Ain't Move On • L.S. (mpreg)

XVIII

- Cadê a Gem? 

Harry perguntou assim que se sentou no sofá da sala. Foi sua mãe quem abriu a porta e lhe recebeu. Seu pai estava no banho, tinha chegado há pouco tempo do serviço.

- Saiu. - a mãe sentou numa das poltronas à esquerda, posicionando-se de maneira que lhe permitisse olhar diretamente para ele - Disse que iria no shopping com umas amigas depois do trabalho, vão comer por lá.

Óbvio que ela daria um jeito de se livrar de uma reunião como aquela. Harry também fazia isso quando podia.

Ele só não sabia se ficava mais aliviado ou mais nervoso por ela não estar presente.

- Como estão as coisas? - sua mãe perguntou usando um tom ameno.

Assim que atravessou a porta da frente, ele viu Anne passear o olhar pelo seu corpo. Mas Harry não se entregaria assim tão facilmente - mesmo duvidando que só foi chamado com urgência pelo suposto boato de gravidez -, ele estava muito bem protegido por roupas folgadas.

E esse seria o último dia em que moletons e suéteres seriam sua preferência de escolha. Ele já não os aguentava mais. Naquela noite, todos saberiam e, na manhã seguinte, o cacheado poderia apreciar um pouco de liberdade de voltar a usar as camisas que gostava mas que apertavam a barriga cada vez mais.

- Estão uma loucura. Você sabe, a universidade e o estágio. Tem sido bem intenso. Mal posso estar para o recesso de verão.

- Ah, certo, é verdade. - ela sorriu pequeno. - Mas você está indo bem, sim?

- Estou, sim, eu acho.

- E tá tomando seus... - ela pigarrou - remedinhos... direitinho?

- Sim, mãe.

- Bom, bom... Só perguntei porque o doutor me contou que você passou lá mês passado. Achei estranho, já que a sua última consulta não foi há muito tempo atrás.

- Como assim ele te contou? Você foi ver ele? 

- Não. Não. Humm. Quero dizer, eu mandei uma mensagem para ele, para conversarmos um pouco, aí ele me contou. 

Que ótimo. Harry agora sentia calafrios só de pensar que a sua mãe estava ligando para o seu médico em busca de informações suas. Essa era uma novidade excitante. Qual seria a próxima? Trocar mensagens com a síndica do prédio? Ligar para o reitor da universidade? Tomar um café com o seu chefe? 

- Só queria saber em que pé o tratamento tem andado. Estava preocupada.

- Não precisa se preocupar. Não foi nada demais. Eu só estava, hum, querendo mudar um pouco. Por causa dessa nova rotina, de dia cheio. Queria tentar algo mais leve.

Ele limpou a garganta. A mãe assentiu, mas era perceptível que aquela não era a resposta que esperava. Ela queria mais.

O universitário tratou de desviar o foco da conversa o máximo que fosse possível.

- Tem trabalhado muito esses tempos? - perguntou ele.

Sua mãe era costureira. Fazia costuras trabalhadas. Há sete anos tinha deixado o emprego de meio turno numa fábrica de estofados para se dedicar exclusivamente aos próprios trabalhos. 

No geral, seu negócio ia bem, mas a rotina em torno dele era instável. Havia períodos em que Anne ficava sem trabalhar por semanas e havia períodos em que ela só conseguia comer duas vezes por dia, isso se Harry ou Gemma a lembrassem.

A sua família não passava por muitos apertos financeiros, pelo menos não mais do que a maioria das famílias passavam. O pai tinha um emprego estável, Gemma também. Anne só se acabava em trabalho porque realmente gostava.