. — Ela tirou de sua bolsa um cartão preto cromado e me entregou. — Se te chamarem aqui novamente, você me liga na hora. 

Eu assenti a tempo de me virar e ver Devon e seu pai trocando um olhar profundo. Devon suprimiu um sorriso e Thomaz apenas balançou a cabeça. Thomaz era, de fato, uma versão mais velha de Devon. Mesma pele branca e lisa, mesmos cabelos escuros, mesmos olhos azuis. Mas, enquanto Devon se vestia com uma camisa branca e jaqueta de couro preta da mesma cor que suas calças, Thomaz ostentava uma terno bem passado, cinza com gravata azul marinho. Pelo que eu sabia, ele deveria estar chegando aos cinquenta, mas parecia ter trinta e poucos. 

— Vou levar Liam para casa. — Devon avisou enquanto ia com seu pai para a porta da frente, falando alto o suficiente para que eu escutasse. — Te vejo em casa? 

— Sim. — Thomaz respondeu curto e grosso. — Tente não fazer nenhuma merda.

Devon se virou revirando os olhos perfeitamente azuis e abriu um sorriso brilhante em minha direção. Eu caminhei em direção a saída, passando diretamente por ele, sem dar uma palavra. Mal conseguia alcançar a calçada quando o senti caminhando atrás de mim. 

— Você não ouviu que vou te levar para casa? — Ele perguntou com sua habitual confiança. Me virei para ele, mas desejei não ter feito quando fui pego por seus olhos azuis intensos. 

— Não. Você não vai. — Tentei soar firme, mas obviamente sem sucesso. Outro murmúrio baixo e sem eloquência. 

Devon tirou uma molho de chaves do bolso e clicou no controle pendurado a elas. Quase revirei os olhos ao ver  o Bugatti Chiron ser destravado na vaga ao meu lado. É óbvio que ele teria um carro que custava dezesseis fodidos milhões de dólares. Aquilo apenas me deixou ainda mais irritado. Eu estava sem comer há dois dias porque a porra do auxílio que a merda do governo me dava estava atrasado e o fodido babaca rico tinha um carro que valia dezesseis milhões de dólares! Vai ser foder, porra! 

— Eu não vou para casa com você. — Disse com mais firmeza, sendo guiando pela raiva. — Eu moro em um bairro onde um cara não entra com a porra de um Bugatti. Onde um babaca rico como você não é bem vindo. 

— Você acha que eu tenho medo disso? — Devon perguntou arqueando as sobrancelhas de uma forma irritante. Até suas sobrancelhas eram lindas. — Entre no carro, Black. 

— Ou o que? — Desafiei em teimosia total. O sorriso de Devon cresceu. 

— Ou eu te arrasto. — Ele avisou em uma voz baixa e firme. 

Minha garganta se fechou com um bolo intransponível e como sempre fazia quando era confrontado com o pavor total, assenti mesmo sem querer, mesmo me sentindo horrível por não conseguir recusar. A palavra não simplesmente não estava em meu vocabulário quando o pavor crescia. 

DESTRUA-ME. - Saga Inevitável, Segunda Geração: Livro 2.Onde histórias criam vida. Descubra agora