Capítulo 16

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Stella

Depois de ouvir a frustração de Sunshine por mais uma vez não ir embora com ela e nem permitir que ficasse para a audição, vou com o coração palpitando até a sala do coral. Havia passado a noite anterior me preparando, e gostava da esperança e motivação que me levara até ali.
Da última vez que eu havia tido a coragem de cantar em público, depois de um longo tempo sem que isso ocorresse, o sentimento daquele momento foi único, como se uma energia mágica circulasse pelo meu corpo e saísse por minha voz, e aquilo ser o melhor de mim esbanjado de forma pura. Não posso afirmar que eu tenho talento, mas se essa magia realmente existe, as pessoas sentiriam e enxergariam o quão adorável era cada nota.

A imagem do meu pai me vêm em mente. Se eu tinha a coragem de levantar da cama era por causa dele, e se hoje eu era ligada com a música também foi por uma vida de influência dele. Penso em como ele adoraria me ver cantando em apresentações como nas competições do coral, e me veio a dor de pensar em como em todo o caso eu não teria sua presença. Mais uma dor veio quando me lembro de Hugo e dos momentos em que cantávamos juntos. Ele não tinha uma voz bonita para isso, mas eu fiz com que ele aprendesse a tocar violão para me acompanhar, falávamos que íamos formar uma banda no futuro, e ele justificativa que o mundo deveria ouvir minha voz.
Era por esse potencial que pessoas tão importantes na minha vida enxergavam em mim que eu deveria ao menos tentar.

Respiro fundo. Sarah tinha um sorriso constante no rosto ao tomar posição em frente a todos para me apresentar. Olho para aqueles rostos conhecidos mas ao mesmo tempo tão estranhos, pois normalmente não passavam de borrões quais eu via nos corredores.

- Então pessoal, essa é a Stella, não sei se já ouviram falar dela como uma das novatas desse ano. - penso comigo o quão esperava que não me conhecessem, pois a idéia de ter meus nomes corrido por alguma forma nos corredores não me era muito boa, e a curiosidade seria atiçada para saber o que levariam a falar de mim como novata.

- É um prazer conhecer vocês. - digo a frase que se tornara tão habitual nas últimas semanas para cada experiência nova no colégio.

Nem todos tinham o mesmo ânimo de Sarah. Alguns forçaram um sorriso, outros nem se deram o trabalho. Mas todos passavam a imagem de profissionais, e isso podia ser intimidador.

- Está pronta? - Sarah pergunta, e afirmo com a cabeça. Posicionam uma cadeira alta de forma que ficava de frente pra todos.
Me sento, e tenho em minha direção todos os olhares da sala.
Busco todo o ar que meu pulmão era capaz de suportar. Posiciono o violão e me viro para vê-los. Todos me encaravam e esperavam.

- Pode começar. - Sarah me motivou.

Mas então a magia não veio. Me vi paralisada sem conseguir ter controle sobre o meu corpo. Eu estava preparada? Aquilo era o que eu queria? O quão me julgariam? E se eu fosse extremamente ruim perto de todos ali? Talvez eu fosse boa, mas apenas dentro da minha bolha. Eu não seria boa diante daqueles olhares que se quer me conheciam. E como eles me contariam que aquilo não era pra mim? Eu poderia evitar ouvir palavras que me marcariam para o resto da vida. Deveria continuar tendo em mente a confiança que meu pai tinha sobre mim, eu não poderia suportar a idéia de decepciona-lo.
Cada segundo que se passava no relógio da parede me assustava, e as batidas era o único som na sala. Eu simplesmente não conseguia agir, não tinha força nem mesmo para sair dali.
A maioria começava ficar impaciente, outros levam a mão a boca para segurar a risada.
Então Sarah vem até mim, passa o braço sobre meu ombro e me ajuda a levantar.
Olho para seu rosto, e diferente de todos ali, eu podia ver que havia compaixão.

- Vem. - ela diz, me levando em direção a porta.

Assim que passamos, ela fecha a porta.

- Me desculpa. Não queria fazer você passar por isso. Eu entendo que pode ser difícil para algumas pessoas. - calma, Sarah me posiciona a sua frente.

- Não, não. Eu que devo pedir desculpas. - me forço para falar. Não podia ver ela sentir que tinha alguma culpa. - Eu achei que pudesse, mas... ainda não.

- Alguém vai levar você pra casa?

- Não, eu vou a pé.

- Chama um Uber. Acho que é uma opção melhor.

Concordo com a cabeça. Ela me abraça e então volta para a sala.

Realmente chamo um Uber pois sentia que minhas pernas poderiam falhar a qualquer momento.
Quando chego em casa, corro para o quarto para desabar na cama, chorando sem ao menos entender o que tinha acontecido.
Aquilo não tinha acontecido quando eu havia cantado no porão da casa da frente para 4 desconhecidos. Mas as coisas foram diferentes quando me vi diante de um número quatro vezes maior.
Meu peito doía com o sentimento de que havia falhado comigo, com meu pai. Eu com certeza adoraria ter seu abraço agora.

Depois de me acalmar um pouco, reconheço que precisava conversar com minha mãe, não só pelo carinho materno mas pela sua formação em psicologia. Eu precisava entender o que havia acontecido e o que teria me levado aquilo. Esperava que desabafar com ela fosse o melhor a se fazer.

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Liz

Enquanto realizava as tarefas para a escola, me distraio pensando no quanto sábado estava próximo. Um arrepio percorre meu corpo pela ansiedade em pensar em que ações ele tomaria já que estaríamos a sós.
Há algumas semanas, jurava que não me renderia a ninguém tão facilmente.
Mas a forma com que ele me tratava...
Não sentia que aquilo fosse um erro.
Se ele gostava de mim, que mal teria me entregar?

Deixo os deveres de lado pois precisava absolver aquela ansiedade para o nosso encontro. Meu posiciono em frente ao closet para escolher o look perfeito, mas nada parecia bom ao bastante. Sou tomada por uma nova ansiedade quando me lembro de que ainda não tinha ido a uma balança desde minha entrada para as cheerios.
Caso houvesse emagrecido o mínimo que fosse, seria uma boa desculpa para comprar novas peças de roupa.
De toda forma, pediria o dinheiro para minha mãe amanhã mesmo. Logo depois da escola iria atrás da peça perfeita para a situação. Era um momento que ficaria para sempre em minha memória, já que seria o meu primeiro encontro que poderia ter algum futuro.

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Stella

Com certeza o apoio da minha mãe fazia a diferença, mas ainda assim me sentia fraca.
Já era tarde da noite quando pego o meu celular e fico intrigada ao ver o nome de Dylan na barra de notificações.

"Sarah me contou o que aconteceu. Você está bem?" 

Respondo sua mensagem com "Não muito, mas vou ficar."  Havia digitado agradecendo sua preocupação mas acabo apagando.
Quase de imediato já recebo sua resposta.

"Ainda não contei a Sunshine, provalmente não irei. Ficamos preocupados quando você não apareceu aqui, deveria dar alguma notícia a ela assim que possível.
Realmente espero que esteja bem. Tenha uma boa noite."

Sem responder, deixo o celular de lado. Era bom saber que tinham pessoas que em tão pouco tempo já se preocupavam comigo.
Tomo um remédio para poder dormir, e me deito na esperança de que as coisas fossem melhores amanhã.

Nosso ritmoOnde histórias criam vida. Descubra agora