32. Semanas.

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LIAM.

PRIMEIRA SEMANA. 

O acesso no peito foi doloroso, mas não tanto quanto as dores que eu sentia nos últimos meses; dores que estavam diminuindo a medida que o tratamento progredia. Devon ficava olhando entre a bolsa de sangue, cheia de novas células novinhas que habitariam meu corpo, e eu. Era como se ele estivesse vendo ouro sendo injetado em mim. 

O único malefício era que ele só podia assistir através de um vidro. 

Eu não tinha mais imunidade e as células novas não estavam prontas para sobreviverem caso eu pegasse alguma infecção ou doença contagiosa. Eu estava preso numa bolha, literalmente. 

— Você vai poder vê-lo quando a primeira semana passar. — Ouvi Nino dizer através do vidro. — Devon, isso não é algo que você possa ignorar. Sua presença dentro daquele quarto coloca a vida de Liam em risco. Prometa que não vai entrar sem autorização. 

— Prometo. — Devon disse com um suspiro. — Ei, cara, você ouviu? Estão nos separando. Pelo visto essas coisinhas entrando no seu sangue são mais importantes que eu. 

— Elas são novas e precisam de proteção. — Zombei. — Como está sua sobrinha?

Caterina completou três dias de vida as 10:15 da noite de hoje. Devon sorriu animado. 

— Ela é tão pequena, parece um filhote de cachorro. — Nino deu um tapa na cabeça dele. — Aí! 

— Não chame sua sobrinha de cachorro. — Ele disse incisivo. — Liam, todos os profissionais dentro desse quarto devem estar cobertos dos pés a cabeça com EPI's e você deve usar uma das máscaras descartáveis ao seu lado sempre que alguém entrar. Na primeira semana, apenas o pessoal imprescindível, ao fim da primeira semana, Devon poderá entrar, mas mantendo a distância, sem beijos, sem abraços, sem dar as mãos, até sua medula começar a produzir os leucócitos. Isso não é negociável, sua saúde tem que vir em primeiro lugar. Estamos entendidos?

— Sim, senhor. — Eu concordei. — Se o Devon tentar entrar eu me jogo da janela. 

Nino bufou, mas me lançou um olhar de aviso antes de sair do quarto. Devon continuou no corredor fechado ao lado quarto; até o corredor tinha uma porta e era isolado do restante do hospital. 

— Bom, pelo menos o vidro não é a prova de som. —  Eu disse tentando achar o lado bom da situação. Devon revirou os olhos. 

— É uma merda não poder ficar aí com você. Seu braço está doendo?

— Não. Estas são células felizes e cheias de vida, elas não doem. — Eu estava apenas tentando fazer graça, mas minha voz embagou no final. — Eu acho que estou sensível. 

— É claro. Você era um paciente terminal há poucos dias e agora vai viver uns oitenta anos. — Devon disse encostando a testa contra o vidro, um misto de alegria e emoção em seus olhos azuis. — Você vai viver e ter um…

— Nino te contou? — Eu perguntei com uma respiração dura. Ele havia prometido que não contaria a Devon. 

— Não, ele se recusou e aí eu descobri por mim mesmo. — Devon franziu os lábios. — Eu sabia que você não queria que eu soubesse, então… 

— Eu passei semanas mentindo para você e você sabia que eu estava mentindo? — Perguntei com indignação. Devon deu de ombros. 

— Bom, nós mentimos um para o outro. — Meu namorado soltou um suspiro exagerado. — Não vamos mentir mais, ok?

DESTRUA-ME. - Saga Inevitável, Segunda Geração: Livro 2.Onde histórias criam vida. Descubra agora