Nosso ritmo

Capítulo 30

Stella

A chegada da ação de graças foi quase despercebida por mim. Era a minha primeira, já que não era uma comemoração comum do Brasil. Minha mãe sempre aproveitava o feriado para ir ao Brasil, mas uma viagem para lá só seria boa se fosse com pelo menos uma semana de folga, que nós não tínhamos por causa da escola.
Então, minha mãe acabou se animando por fazer a nossa primeira ação de Graças em família, e até minha madrinha viria para comemorar conosco.

- Quero fazer o melhor que puder. - minha mãe diz enquanto fazíamos compras no supermercado um dia antes.- Nossa família não é muito grande, então convidei a dona Amélia, seu João e o Dylan. Fiquei com medo deles não ter com quem comemorar, e acho que estava certa. Você tinha que ver a felicidade da dona Amélia, ela não conseguiu ir encontrar com a família no Brasil, deixou para o Natal.

Me sinto estranha por saber que membros fora da minha família iria passar o feriado conosco, eu não tinha me preparado psicologicamente pra isso mesmo adorando a família de Dylan. Ele nunca havia visitado minha casa, mesmo com eu quase vivendo na dele, então seria uma grande novidade.

- A dona Amélia vai levar algum prato? A senhora já provou a comida dela? - pergunto pra minha mãe quando começo a aceitar a idéia.

- Ela tem muito orgulho do que faz na cozinha, é lógico que se dispôs a levar algo. Diz que vai levar a sobremesa. Estou curiosa, você gosta não é?

Assenti que sim. Pensar na dona Amélia, como de costume me deu saudades das minhas avós, ainda mais em um feriado que é referência em tradição familiar. Mas felizmente, me confortava sabendo que em breve iria visitá-las.

- Quando nós vamos no Brasil? Quero dizer, eu sei que a senhora disse que vamos pouco antes do Natal. Mas que dia?

- Comprei passagem imediatamente para o dia seguinte a apresentação final da Liz. - minha mãe responde enquanto olhava os congelados. 

- Os presentes nós vamos comprar aqui ou lá? - pergunto com o desânimo batendo por pensar em enfrentar as lojas cheias, independente do país em que fôssemos comprar.

- Aqui. Mas não se preocupe, eu e o João Victor estamos encarregados disso. Você já tem que comprar o seu vestido pro baile de inverno, sua madrinha não vai conseguir fazer.

Levo as mãos ao rosto, fazendo massagem nas têmporas ao pensar que mais um baile estava por vir. Essa era a parte ruim das escolas americanas. Eu poderia deixar de ir, mas Sunshine não deixaria eu perder a nossa única oportunidade de festar antes das férias de inverno e da minha viagem para o Brasil.

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Liz

Dor no joelho, essa foi desculpa que usei pra justificar a minha ausência nas cheerios na semana que antecedeu o ferido de ação de Graças. Consegui convencer a treinadora de que quando as aulas retornassem eu estaria melhor, já que o que de fato tinha acontecido me parecia mais difícil de contornar e me faria correr o risco de ser expulsa.
Passei a semana evitando Amy, tinha medo de que não conseguisse mentir pra ela, e se eu contasse a verdade ela me veria como fraca.

Quando a minha mãe chega para o feriado, eu jurava que ouviria mais broncas pelo o que tinha acontecido. Mas a severidade tinha ficado com minha madrinha, já que minha mãe riu por eu ter dito que havia esquecido de me alimentar. Eu esperava que levar mais uma bronca seria o pior, mas a ausência dela me fez questionar a preocupação da minha mãe comigo.
O que me confortava era pensar que o fato dela não ter me visto em uma maca de hospital amenizou a situação já que ela só me vira com o caos amenizado, fazendo-a pensar que eu estava fora de perigo.