epílogo

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O verão declina mas o resplendor do céu azul-turquesa ainda não. Harry encara de olhos cerrados a limpidez celeste que se estende pelo horizonte adentro. Quase não há nuvens. 

Sente o beijar da brisa no rosto. Ela também se embrenha por entre seus cabelos e os desgrenha. Uma de suas mãos está úmida pelo contato gélido com o copo de sorvete. A grama áspera pinica sob as pernas cruzadas em posição flor-de-lótus.

Acima das vozes agudas e infantis, ele abre a boca apenas quando Glenn lhe faz uma pergunta ou comenta algo. A maior parte do tempo é passada num agradável  silêncio.

As sensações corpóreas suspendem-no temporariamente da realidade. Por alguns segundos, a brisa, o toque do sorvete e do solo áspero e irregular que estremece quando um veículo pesado atravessa as vias ali perto é tudo o que existe para ele. Seu mundo, por poucos minutos, se resume apenas à sensibilidade de tudo o que é tocado por ele, ou do que nele toca.

O estado meditativo, dissociativo é interrompido pelo chamado de Pearl.

- Mama! Ajuda!

As perninhas da garota aceleram os passos que a trazem para ele. Quando o alcança, ela se joga sobre ele, enlaçando os braços ao redor do seu pescoço com toda a força que possui. A mão livre dele é ágil em não permitir que sua euforia desregrada a desequilibre, tratando de tomá-la no colo.

Os filhos de Glenn, igualmente agitados, também correram até eles, mas apenas o mais novo, Ryan, procurou pelo conforto dele. 

Um nervosismo risonho domina as faces das crianças, incluindo a de Pearl.

Denuncia de quem andou aprontando.

- O que foi, meu amor? - Harry quer saber.

- Uma abelha grande queria me pegar!

- Eram duas! - Ryan afirma - Eu vi! Eram desse tamanhão assim! - ele demonstra com as mãos espaçadas no ar.

Um ingênuo e divertido exagero infantil. O tamanho demonstrado jamais fora visto em nenhuma abelha do mundo, Harry supõe. Os adultos não conseguem evitar um risinho.

- Desse tamanhão? - choca-se ele - Meu pai do céu, não era só uma abelha, então, era um monstro… Está vendo, Pearl? Foi por esse motivo que eu disse pra vocês não ficarem muito perto do canteiro. É onde os insetos, os bichinhos moram. Se eles forem incomodados, podem machucar.

- É! E vai doer muito, né? - o mais velho, Dave, pergunta e Harry concorda - Eu avisei, mas eles não quiseram me ouvir…

- Mas, mas - a garotinha retruca - eu só queria ver as florzinhas… e queria pegar uma pra você.

Styles lança para o amigo um olhar de "como eu posso aguentar isso?".

 - Meu amor - ele desliza a mão pelo cabelo anelado dela - Eu já fico muito, muito feliz só de saber que você queria me dar uma flor - as palavras fazem-na sorrir. Ele deposita beijos em sua testa e bochecha - Obrigado por isso. Por querer me dar uma flor. E por ser a menina mais preciosa do mundo todo.

Contente, meio tímida, enquanto a mãe inala o aroma do seu cabelo, a garotinha assente e junta seu queixo ao pomo... A quietude de repente se apodera das crianças. Harry leva a colherzinha descartável em direção à boca de Pearl, que a escancara para desfrutar do sorvete. 

No entanto, assim como o estado meditativo de Harry, esse também não se estende por muito tempo.

Tão logo Ryan deixa do colo Glenn para brincar com o irmão. A garotinha os observa risonha, a agitação crescendo e exalando de si. Instantes mais tarde ela também deixa o colo de Harry lhe perguntando se ele quer ver o que ela sabe fazer. Ele, animado, diz que adoraria. Ela então começa a saltitar ao redor de si mesmo, as mãozinhas fechadas e apontadas para o céu. 

Ain't Move On • L.S. (mpreg)Onde histórias criam vida. Descubra agora