Stella
Minha preocupação com Dylan me rendeu uma angustia sufocante que mal pude cessar. Não podia nem compartilhar os fatos com alguém, nem mesmo com minha mãe, pois não sabia o quanto a privacidade dele isso invadiria.
Não descartando o fato de que ela poderia ser uma impostora, o que era uma hipótese mínima pois apesar das mudanças do tempo ela era inegavelmente a mesma das poucas fotos que vi.
Quando ele não apareceu na escola, estando tão perto das provas finais, foi de se causar preocupação não só em mim como em todo nosso grupo de amigos que cobravam de mim uma justificativa. No automático, acabei dizendo que ele não estava se sentindo bem.
Isso se comprovou quando ele me atendeu na porta. Ir pra sua casa foi a primeira coisa que fiz assim que sai da escola, e minha intuição estava totalmente certa.
Ele estava com a mesma camiseta de ontem, usando o mesmo moletom que usou no sábado e com o cabelo totalmente sem despentear. Notei também os olhos inchados. Esse era um estado dele que eu desconhecia.
- Não precisava ter vindo. Eu estou bem. - ele disse dando passagem para que eu entrasse.
- Você não está, e nem precisa. Mas também não vou te deixar sozinho. Ainda mais não tendo certeza se você se alimentou... ou tomou banho.
- Não precisa bancar a mãe. Aparentemente eu tenho uma agora. - ele riu, sem nenhuma graça.
- Dylan...
Dando de ombros, ele se jogou no sofá.
Caminhei até a cozinha na intenção de preparar algo, e sob a pia se revelou uma garrafa de vodka pela metade. Rapidamente a peguei e com pisos forte fui até ele.
- É assim que pretende resolver as coisas? Está indo pelo pensamento fútil de que bebida realmente cura alguma coisa?
- É só meia garrafa Stella, não surta.
Ri com ironia.
- Há milhões de forma de resolver isso, de ficar tudo numa boa e não recorrer a uma anestesia temporária. Ir amanhã lá...
- Eu não vou. - disse ele me cortando.
Fechei a boca e uni as sobrancelhas.
- É assim que pretende lidar? Deixar mil questões a solta só vai fazer com que se afunde mais.
Ele se levantou do sofá com um semblante sério e com a postura ereta, olhando bem nos meus olhos.
- Ela não existia há 24 horas atrás e vai continuar não existindo pra mim. Ponto final. Me desculpe mas nada que diga vai me fazer mudar de ideia, essa é minha escolha e ela vai prevalecer.
- E acha que assim vai ficar bem?
- Vou. Só me dá um tempo. Meia garrafa de vodka não é o fim do mundo.
Meia garrafa. Algo me dizia que se eu olhasse o lixo encontraria mais que isso.
Ele parecia decidido, e eu não queria discutir com o minimo de álcool no seu organismo.- Se é assim, tome um banho e va jantar lá em casa.
Peguei a minha bolsa e sai sem esperar uma resposta.
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Liz
Para ajudar um ao outro com revisão de conteúdo, Alex foi até minha casa. Não escondeu seu vislumbre e não deixou com que começássemos antes que eu lhe mostrasse cada canto.
- E você quis ir pra minha casa pra fugir disso? Chega a ser piada. - ele disse assim que chegamos no meu quarto.
Ele continuou olhando cada detalhe, e me lançou um olhar como pedido pra ir mais afundo e abrir as gavetas da escrivaninha.
- Onde está escondendo?
- O que? - perguntei jogada da cama mexendo no celular.
- Você sabe... - ele se virou pra mim sussurando - as drogas.
Tornei meu olhar para o celular antes de responder.
- Elas não estão mais aqui.
- O que fez com elas? - ele disse enquanto finalmente se sentava no carpete e tirava os livros da mochila.
Me levantei e me sentei diante dele.
Alex repetiu a pergunta em um novo tom ao ver que eu não o havia respondido.
- Eu estava entediada e sozinha.
- E achou que se drogar fosse uma boa ideia?
- A melhor que eu já tive. - disse sem evitar abrir um sorriso com as lembranças aleatórias da outra noite. Enquanto isso, em oposto, Alex ficou totalmente sério.
- Não passou de uma experiência né? Sabe que o antidoping está chegando para as nacionais e para concorrer a bolsa.
- Eu sei, não pretendo repetir... o que é uma pena. - sorri mordendo a língua.
- Cara, você é cheia de problemas.
- E a dança é a única coisa que presta nessa vida miserável, não vou arriscar perde-la... - de repente, algo se passou em minha mente como um grande flash. - Quando será o teste?
- Olha, se pretende repetir até lá...
- Não, não é isso. - eu disse lhe interrompendo. - A previsão é que seja daqui 3 semanas, certo?
Ele fez que sim com a cabeça, mas com os olhos cerrados em desconfiança.
Fiz movimentos com os braços que nem mesmo eu entendi e que o assustaram ao terminar em uma palma.
- É ISSO. É assim que vamos desmascarar a Amy.
- Que tipo de ideia é essa? Sabendo da data é óbvio que ela vai se precaver.
- Esse é o ponto... Sabendo.
Alex imediatamente mudou a postura, se interessando um pouco mais.
- Aonde quer chegar?
Levei o dedo a boca, processando ansiosamente as ideias e hipóteses.
- Bom, nós até podemos plantar alguma coisa... Mas eu acho que o que poderia dar certo é vazar o boato para a treinadora de que há sim uso de substancias e fazer um teste sem aviso. E de urina ao invés de sangue, por que pelo menos nessa parte de biologia eu prestei atenção, da pra identificar por mais tempo.
- Essa parte do plano você fudeo no momento em que usou maconha. - Alex disse me fazendo uma careta de desaprovação.
- Certo. Mas mesmo no exame de sangue, um exame de ultima hora na segunda de manhã deixaria ela desprevenida.
- E como vamos ter certeza se ela foi em alguma festa no final de semana?
- Não vamos.
- E o boato não levantaria suspeitas?
- Relaxa, eu tenho um plano.
Meu sorriso se alargou, como se eu finalmente tivesse enxergando um futuro onde as coisas dão certo.
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Nosso ritmo
RandomNovos ares, novos amigos, novos amores. A oportunidade de um recomeço é uma aliada a vida de Stella e Liz. As relações e os impasses da adolescência são narrados na vida dos personagens que mostram na música seu valor.