19. Eu Disse Não.

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LIAM.

Eu me sentia zonzo, sem substância, caindo e caindo. As vozes ao meu redor eram abafadas, a música alta estava me enjoando. Alguém segurou meu braço com força e por um momento achei que fosse Devon, mas Devon nunca me segurava com tanta força. O copo de bebida foi tirado da minha mão; eu o tinha virado em um único gole, matando a minha sede. 

Quem é você? Quis perguntar, mas as palavras não saíram. 

Tudo era um grande borrão; senti as escadas sob meus pés, ouvi alguém dizer meu nome, não consegui responder. 

— Você me ama. — Uma voz estranha e ao mesmo tempo familiar disse-me. Eu caí sobre uma cama macia, meu corpo pesando ainda mais. 

— Dev… — Sussurrei, conseguindo passar o nome dele por meus lábios pesados. 

Minha camisa deslizou para longe do meu corpo e eu não tive forças para pegá-la de volta, para dizer não, para me levantar. 

— Eu te amo tanto. — A voz disse. Eu abri meus olhos só então percebendo que estavam fechados. Olhos marrons; aquele não era Devon. Devon tinha olhos azuis. — Eu te amo muito. 

Não era Devon. Devon era o único que me amava então quem diabos era? Mesmo que ele nunca tivesse dito, eu sabia que ele me amava. Devon era o único…

Minhas pernas deslizaram nuas pelo lençol macio. Aquilo não estava certo. Para onde minhas roupas estavam indo? 

Uma dor cortante me tomou, como se eu tivesse sendo rasgado, como se eu estivesse…  Como acontecia com Oliver quando transavamos. 

— Não. — Eu disse. Tinha certeza de que tinha dito. — Não, pare. 

Ele não parou. A dor continuou. 

— Não. 

— Não. 

— Na… 

Em algum momento minha cabeça simplesmente desligou. 

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Acordei com a dor de cabeça da minha vida, deitado numa cama desconhecida. Me sentei sentindo um desconforto ao fazê-lo e respirei fundo para afastar a dor. Flashs da noite anterior voltaram para minha mente e algo me dizia que não havia sido um sonho, mas eu os afastei. Não queria pensar naquelas coisas horrorosas, preferia fingir que estava tudo bem, que nada de ruim havia acontecido. 

— Devon? Kely? — Chamei com a voz rouca. Ambos, que estavam sentados lado a lado no chão, acordaram assustados. Porque ele estavam ali? 

— Liam! — Kely exclamou dando um passo em minha direção. Devon colocou uma mão no braço dela, um sinal claro de aviso. Minha cabeça doeu ainda mais com seu feito estridente, minha pele queimava. Talvez estivesse com febre. 

— Nos dê alguns minutos. — Não era um pedido. Kely assentiu e saiu depois de me dar um sorriso hesitante. 

Eu queria continuar na ignorância solenta, mas as imagens aterrorizantes da última noite voltaram com tudo. Eu arquejei sentindo a bile subir pela garganta. A dor, o desespero, o não sendo ignorado. Não. Aquilo não tinha acontecido, tinha que ser imaginação. 

Eu olhei para baixo, para meu peito desnudo e não precisei levantar o lençol para saber que estava nu. 

Não. De jeito nenhum. Não.  

Eu levantei os olhos para Devon, buscando seu rosto para saber que era uma mentira, mas ele apenas me encarava com ódio e dor. 

Ódio. Ele estava com ódio. 

DESTRUA-ME. - Saga Inevitável, Segunda Geração: Livro 2.Onde histórias criam vida. Descubra agora