XV

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Ao fim daquela semana, na manhã de sábado, eles foram ao primeiro pré-natal de suas vidas. Nervosos até os ossos.

A médica era uma mulher na casa dos 50 anos chamada Marybeth Bishop - uma freiras do internato de Louis também se chamava assim, mas ao contrário da feira que tinha que ser ser tratada como Irmã Winston, a médica pediu que eles a chamassem pelo primeiro nome, ou simplesmente Mary. Sem essa de Dra Bishop.

Marybeth era uma mulher cheia de nuances. Tinha cabelos dourados e lisos e volumosos. As bochechas eram magras, o nariz comprido, o porte atlético. Era alta. Usava calça jeans e Nike Air colorido. Tinha a voz mansa mas o semblante era irônico.

Era charmosa e exalava amabilidade ao mesmo tempo que, inexplicavelmente, sua personalidade aparentava ser tão imprevisível que despertava requintes de ansiedade e medo.

Marybeth falava e perguntava as coisas em tom tão meigo que chegava a soar profundamente sarcástica e dissimulada.

- De jeito nenhum nós somos um casal. - Harry tratou de corrigi-la no meio de uma fala dela.

Marybeth passou dois ou três segundos em silêncio. Avaliando a situação. Vagou um olhar indecifrável de Harry para Louis, depois para Harry de novo, e mais uma vez para Louis. Uma sobrancelha erguida. Certo cinismo no rosto. 

No fim, ela sorriu pequeno e se deliciou num monólogo. 

- Coparentalidade, perfeito. Não se casem, meninos, vocês se arrependeriam profundamente. Eu fui casada um tempinho atrás. Tinha vinte anos. Me divorciei cinco anos depois. A melhor decisão da minha vida, nunca mais cometi o mesmo erro. Não se casem, viu.

Era um discurso retórico? Harry e Louis se olharam de soslaio e, em silêncio, entraram em um consenso de que talvez precisassem responder alguma coisa.

- Ok. - disseram quase em unissono.

- Usar camisinha também é importante no caso de relações casuais, vocês sabem (ou deveriam saber), mas parece um pouco tarde para um conselho como esse. Enfim, vamos lá...

Não era o que Louis Tomlinson esperava de uma médica de pré-natal, mas, mesmo tendo muitos motivos para criar uma antipatia por ela - principalmente por ele ter se tornado o tipo de pessoa que cria antipatia por todo mundo, gratuitamente -, por alguma razão, ele não conseguiu desgostar dela.

- Vou precisar que você faça um exame HCG. - avisou a médica depois de apalpar delicada e firmemente o abdômen de Harry.

- Eu já fiz. Tá na minha bolsa.

- Ah, você já fez. Maravilha. Podia ter me dito antes. Quantas semanas?

Harry tirava o papel de uma pasta enquanto respondia: - Quatorze.

O teste eletrônico errou algumas semanas, afinal.

- E só agora vocês vieram me procurar? Aí, aí, o que fazer com esses rapazes de hoje em dia?! Vamos, deite aqui pra fazermos logo seu ultrassom. - retorquiu enquanto corria os olhos rapidamente pelo exame.

Não muito depois, eles puderam ver e ouvir pela primeira vez. 

Preenchendo a calmaria do consultório frio de paredes azul e amarelo, cheias de desenhos - borboletas, barquinhos, bonecas, estrelas, balões, ursinhos de pelúcia -, mesa, cadeiras acolchoadas, uma maca reclinável e equipamentos eletrônicos, os batimentos cardíacos do feto ressoaram numa arritmia frenética, que teria assustado Louis se ele não tivesse sido avisado. Era perfeitamente normal.

O televisor em preto e branco fascinou o ex-soldado. A priori, a imagem transmitida não era mais do que um borrão granulado, mas depois da médica deslizar o aparelho por várias regiões do ventre-baixo lambuzado de gel,  a silhueta do bebê ressaltou-se em contornos claros.

Ain't Move On • L.S. (mpreg)Onde histórias criam vida. Descubra agora